LENIVALDO ARAGÃO
Tempo de carnaval, mesmo com o
recesso forçado de velhos foliões é bom lembrar algumas figuras do futebol que
eram aplaudidas no campo, fazendo o que queriam com a bola. Aplausos que se
estendiam pelas ruas do Recife e Olinda, devido à habilidade com que alguns,
durante o Carnaval, faziam o passo acompanhando troças, blocos e clubes.
Tempo das mais diferentes
manobras com os pés e com o corpo, tudo improvisado, como no futebol, aprendido
com o que dava na cabeça, sem um ensinamento básico.
Um desses personagens era o ponta-esquerda
Mainha (Sport, Santa Cruz e Náutico), cuja facilidade para driblar levou o
técnico Ricardo Magalhães, do Santa Cruz, em 1960, a apelidá-lo de Bailarino.
No tempo de Mainha cometia uma
heresia quem falasse em jogo de futebol no período carnavalesco. A não ser para
a organização de uma pelada na base da brincadeira, com papangus, catirinas e
palhaços, que terminava em água que passarinho não bebe, aos borbotões.
Os profissionais da bola eram
liberados no Sábado de Zé Pereira, depois de uma pelada, geralmente com os
jogadores vestidos de mulher, com pintura, batom etc. E muita grea dos
torcedores nas arquibancadas. Antes de sair para a gandaia, só voltando na
Quarta-Feira de Cinzas, e às vezes na quinta, recebiam senhas para comparecer
aos bailes oferecidos pelo clube a que pertenciam, uma vez que o carnaval de
salão era muito forte.
Mainha, um pacato torcedor do
Santa Cruz, que hoje acompanha futebol a distância, deu os primeiros passos no
futebol para valer nos jogos de bola nas praias de sua cidade natal. Logo vestiu a camisa do Sport do Sport, como
juvenil, na época em que Almir Pernambuquinho, Maurício, Geca, os goleiros
Manga e Renildo e muitos outros começavam a aparecer. Ainda encantou os torcedores
de seu Tricolor e do Náutico.
Folião olindense de raiz,
Mainha se gaba de ter participado da brincadeira que deu origem ao tradicional
desfile das Virgens de Olinda, em que homens participam trajados de mulher. Nas
ladeiras e ruas estreitas da Marim dos Caetés, acompanhou muitas agremiações
carnavalescas, como a famosa Pitombeira dos Quatro Cantos.
FREVO PARA MINEIRO VER
Mainha integrou a delegação de
Pernambuco no Campeonato Brasileiro de Seleções de 1959, cuja parte final foi
realizada em 1960.
O técnico era Gentil Cardoso, que
se sentia orgulhoso em divulgar coisas pitorescas de seu Estado natal e do Brasil,
isso quando estava no exterior.
Pelo que sei, a primeira vez
em que os jogadores da Seleção Brasileira cantaram o Hino Nacional, naquele
cerimonial que acontece antes dos jogos, foi em 1959, quando a apelidada
Seleção Cacareco, de Pernambuco, representou o Brasil num Campeonato
Sul-Americano Extra, em Guayaquil, Equador. Aconteceu na estreia, contra o
Paraguai. Era uma novidade e os jogadores foram ovacionados pelo estádio
inteiro. A partir dali os canarinhos não se limitaram mais a, simplesmente, ouvir
a execução da música que representa nosso País, passando a interpretá-la.
Semanas depois, no interior
mineiro, na véspera de um jogo de Pernambuco contra Minas Gerais, pelo
Campeonato Brasileiro de Seleções, o famoso treinador designou Mainha para
mostrar, num programa de auditório de uma rádio de Juiz de Fora, como o
pernambucano faz o passo para valer.
Ao som de um frevo rasgado
tocado pela orquestra que animava o programa, o Bailarino botou para quebrar, tendo
sido delirantemente aplaudido após ter demonstrado sua aptidão no vaivém do
festejado ritmo pernambucano. Deixou o mestre Gentil e os companheiros da
equipe orgulhosos pelo seu desempenho.
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