FREVO, FUTEBOL, PASSO E SOMBRINHA (07)

 

Ex-craque Mainha, em Minas Gerais, numa demonstração de seu lado frevista, observado de perto por Geraldo (Ferroviário-PE, Náutico, Sport, Palmeiras e Corinthians) e Aramis Trindade, jornalista. (Foto de Murilo Guedes, DIARIO DE PERNAMBUCO).


 MAINHA: SHOW DO CRAQUE FOLIÃO



LENIVALDO ARAGÃO


 


Tempo de carnaval, mesmo com o recesso forçado de velhos foliões é bom lembrar algumas figuras do futebol que eram aplaudidas no campo, fazendo o que queriam com a bola. Aplausos que se estendiam pelas ruas do Recife e Olinda, devido à habilidade com que alguns, durante o Carnaval, faziam o passo acompanhando troças, blocos e clubes.

Tempo das mais diferentes manobras com os pés e com o corpo, tudo improvisado, como no futebol, aprendido com o que dava na cabeça, sem um ensinamento básico.

Um desses personagens era o ponta-esquerda Mainha (Sport, Santa Cruz e Náutico), cuja facilidade para driblar levou o técnico Ricardo Magalhães, do Santa Cruz, em 1960, a apelidá-lo de Bailarino.

No tempo de Mainha cometia uma heresia quem falasse em jogo de futebol no período carnavalesco. A não ser para a organização de uma pelada na base da brincadeira, com papangus, catirinas e palhaços, que terminava em água que passarinho não bebe, aos borbotões.

Os profissionais da bola eram liberados no Sábado de Zé Pereira, depois de uma pelada, geralmente com os jogadores vestidos de mulher, com pintura, batom etc. E muita grea dos torcedores nas arquibancadas. Antes de sair para a gandaia, só voltando na Quarta-Feira de Cinzas, e às vezes na quinta, recebiam senhas para comparecer aos bailes oferecidos pelo clube a que pertenciam, uma vez que o carnaval de salão era muito forte.  

Mainha, um pacato torcedor do Santa Cruz, que hoje acompanha futebol a distância, deu os primeiros passos no futebol para valer nos jogos de bola nas praias de sua cidade natal. Logo  vestiu a camisa do Sport do Sport, como juvenil, na época em que Almir Pernambuquinho, Maurício, Geca, os goleiros Manga e Renildo e muitos outros começavam a aparecer. Ainda encantou os torcedores de seu Tricolor e do Náutico.

Folião olindense de raiz, Mainha se gaba de ter participado da brincadeira que deu origem ao tradicional desfile das Virgens de Olinda, em que homens participam trajados de mulher. Nas ladeiras e ruas estreitas da Marim dos Caetés, acompanhou muitas agremiações carnavalescas, como a famosa Pitombeira dos Quatro Cantos.

FREVO PARA MINEIRO VER

Mainha integrou a delegação de Pernambuco no Campeonato Brasileiro de Seleções de 1959, cuja parte final foi realizada em 1960.

O técnico era Gentil Cardoso, que se sentia orgulhoso em divulgar coisas pitorescas de seu Estado natal e do Brasil, isso quando estava no exterior.

Pelo que sei, a primeira vez em que os jogadores da Seleção Brasileira cantaram o Hino Nacional, naquele cerimonial que acontece antes dos jogos, foi em 1959, quando a apelidada Seleção Cacareco, de Pernambuco, representou o Brasil num Campeonato Sul-Americano Extra, em Guayaquil, Equador. Aconteceu na estreia, contra o Paraguai. Era uma novidade e os jogadores foram ovacionados pelo estádio inteiro. A partir dali os canarinhos não se limitaram mais a, simplesmente, ouvir a execução da música que representa nosso País, passando a interpretá-la.

Semanas depois, no interior mineiro, na véspera de um jogo de Pernambuco contra Minas Gerais, pelo Campeonato Brasileiro de Seleções, o famoso treinador designou Mainha para mostrar, num programa de auditório de uma rádio de Juiz de Fora, como o pernambucano faz o passo para valer.

Ao som de um frevo rasgado tocado pela orquestra que animava o programa, o Bailarino botou para quebrar, tendo sido delirantemente aplaudido após ter demonstrado sua aptidão no vaivém do festejado ritmo pernambucano. Deixou o mestre Gentil e os companheiros da equipe orgulhosos pelo seu desempenho.


 


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