O SOBRADO DE ZÉ MORAES
Como neto de José Moraes e Maria de Lyra Moraes, filho de Donina, uma das seis filhas do casal – as outras eram Josefa (Zu), Petronila (Tunia), Faustina, Erasta e Ezil, com João, Inocêncio, José Moraes Filho (morto precocemente), Floriano e José Moraes Irmão (Moraizinho) completando a prole – sinto-me lisonjeado com a solenidade a ser realizada neste domingo (22) no “Sobrado de Zé Moraes”, situado no trecho inicial da Av. Padre Zuzinha, a Rua Grande para os santa-cruzenses veteranos.
A edificação, incluída num
marcante e elogiável projeto do IHGS (Instituto Histórico e Geográfico de Santa
Cruz do Capibaribe), denominado “Memória nas Paredes”, receberá uma placa que
denota sua importância histórica. Outros
prédios que testemunham e ajudam a contar os passos dados pela cidade até os
dias atuais, certamente também serão contemplados.
Dominando um conjunto de três
casas, que serviam ao mesmo tempo de residências e pontos comerciais
(mercearia, farmácia etc.,), o sobrado tem sido, a partir do início do século
passado um ponto de referência, desde quando a hoje efervescente Cidade das
Confecções e das Gameleiras não passava de uma pacata vila pertencente ao
município de Taquaritinga do Norte.
Vivi uma boa parte de minha
infância e adolescência no domínio dos Moraes. Não conheci meu avô materno. Na
sua ida para a Eternidade, em 1942, eu tinha apenas dois anos de idade. Mas
ouvi muitas histórias a seu respeito, principalmente sobre o espírito
empreendedor e a solidariedade humana que emanava de seu ser.
Ao falar no sobrado onde muito
brinquei, não posso deixar de recordar as famosas festas de Natal e Fim de Ano,
cuja movimentação muitas vezes acompanhava de uma das duas janelas, vendo o
rodar dos carroceis e o balanço das canoas, bem como o vaivém da rapaziada e da
meninada, sem esquecer as retretas da nossa amada Banda Novo Século. E o
pastoril? Este, com os cordões azul e encarnado dividia a população. Havia
torcedores acirrados, como se fosse um clássico de futebol.
Tempo de enchente no Capibaribe,
logo atrás, era dar um tempo para a água barrenta baixar, para os mergulhos,
sempre acompanhado de um adulto, correndo com outros meninos e brincando de
galinha d’água. Ou pescando piabas em panelas ou garrafas, nas quais era espalhada
alguma porção de farinha para atrair os inocentes peixinhos.
À noite ouvia-se o coaxar dos
sapos espalhados pelos poços de nomes poéticos e inesquecíveis, como Poço
Grande, Da Bicuda, da Professora, da Cabra, da Cebola. Lá na outra extremidade
do rio, vindo de São Domingos havia os mergulhos nos Coqueiros e mais para cá,
na Pedra do Mufango, perto da residência de Seu Vivi, pai de Lu, bastante
desenvolvido fisicamente em relação à pixotada.
E o banho das moças? Coitadas,
só podiam se entregar à plácida correnteza, à noite, com o frio rachando,
formando um grupo, todas vestidas normalmente, como se fossem andar pela rua.
Entravam por um dos becos que demandavam o rio, e um fiscal, geralmente
familiar de uma delas, ficava de plantão para evitar que algum curioso se dirigisse
à margem do nosso Capibaribe.
Parte dessa narração
certamente está incrustrada nas paredes do velho sobrado de Zé Moraes, como
testemunha, em pedra e cal, da história.
José Moraes (E) em atividade no comércio do Recife (Arquivo pessoal) |
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