Sal de fruta no ferimento da foliã e bagunça no quartel
Lenivaldo Aragão
Estamos em pleno período
carnavalesco – “Quem é de fato um bom pernambucano/ Espera um ano/ E mete-se na
brincadeira”, diz o célebre frevo-canção do saudoso Luiz Bandeira. Assim sendo,
trago duas histórias relacionadas com o período, contadas pelo ex-basquetista
alvirrubro Hélio Menezes, conhecido por Hélio Picasso, no livro “Basquetebol
do Náutico, história e estórias”, que foi coordenado por este locutor que vos fala:
1) Além de jogar basquete,
estudar, namorar e fazer boemia, brincar carnaval era uma de nossas atividades
preferidas. Provavelmente, para nós era o equivalente às raves da geração
atual.
Nas festas do Náutico,
armavam-se tendas de atendimento médico na quadra, ao lado do salão da sede. Na
maioria das vezes, quem atuava como enfermeiro das tendas eram os massagistas
das equipes de basquete e vôlei.
Em um dos carnavais do
Náutico estávamos eu, Gustavo e Alceu (Valença) pulando muito, tomando muito
rum com Coca-Cola, muita vodka com laranjada e, principalmente, muito
lança-perfume Rodouro, a essência dos nossos carnavais.
Quando já apresentávamos
razoável teor etílico e etéreo, resolvemos visitar a tenda médica para
descansar. Ao chegarmos lá, encontramos Zé do Vale, massagista-enfermeiro de
plantão. Ele precisava ir ao banheiro e, sem saber do estado de nós três, pediu
para tomarmos conta da tenda.
Assim que Zé saiu, colocamos
as batas e ficamos aguardando os possíveis pacientes.
Nesse intervalo apareceu uma
moça com um corte na testa. Não tivemos dúvida; aplicamos sal de fruta Eno
sobre o ferimento e cobrimos com esparadrapo; a moça saiu feliz, com a testa
espumando, voltando para dançar, pois assim era o Carnaval.
2) Em meados de 62, o
Náutico foi disputar um torneio em Natal, no Rio Grande do Norte.
A equipe era a adulta, com
Fernando Salatiel (Lourinho), Marcelo Salatiel, Viberto Rego, Luciano Azevedo –
que, diante da precariedade do pequeno avião (era tão pequeno que primeiro
levou os atletas e depois voltou para pegar as malas), passou toda a viagem com
uma imagem do Cristo Redentor na mão -
seu irmão Fernando Azevedo (Pixoto), outros que não lembro e alguns
juvenis, entre os quais, eu, Ricardo Jerônimo e Gustavo Lima.
Ficamos hospedados em um
quartel, na frente do qual havia um clube, dos oficiais, onde estava
acontecendo uma festa de carnaval.
Todos nós pulamos muito e
bebemos razoavelmente, voltamos ao quartel, onde havia um tanque de guerra de
madeira, que tinha sido usado para um desfile de Sete de Setembro.
O que fizemos atletas? Maquiamo-nos com pasta de dente no rosto,
como se fôssemos soldados camuflados, subimos no tanque e o empurramos pelas
largas escadas do quartel, às 3 horas da manhã, gritando “guerra, guerra!”,
acordando todo o quartel.
Até hoje não sei qual a
autoridade esportiva que intercedeu junto às autoridades militares para que não
fôssemos todos presos. E no dia seguinte, ainda vencemos o jogo.
Foto: Wikipédia
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