Zé Neves e Henrique, de camisa branca, brindam na Cristal, e eu por perto |
O PERU DE HENRICÃO
Lamento ter que falar sobre a
ida para a morada eterna do cronista esportivo Henrique Queiroz, ocorrida na
madrugada desta sexta-feira (29).
Fomos integrantes da equipe
esportiva do Jornal do Commercio durante muito tempo, ele como um aplicado
repórter e eu, subeditor e editor. Por brincadeira, chamava-o de “Henrique
Queiroz, o repórter de todos nós”.
Acerca de Henrique há muita
coisa a contar, a maioria hilariante. Acompanhados de uma cervejinha sempre
conversávamos sobre futebol, nossa matéria prima. O Brother – era assim que ele
tratava os amigos – tinha algum embasamento cultural e os assuntos às vezes
divergiam, principalmente para a História de Pernambuco, com foco na invasão e
na expulsão dos holandeses e nas revoluções de 1817 e 1824 (Confederação do
Equador). Como lembra o companheiro Claudemir Gomes, Henrique, esquerdista por
convicção, chamado pelos jogadores do Sport, clube que cobria, de “o comunista”,
jamais quis impor seus pontos de vista a quem quer que fosse, ao mesmo tempo em
que nunca deixou de entrar numa cervejada porque o parceiro era do outro lado.
Depois desse prólogo vou
contar uma história que jamais esqueci, envolvendo Henrique Queiroz e outra figura
marcante no JC.
Aconteceu num fim de ano, na
minha primeira passagem pelo jornal, ainda na fase das vacas magras, antes de
João Carlos Paes Mendonça baixar por lá. Além do futebol, Henrique cobria o
automobilismo.
Véspera de Natal, a noite já
havia chegado, só alguns gatos pingados na Redação, eu, inclusive. Aparece um
mensageiro com um caprichado “peru de Natal”, muito bem embalado, enviado pela
turma das corridas, endereçado a Henrique. O presente foi parar na mesa de
Valdomiro Arruda, o cacique que dava as ordens na tribo. “Cadê Henrique?”,
perguntou Arruda. Àquela altura ninguém sabia em que bar da Cidade Maurícia, o
homem seria encontrado, posto que tinha largado muito tempo atrás. E havia
muita gente com olhos de cobiça passando pela mesa de Arruda, situada na entrada
do salão.
Josa Macedo, repórter de amadorismo,
categoria em que enquadrávamos o automobilismo, assumiu a tutela do presente. “Sou
da mesma equipe dele, tenho mais facilidade de falar com ele”, argumentou. Dito
isso, arrebatou o infeliz galináceo e colocou-o dentro do seu armário. O tal
peru seria devorado horas depois, a vários quilômetros do JC, no bairro do
Janga, em Paulista.
Antes da partida da inditosa e
apetitosa ave para seu improvisado destino final, numa das mesas do saudoso
restaurante Dom Pedro, eu diverti a turma, da qual Josa fazia parte, criando
uma música dentro da categoria “grea geral”: “Roubaram o peru do Henricão / E
começou a confusão / O peru voou, voou, voou / E Henricão chorou, chorou / chorou
/ Quando se lembra, o Henricão se zanga / E o peru foi bater no Janga”.
Dois dias depois, ao saber do sequestro
do peru, Henrique embora data vencida aderiu à brincadeira, divertindo-se com
minha desarrumada composição musical e com o arrebatamento de seu brinde para
mesa nunca dantes programada.
Sabia que naquelas circunstâncias,
quando nem celular existia, com ele longe da Redação, o pobre do peru era uma
causa perdida. E começou a rir da própria desgraça e da reação de Josa, que evitou
que a ave fosse raptada por alguma mão estranha.
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