MUNDO DA BOLA-Lenivaldo Aragão

 

Charge: Reprodução Clériston

 

 



 

A PRIMEIRA GRANDE ENCRENCA DE ALMIR, O PERNAMBUQUINHO

 



Em dezembro de 1956, o Sport bicampeão pernambucano, fez uma rápida viagem a São Luís, a bela capital maranhense, para realizar dois amistosos. Jogou sábado e domingo contra o Maranhão Atlético Clube, o MAC, para o povão, e contra o Sampaio Corrêa.

O técnico argentino Dante Jorge Bianchi, incluiu na delegação um garoto que andava pintando o sete no Campeonato Juvenil, o Sub-20 de hoje. A turma que madrugava nos estádios aos domingos para ver os jogos da turma miúda, que começavam às 8 horas, falava muito bem dele. Era Almir, mais tarde apelidado como Almir Pernambuquinho.

Ainda meio imberbe se consagraria na grande equipe do Vasco daquela época, chegando à Seleção Brasileira e atuando com brilho e muita raça na Argentina (Boca Juniors) e na Itália (Fiorentina e Genoa). No Brasil, além do Vasco e da Seleção, foi do Santos, no tempo de Pelé, Corinthians, Flamengo e América-RJ.

Apesar da técnica refinada, a ponto de ser apelidado de Pelé Branco, Almir se tornou famoso mesmo pela valentia com que encarava os adversários.

Só para ilustrar, Laxixa, que, como ele foi revelado pelo Sport, passou rapidamente pelo Vasco, mas resolveu voltar, com saudade de casa. Em pleno vestiário, em meio a uma porção de cobras criadas, como os campeões do mundo Beline e Orlando, Almir apresentou assim, o recém-chegado: “Pessoal, esse é meu amigo de escola e de pelada de bairro (Madalena) onde a gente morava, no Recife. Vai ficar aqui conosco. Qualquer coisa com ele eu entro”.

Não chegou a ser profissional no Leão porque fugiu para defender o Vasco, levado às escondidas pelo olheiro Cier Barbosa.

Voltando ao Maranhão, contra o MAC, na estreia, empate por 1 x 1. No dia seguinte, o poderoso Sampaio Corrêa. O árbitro era Antônio Bento, mais tarde presidente do próprio Sampaio e deputado maranhense.

Estádio lotado, o Sport jogava bem, tendo conseguido abrir o placar. A Bolívia Querida foi à luta. A certa altura, o juiz marcou um pênalti contra os visitantes. Os jogadores do Sport acharam que não tinha havido a infração e passaram a acossar o homem de preto, que insistia em apontar a marca da cal, como se dizia.

Para a felicidade de Dante Bianchi e sua turma, o pênalti foi desperdiçado. Chute para fora, o que causou muita irritação entre os torcedores e nervosismo na equipe do Papão do Norte.

No segundo tempo, o Sampaio partiu para cima, e o Sport resistia. Houve gol pra lá e gol pra cá. Eis que o árbitro assinala outro pênalti contra os pernambucanos. Não precisa dizer como foi a reação da turma do Leão. Pinheirense, um dos componentes da linha média do Sport, um maranhense fino, que fazia pouco tempo havia sido contratado pelo clube da Ilha do Retiro, procurou argumentar com Antônio Bento, seu velho conhecido dos gramados locais, protestando contra a marcação da penalidade máxima. Capitão do time, nascido na cidade de Pinheiro, ninguém esperasse uma reação dele fora dos limites éticos, principalmente no Estado natal. Pinheirense era educadíssimo.

Foi quando o intrépido Almir entrou em cena e disparou um soco na boca do árbitro. Tremendo sururu estava se iniciando no Estádio Nhozinho Gomes. Jogadores do Sampaio tomaram as dores de Antônio Bento e partiram para cima do Pernambuquinho, que já tinha ao seu lado o goleiro Carijó, um alagoano de compleição forte, pai dos também futuros goleiros Washington e Wellington, tendo este herdado o apelido do pai. Quem chegou junto também foi o atacante Ilo, o popular Ilo Doido, parrudo e disposto a proteger “o menino”, como Almir era tratado.

Uma parte da torcida invadiu o campo. Agora era todo o time do Sport – titulares e reservas – que entrava na dança. “Só queremos o oito (Almir) e o sete (Ilo)”, dizia um dos invasores. É que os dois distribuíam bordoadas a perder de vista em quem aparecesse no pedaço. Diante da ameaça, todos os jogadores do Sport tiraram a camisa, dificultando a identificação.

A situação só foi aliviada quando a Polícia Militar adentrou o gramado e deu proteção ao trio visado pela galera: Almir, Ilo e Carijó. Ainda faltava algum tempo para o jogo terminar, mas a partir dali a bola não rolou mais. Enquanto isso, com a boca sangrando, Antônio Bento, coitado, deixava o estádio à procura de uma urgência odontológica.

Almir, teve, assim, sua estreia em conflitos de maior porte, ele que estava acostumado a encrespar com jovens ainda em formação, como ele.

A equipe rubro-negra seguiu para o hotel sob proteção policial, e Almir foi proibido de botar o pé na calçada, a não ser no dia seguinte, para entrar no ônibus, na hora de seguir para o aeroporto.

Quando o jogo foi interrompido, o Sport vencia por 2 a 1 e foi esse o placar que ficou. Gols de Ilo e Moacir Bueno, contra, para o Sport, e Pirrita para o Sampaio. O time rubro-negro foi este: Carijó; Bria e Osmar; Zé Maria (Itamar), Pinheirense e Jaminho; Ilo, Claudinho, Ênio (Almir), Lascinho e Eliezer.

Comentários