(Foto: cinegrafista Índio) |
O dia em que o repórter Mala driblou Ronaldo Fenômeno
O repórter e
apresentador Luiz Muniz, o popular Mala, que acaba de nos deixar aos 7o anos, certa vez,
com sua conhecida lábia, conseguiu botar no bolso Ronaldinho Fenômeno, quando o
grande atacante jogava na Europa e fechava o comércio, onde chegasse.
Naquele tempo,
o intrépido repórter, um porra- louca que não tinha limites para realizar seu
trabalho a qualquer hora ou de qualquer jeito, depois de ter atuado na Globo
Nordeste possuía uma produtora de programas esportivos em sociedade com o
também homem do rádio e da televisão Roberto Nascimento. A dupla comprava
horário numa emissora de TV para apresentar suas produções.
Certa vez,
acompanhado do cinegrafista Índio, Luiz Muniz pegou um avião e foi bater na
Europa. O objetivo era fazer uma série de entrevistas com jogadores
brasileiros, principalmente pernambucanos, que atuavam na Península Ibérica.
Em Portugal
foram entrevistados, entre outros, Jardel, Sérgio China, Marco Aurélio
(goleiro), Ragne, Tanta, Arlem, Fernando, ex-Vitória e Santa Cruz, fundador e dono
do Vera Cruz de Vitória de Santo Antão. Trata-se do mesmo Fernando que ajudou o
Santinha a virar a folha numa decisão que os tricolores já consideravam perdida, contra o Náutico, em 1993.
Exceto o
cearense Jardel, todos haviam saído de Pernambuco para jogar na “santa
terrinha”. Portanto, eram velhos conhecidos do repórter e estavam a par de sua
maneira aberta e cheia de grea, de levar o
papo com todo o mundo.
Cada entrevistado
recebia simbolicamente um alto-falante de carro, como brinde, que era logo
recolhido pelo entrevistador, assim que a entrevista se encerrava. A ‘vítima’
não escondia seu espanto, mas terminava concordando, diante da zona que Mala
fazia. Sérgio China chiou muito, mas terminou indo na onda.
Na Espanha foram
ouvidos por Mala, o pernambucano Rivaldo, na época defendendo o La Coruña;
Roberto Carlos, do Real Madrid; e Ronaldo Fenômeno, ídolo no Barcelona.
Já rodando
pela Espanha, Mala se deslocou para Santiago de Compostela, atrás de
Ronaldinho, como muita gente ainda tratava jogador. O Barcelona enfrentaria o Compostelano,
pelo Campeonato Espanhol, e aquela era chance de Mala e seu acompanhante. Ou
aproveitaria a ocasião ou esqueceria a grande estrela do futebol mundial.
A dupla Mala e
Índio botou banca e hospedou-se no requintado hotel onde estava a delegação do Barça.
Todavia, de Ronaldo, só a distância. Os dois andares ocupados pelo time catalão
eram indevassáveis. A multidão, lá embaixo, contentava-se com um simples aceno,
dado da janela, pelo Fenômeno.
Com a ajuda do
ex-jogador do Íbis e empresário de futebol Robério Lopes, que era bem
relacionado com um dirigente do clube da Catalunha, Muniz conseguiu uma
aproximação com o craque, assim que a equipe chegou ao estádio, no dia do jogo.
Ronaldinho não queria dar entrevista.
– Meu amigo,
há uns 50 jornalistas aí fora querendo me entrevistar. Se eu for atender a cada
um individualmente não jogo futebol.
O repórter não
deu tempo para o atacante respirar:
– Mas
Ronaldinho, eu vim de tão longe, lá do Sertão de Pernambuco pra te
entrevistar... O que é que eu vou dizer quando voltar?
O jogador teve
pena do “pobre coitado” e resolveu atender-lhe. Como o artilheiro estava de
cabeça raspada, Muniz foi logo zonando:
– Mas que careca
linda...
Alguns
dirigentes e seguranças do Barcelona que acompanhavam Ronaldo, desmancharam-se
em largos sorrisos, o mesmo acontecendo com o jogador. Luiz Muniz não perdeu tempo
e imediatamente colocou um boné da Via Sports, um dos seus patrocinadores, na
cabeça do craque.
– Mas isso é
propaganda – protestou o centroavante.
Mala
contra-atacou:
– Eu sei, mas
tu ganhando dois milhões de dólares por mês, vais fazer questão com um cara que
tá fazendo seu trabalho por uma mixaria?
Novo ponto
para Mala. Ronaldinho cedeu outra vez.
O jornalista
só levou a pior na hora de pegar o alto-falante de volta.
– Cara, você
não acabou de me dar de presente? – reagiu o atleta.
– Mas tu já
deves ter um montão desses. Pra que vais querer essa porcaria? – argumentou o entrevistador.
Dessa vez, o
mala foi o outro:
– De graça eu
quero tudo.
E se mandou,
cercado de guardas, levando o brinde e deixando o mala legítimo contrariado de
araque, mas cantando vitória.
E
lá se foi Ronaldinho com o brinde na mão
para o vestiário. Pouco tempo depois, marcou seu gol mais célebre no futebol
espanhol. Era o dia 12/10/1996, quando o
Barça goleou o Compostelano por 5 a 1.
O
lance vez por outra é lembrado pela mídia espanhola. Ronaldo recebeu a bola no
meio do campo, percorreu 48 metros em dez segundos, quando driblou vários adversários,
e fuzilou. O então técnico do Barcelona, Bobby
Robson, levou as mãos à cabeça, parecendo não acreditar no que tinha acabado de
ver.
Além de comparar o goleador a Pelé, afirmou ser quase impossível
fazer um gol daquela maneira.
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