O paraibano Abelardo deixou de fazer graça para a Coca-Cola
Há muito tempo, o futebol português começou a ser povoado por jogadores brasileiros. Tanto que a seleção que participou da Copa do Mundo, na África do Sul, em 2010, tinha três compatriotas nossos, naturalizados: Deco, Liedson e Pepe. Este, nascido em Maceió, como Kléper Lavernan Lima Ferreira e iniciado no Corinthians Alagoano, esteve também noutras copas e tem contrato com o Porto, onde está desde 2019, até 2024.
Em
certa época havia por lá um montão de gente oriunda de Pernambuco e do Nordeste
em geral, espalhada pelas diversas divisões do futebol lusitano. Só para citar
alguns: Mirobaldo, Humaitá, Rubem Salim,
Nivaldo, hoje empresário de futebol, que brilhou no Benfica e no Vitória de
Guimarães. Djalma, o atacante ex- América-PE e ex-Sport, ainda hoje é lembrado por
antigos torcedores do Dragão, como o Porto é conhecido. Duda, o inesquecível
Dedeu e, mais para trás, Ivson, Edmur, Caiçara, Geo etc., são outros que
deixaram boas lembranças na “santa terrinha”.
O
meia paraibano Coca-Cola foi um dos muitos que cruzaram o Oceano Atlântico, depois
de brilhar em seu Estado natal e no Ceará, onde de 1965 a 1973 vestiu a camisa do
Ferroviário, que acaba de se sagrar campeão invicto da Série D do Brasileirão
2023.
O
Panafiel ia jogar contra o Gil Vicente. Este anunciava a estreia de um jogador
chegado do Nordeste brasileiro. Tratava-se de Abelardo, cuja ficha técnica era
divulgada pelos jornais. Sua idade, 26 anos.
No
Panafiel, o adversário do Gil Vicente, atuava o pernambucano Bite, que fora
revelado pelo Sport, tendo defendido vários times nordestinos antes de se
mandar para a Europa. Bite ficou curioso para saber quem era o compatriota que
iria enfrentar. Conhecera um Abelardo que jogara no Santa Cruz, e que se
transferiu para o Botafogo e depois foi defender o Atlético Mineiro. Não se
tratava da mesma pessoa, concluiu.
Quando
os times entraram em campo, Bite lançou seu olhar investigativo e descobriu que
o tal Abelardo era um velho conhecido seu, que no Brasil atendia pela alcunha
de Coca-Cola.
Já
havia jogado várias vezes contra ele. Correu para abraçá-lo.
–
Coca-Cola, que satisfação – disse Bite, puxando o paraibano para o abraço.
Bite
estranhou a reação do compatriota:
–
Não, Coca-Cola não. Me chame de Abelardo!
O
ex-jogador do Sport ficou matutando sobre a reação de Coca-Cola, quando tempos
depois matou a charada.
Coca-Cola
tinha 31 anos e não 26. Tivera os documentos alterados pelo empresário,
passando-se por um jovem brasileiro disposto a vencer em Portugal. Se alguém descobrisse a tramoia, poderia dar
com a língua nos dentes e botar tudo a perder. Ele corria o risco até de ser
processado por ter adulterado os documentos. E aí sua carreira iria para o
beleléu. O paraibano usou um argumento irrefutável para refugar o antigo
apelido:
– E tem uma coisa. Já que vim pra cá, não vou
ficar fazendo propaganda para a Coca-Cola de graça.
O
apelido fora recebido ainda na infância, em João Pessoa.
–
Como eu era pequeno, magro e preto, me chamavam de “Miniatura de Coca-Cola”.
Reclamei e o apelido pegou. Quase ninguém sabe meu nome. Até minha mulher me
chama de Coca – disse numa entrevista Abelardo Cesário da Silva, falecido em
junho de 1999.
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