BOLA, PASSO E SOMBRINHA (05)

 

Foto: Reprodução


 

 

Timbu Coroado leva timbuzada à rua no Carnaval

 


LENIVALDO ARAGÃO


 

A primeira música de que se tem notícia, feita para homenagear o Náutico, é o Timbu Coroado, surgido na década de 30 do século passado. Trata-se originalmente de um maracatu composto por três remadores alvirrubros, o pianista Edvaldo Pessoa e mais Turco, também conhecido por Carioca, e Jair Raposo

Os remadores alvirrubros tinham seu maracatu, o Timbu Coroado, que ainda hoje desfila, no domingo de carnaval, por ruas adjacentes ao clube, no bairro dos Aflitos. Antigamente o desfile era pelo centro da cidade, saindo da garagem de remo, localizada inicialmente na Rua Clube Náutico Capibaribe e depois, na Rua da Aurora, junto do Clube Almirante Barroso, onde está ainda hoje.

De maracatu passou a troça, cresceu muito em volume de foliões e atualmente já é considerado um bloco. Só que perdeu a originalidade. A música que há quase cem anos lhe serve de hino oficial, tem uma ligeira gozação aos remadores rubro-negros, com quem os alvirrubros ainda hoje se debatem nas águas do Rio Capibaribe, amado e louvado por todos os pernambucanos, principalmente os recifenses.

O pianista Edvaldo Pessoa, um dos três autores, meu contemporâneo na saudosa RÁDIO CLUBE DE PERNAMBUCO , a Pioneira, disse-me certa vez, numa reportagem:

– Compus o Timbu Coroado entre os anos 1938 e 1940, com Jair Raposo e Samuel (também conhecido como Turco), um carioca que vivia aqui e que remava com a gente. Fizemos a música a toque de caixa, na nossa garagem, que ficava junto de onde é hoje o Cinema São Luís. Era de lá que o Timbu Coroado saía. O pessoal decorou logo e saiu cantando. Foi um sucesso. Falamos em acordar cedinho porque remador treina de madrugada. Vejamos a letra:

O nosso bloco é mesmo infezado (sic)

É o timbu, é o Timbu Coroado

Desde cedinho já está acordado

É o timbu, é  o Timbu Coroado

 

Entre no passo, que esse passo é de amargar

Essa turma é mesmo boa e no frevo quer entrar

Não queira bancar o tatu
Eu conheço seu jeito, você é timbu

Esse negócio de casá, casá, casá
É conversa pra maluco
Ninguém quer se amarrar
Timbu sabe isso de cor
Casar pode ser bom
Não casar é melhor.


 

Timbu Coroado em 1942 (Arquivo do Blog)

BURUÇU EM CIMA DA PONTE


Eram constantes as desavenças entre remadores dos dois clubes, após alguma competição, com a turma se digladiando ainda dentro d’água. Essa rivalidade um dia chegou ao Carnaval. Foi em 1969. O Náutico havia sido hexacampeão pernambucano no ano anterior (1963 a 1968), tendo decidido o sexto campeonato com o Sport e conquistado um título que ainda hoje é festejado em verso, prosa, música e lorota por sua torcida. Título esse que foi perseguido infrutiferamente pelo Santa Cruz, pentacampeão em 1969-1973, e pelo Sport duas vezes, em 2006-2010 e 1996-2000. Todavia, ambos tiveram que se contentar com o pentacampeonato.

Naquele Carnaval, um torcedor do Náutico, entre muitos que acompanhavam a turma do Timbu Coroado, aproveitou uma charge publicada pelo extinto DIÁRIO DA NOITE, quando o Alvirrubro foi tetracampeão em 1966, com uma goleada de 5 x 1 sobre o histórico rival. Tratava-se de um leão miando, com o resultado do jogo decisivo em destaque. O aficionado timbu conduzia a página do vespertino da então EMPRESA JORNAL DO COMMERCIO, como um precioso e ao mesmo tempo insultuoso estandarte. Os dois maracatus encontraram-se em plena Ponte Duarte Coelho, no centro da cidade, quando alguém do Leão Coroado achou de rasgar a charge. Houve um tremendo buruçu, com gente se engalfinhando e gente correndo para sair da confusão.

Timbu Coroado, além de ser o nome do bloco alvirrubro, é um frevo-canção que durante muitos anos teve o significado de hino oficial para os torcedores do Náutico.

 

ATÉ PAI EDU

 

Em 1967, com o Náutico em pleno apogeu, a dupla Ziul Matos e Nelson Ferreira voltou a produzir um frevo-canção, feito especialmente para ser gravado pelo pai-de-santo Edu. O Alvirrubro havia sido pentacampeão, e o conhecido macumbeiro dizia-se responsável pelo feito, pois estava sendo sempre requisitado pelo técnico Duque para fazer uma ‘limpeza’ no elenco. Eis a música:

Dei o bi
Dei o tri
Dei o tetra
E o penta chegou
Ene-a-u-tê-i-cê-o, gol
É gol, é gol, é gol
O vermelho é bravura e destemor
O branco é paz e é amor
Mas as duas cores juntas
Têm uma nova dimensão
Atenção, futebol do Brasil
Ene-a-u-tê-i-cê-o
Náutico, Náutico
Náutico é pentacampeão

 

 

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