NÃO É SÓ NO NORDESTE

 

Foto: Reprodução


 

Juventus, centenário clube paulista, sem calendário em 2025



 

Há muito clube de tradição no Brasil passando por dificuldades, ameaçados de fechar as portas. Para quem pensa que esta situação só atinge clubes de regiões menos privilegiadas do País, como o Nordeste, é interessante ler esta reportagem publicada pelo jornal DIÁRIO DE S. PAULO, que transcrevemos, sobre um dos mais tradicionais clubes paulistas:    

“O Clube Atlético Juventus, um dos times mais tradicionais da cidade de São Paulo, confirmou que não participará de nenhuma competição oficial em 2025. Pela primeira vez em mais de duas décadas, o “Moleque Travesso” ficará ausente até mesmo da Copa Paulista, torneio que historicamente serve como espaço de desenvolvimento e vitrine para atletas e clubes paulistas.

A decisão marca o auge de uma crise estrutural e política que se arrasta há anos nos bastidores da agremiação. Oficialmente, a diretoria atual atribui a paralisação a um processo de reestruturação administrativa e técnica, com foco em um suposto planejamento para retorno competitivo em 2026, na Série A2 do Campeonato Paulista. O anúncio ocorre logo após a eliminação precoce do time na edição de 2025 da A2, quando terminou em 11º lugar.

Apesar do presidente do clube, Dilson Tadeu dos Santos Deradeli, alegar contenção de gastos com o futebol profissional, o Juventus terá 12 jogadores profissionais sob contrato e sem ter onde atuar no segundo semestre. Quatro são veteranos que tiveram lesões na Série A2, renovaram para se recuperar fisicamente e estariam aptos para atuar na Copa Paulista, já os outros oito são promessas da base que foram profissionalizados e tinham expectativa de serem aproveitados no elenco.

Os atletas não devem ser emprestados para outros clubes e vão ter férias prolongadas até o Campeonato Paulista de 2026. Outra situação que escancara a crise interna é a categoria de base: cerca de 15 jovens, com contratos longos, foram dispensados nas últimas semanas e contratados sem custos por clubes de divisões superiores, como foi o caso do zagueiro Guilherme Morais, titular da base juventina e parte do elenco profissional na Série A2 do Paulista. Dispensado no fim de março, foi rapidamente contratado pelo Criciúma/SC, que disputa atualmente a Série B do Campeonato Brasileiro.

Por trás da paralisação, está em curso um intenso debate interno sobre o futuro da equipe profissional. O clube analisa a criação de uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF), que prevê a transferência da gestão do futebol para uma nova empresa, com possibilidade de negociação de ações com investidores. O projeto é alvo de polêmica dentro do clube, sobretudo pela iminente perda de controle direto sobre as decisões esportivas e financeiras da instituição.

A suspensão das atividades esportivas ocorre justamente no ano do centenário do Juventus. Fundado em 1924, o clube completa 101 anos no próximo dia 20 de abril, mas atravessa este marco histórico sem elenco, sem calendário de jogos e com sua identidade esportiva em xeque.

A eleição que definirá o próximo comando do clube está marcada para o dia 23 de abril e será decisiva para os rumos da instituição. Duas chapas disputam a presidência com visões distintas: uma favorável à transformação em SAF e outra que defende a manutenção do clube como associação tradicional, com foco na reorganização interna e busca por novos modelos de sustentabilidade.

Enquanto isso, o estádio da Rua Javari permanece silencioso. Arquibancadas vazias, calendário zerado e um futuro indefinido. O Juventus da Mooca, que já foi símbolo de resistência e tradição no futebol paulista, enfrenta agora o desafio mais profundo de sua história: continuar existindo como clube de futebol.


Comentários