O Santinha rendeu-se ao Altos (Foto: Reprodução Globo Esporte) |
UM JOGO SURREAL
CLAUDEMIR GOMES
Eis a melhor definição encontrada para sintetizar a história do que foi o confronto entre o Altos, do Piauí, e o Santa Cruz, válido pela repescagem para a edição 2024 da Copa do Nordeste, que culminou com a eliminação do Tricolor do Arruda numa decisão por pênaltis, onde foram batidos 22 tiros livres diretos. O resultado de 11x10 levou o Jacaré a manter o tabu de nunca ter perdido um jogo para a Cobra Coral, na condição de mandante, em Teresina. No tempo normal a partida terminou empatada em 2x2.
Surreal é uma expressão bastante
em voga, nos dias de hoje. Foi justamente ela que me veio em mente, quando o
narrador do jogo revelou que, os vinte e dois jogadores escalados pelo Santa
Cruz, e pelo Altos, estavam estreando nos seus novos clubes. Confesso que, em
se tratando de clubes profissionais, estando o Tricolor do Arruda se preparando
para comemorar os seus 110 anos de fundação no próximo dia 3 de fevereiro,
nunca vi nada parecido: promover a estreia de um time inteiro.
A Associação Atlética de Altos
tem 10 anos de fundação, mas nada justifica, além de um trabalho desastroso que
vinha sendo feito no clube, a promoção da estreia de 11 jogadores – foram
contratados mais de 20 – no primeiro jogo oficial da temporada.
Bom! Com 22 estreias em campo,
passei a acompanhar o jogo certo de que, Santa Cruz e Altos estavam
reinventando o futebol. Evoquei até a música Ivan Lins para servir como pano de
fundo: Começar de novo!
A distância do Estádio Municipal
Lindolfo Monteiro, local onde foi realizado o histórico confronto, para o
Aeroporto Senador Petrônio Portella, é de 2 quilômetros. Mas os novos jogadores
do Santa Cruz e do Altos não atentaram para o fato de que, este era o sinal
mais evidente de que, alí, naquele campo de futebol, “o perigo vem do alto”.
Resultado: os 4 gols marcados no tempo normal do jogo, foram de cabeça.
Como estamos falando de um jogo
de futebol surreal, o sobrenatural tem que fazer parte do contexto. Não foi por
acaso que, todos os gols, foram oriundos de jogadas aéreas, e marcados na mesma
barra. Ninguém vai me convencer de que, naquela maldita barra, não tem uma
cabeça de burro enterrada.
A abertura da temporada da Copa
do Nordeste não poderia ter sido em pior estilo: clubes promovendo a estreia de
22 jogadores; conjuntos sem a menor harmonia; campo ruim... com um 2x2
estampado no placar, as duas torcidas começaram a rezar por uma decisão por
pênaltis. Não imaginavam que, emoção pra valer pode ser transformado em
sofrimento sem fim.
Se os 90 minutos normais do jogo
foram marcados por uma enxurrada de erros, cometidos pelas duas equipes, nas
cobranças dos tiros livres diretos, a turma acertou o pé. Os dois times
passaram pela primeira sequência – cinco pênaltis – com um aproveitamento de
cem por cento. Vale lembrar que os pênaltis foram batidos na barra onde tem a
cabeça de burro enterrada.
Santa Cruz e Altos desperdiçaram
a nona cobrança. Gente! Isto é coisa do sobrenatural. Só não me perguntem: de
quem?
Os heroicos torcedores
tricolores, que encararam uma viagem de mais de mil quilômetros, para
testemunharem, in loco, a primeira apresentação do Santinha na temporada, já
não conseguiam segurar as lágrimas. O que começou como emoção, terminou como
sofrimento. A décima-segunda cobrança do time pernambucano, o goleiro do Altos
defendeu.
Não vi futebol que merecesse uma
análise. Os times não tiveram tempo hábil para se prepararem para uma
competição de um esporte coletivo. Este é mais um dos castigos impostos por um
calendário desastroso, que pode ser visto e tratado como o holocausto do
futebol brasileiro.
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