BOLA, PASSO E SOMBRINHA (06)

 



 

Sal de fruta no ferimento da foliã e bagunça no quartel



 

Lenivaldo Aragão



 

 

Estamos em pleno período carnavalesco – “Quem é de fato um bom pernambucano/ Espera um ano/ E mete-se na brincadeira”, diz o célebre frevo-canção do saudoso Luiz Bandeira. Assim sendo, trago duas histórias relacionadas com o período, contadas pelo ex-basquetista alvirrubro Hélio Menezes, conhecido por Hélio Picasso, no livro “Basquetebol do Náutico, história e estórias”, que foi  coordenado por este locutor que vos fala:

1) Além de jogar basquete, estudar, namorar e fazer boemia, brincar carnaval era uma de nossas atividades preferidas. Provavelmente, para nós era o equivalente às raves da geração atual.

Nas festas do Náutico, armavam-se tendas de atendimento médico na quadra, ao lado do salão da sede. Na maioria das vezes, quem atuava como enfermeiro das tendas eram os massagistas das equipes de basquete e vôlei.

Em um dos carnavais do Náutico estávamos eu, Gustavo e Alceu (Valença) pulando muito, tomando muito rum com Coca-Cola, muita vodka com laranjada e, principalmente, muito lança-perfume Rodouro, a essência dos nossos carnavais.

Quando já apresentávamos razoável teor etílico e etéreo, resolvemos visitar a tenda médica para descansar. Ao chegarmos lá, encontramos Zé do Vale, massagista-enfermeiro de plantão. Ele precisava ir ao banheiro e, sem saber do estado de nós três, pediu para tomarmos conta da tenda.

Assim que Zé saiu, colocamos as batas e ficamos aguardando os possíveis pacientes.

Nesse intervalo apareceu uma moça com um corte na testa. Não tivemos dúvida; aplicamos sal de fruta Eno sobre o ferimento e cobrimos com esparadrapo; a moça saiu feliz, com a testa espumando, voltando para dançar, pois assim era o Carnaval.

 

2) Em meados de 62, o Náutico foi disputar um torneio em Natal, no Rio Grande do Norte.

A equipe era a adulta, com Fernando Salatiel (Lourinho), Marcelo Salatiel, Viberto Rego, Luciano Azevedo – que, diante da precariedade do pequeno avião (era tão pequeno que primeiro levou os atletas e depois voltou para pegar as malas), passou toda a viagem com uma imagem do Cristo Redentor na mão -  seu irmão Fernando Azevedo (Pixoto), outros que não lembro e alguns juvenis, entre os quais, eu, Ricardo Jerônimo e Gustavo Lima.

Ficamos hospedados em um quartel, na frente do qual havia um clube, dos oficiais, onde estava acontecendo uma festa de carnaval.

Todos nós pulamos muito e bebemos razoavelmente, voltamos ao quartel, onde havia um tanque de guerra de madeira, que tinha sido usado para um desfile de Sete de Setembro.

O que fizemos atletas?  Maquiamo-nos com pasta de dente no rosto, como se fôssemos soldados camuflados, subimos no tanque e o empurramos pelas largas escadas do quartel, às 3 horas da manhã, gritando “guerra, guerra!”, acordando todo o quartel.

Até hoje não sei qual a autoridade esportiva que intercedeu junto às autoridades militares para que não fôssemos todos presos. E no dia seguinte, ainda vencemos o jogo.

Foto: Wikipédia

 

 

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