BOLA, PASSO E SOMBRINHA (2)

 

O carioca Almirante homenageou os três grandes em 1941


 

Em Pernambuco, futebol e frevo andam de mãos dadas

 



LENIVALDO ARAGÃO

 




Na Terra dos Altos Coqueiros, do Frevo e do Maracatu, o frenético ritmo que agita o povão e o futebol andam irmanados, pois são muitas as músicas compostas nesse ritmo, louvando os três principais clubes, Sport, Náutico e Santa Cruz. Outros times menos cotados também são favorecidos.

Com a aproximação de mais um carnaval, trazemos o assunto até o leitor-internauta. Nesta série de reportagens, iniciada com músicas em que o Rei Pelé apareceu com toda a pompa, procuraremos rememorar algumas composições em que o futebol aparece alto e bom som.

TÁ FREVENDO

O termo frevo, que já era usado popularmente, a partir de palavras mal pronunciadas, como “tá frevendo”, em lugar de “tá fervendo”, segundo historiadores foi inserida pela primeira vez na imprensa, através do Jornal Pequeno, em 12 de fevereiro de 1908, pelo jornalista Osvaldo de Almeida, que usava o pseudônimo de Paula Judeu.
De acordo com o médico, teatrólogo e escritor Valdemar de Oliveira, autor do livro “Frevo, Capoeira e Passo” (Companhia Editora de Pernambuco, 1971), a palavra “já bolia na mente dos carnavalescos do Recife muitos anos antes. Ainda com o ‘e’ antes do ‘r’, mas já presente”.

“O Teatro Santo Antônio, que existiu no Recife – prossegue Valdemar de Oliveira –, anunciava, no dia 4 de fevereiro de 1888, o seu ecoante, vertiginoso, fervorescente e rutilante baile de estreia”.

Afirma ainda o escritor: “Mais para nós, a palavra mágica daria todas as variantes possíveis – frevança, frevolência, frevolente, frevioca, frevar, por aí afora, entrando na fala comum, como sinônimo de barulho, de folia, de reboliço, até de confusão, de briga doméstica”.

Ritmo e dança popular, o frevo não poderia ficar alheio a outra paixão pernambucana, que é o futebol, como veremos nesta letra:

“Seja da cobrinha

Seja do timbu

Ou seja do leão

Eu não faço questão
Quero meu benzinho

Que neste carnaval

Você torça um bocadinho

Pelo meu coração!!!
Casaca! Casaca! Casaca!

Casá...casá...casá!!!

A turma é mesmo boa

É mesmo da fuzarca

No campo do amor

Pelo teu coração

Serei bom jogador

Em qualquer posição

Somente eu lhe peço

É bem pouco o que desejo

Cada gol que eu fizer

Você paga com um beijo'."

Obs.: casaca, casaca é o grito de guerra da torcida do Vasco da Gama, do Rio de Janeiro. Casá, casá é o do Sport.

É fácil deduzir dessa estrofe do frevo-canção do radialista Ziul Matos e do maestro Nelson Ferreira, que o pernambucano, mesmo durante os dias de intensa loucura carnavalesca, não esquece o futebol.

A música, intitulada “Qual é o score, meu bem?” foi gravada em 1941 pelo carioca Henrique Fóreis Domingos, o célebre Almirante (1908/1980), radialista, cantor, compositor e pesquisador da música popular brasileira.
A letra é antecedida pela narração de um gol da Seleção Pernambucana, com a bola passando pelos pés de Jango, Plínio, Marques e Wilson, até chegar a Tará, um dos maiores goleadores do futebol de Pernambuco, em todos os tempos, que balança a rede.

 

FREVOS A PERDER DE VISTA
Existe um verdadeiro manancial de composições dedicadas a Náutico, Santa Cruz e Sport, as três paixões do torcedor de Pernambuco no terreno futebolístico, mas o frevo prevalece com absoluta superioridade. Os três clubes são reverenciados com frevo-de-rua, ou frevo instrumental, e frevo-canção, duas das três categorias em que o popular ritmo é dividido – a outra é o frevo-de-bloco, de canto dolente e saudoso, lembrando as antigas marchas-rancho do carnaval carioca.
Desde 1930 têm sido feitos frevos para os times pernambucanos. Alguns compositores procuraram externar, através desse rico veio da música popular brasileira, o amor ao time do seu coração. Foi o caso de Lourenço da Fonseca Barbosa, o inesquecível Capiba, nascido em Surubim, no Agreste de Pernambuco (28/10/1904 – 31/12/1997), que gravou uma marcha-exaltação – “Santa Cruz, Santa Cruz / Junta mais essa vitória...” –, que se tornou uma espécie de hino do tricolor pernambucano.
O Santa é também exaltado por Sebastião Rozendo, por Marambá, irmão de Capiba, e pela famosa dupla Irmãos Valença – João e Raul –, que se consagrou nacionalmente com a marchinha “O Teu cabelo não nega”. Eles, são autores do hino oficial do Santa e do frevo Papa-taças: “Quem é que quando joga a poeira se levanta / É o Santa, é o Santa...”
Torcedor do Santa, mas não tão fanático quanto Capiba, o maestro Nelson Ferreira, pernambucano de Bonito (9/12/1902 – 21/12/1975) homenageou os três grandes do Recife, conforme veremos adiante.
O Náutico é o clube que detém o maior acervo musical, graças a uma série de concursos promovidos pelo dirigente Rafael Gazzaneo, um verdadeiro gigante, principal responsável pela ampliação do Estádio Eládio de Barros Carvalho.




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