O Náutico, uma grande família (5)

 ZECA E CHINA



 Lucídio José de Oliveira

Uma das formações do campeão Náutico em 1950: Em pé, Manuel Lopes (dirigente), José Mariano Carneiro Pessoa (Palmeira), técnico, Sidinho, Lula, Azulão, Jaminho, Gilberto e Dico; agachados, Carmelo, Ivanildo, Amorim, Alcidésio e Zeca.












Quando do retorno de Gilberto em 1950, depois de três longos anos longe dos Aflitos, estava o Clube Náutico Capibaribe, sob o comando do iluminado Eládio de Barros Carvalho, pronto para concluir sua caminhada na busca da afirmação como um grande time de futebol. Grande clube, o Náutico já era. Desde a sua fundação, no primeiro ano do século.

Destinado inicialmente às disputas das regatas nas festivas manhãs de domingo nas águas do Capibaribe, o futebol passaria a fazer parte do ideário esportivo do clube somente anos depois.

O tempo do futebol havia sido todo de aprendizado e de espera. Tempo de construção da identidade alvirrubra. Apenas dois títulos na disputa do campeonato. Não havia pressa nos Aflitos. O primeiro em 1934. Cinco anos depois, 1939. Em 45, campeão pela terceira vez. Primeira conquista de um tempo em que já não mais se permitia a disputa aureolada tão-somente por desejos e gestos amadoristas.

Aproximava-se a virada da década. Um incêndio destrói a sede do clube. Incêndio emblemático. Decisão tomada por Eládio: um grupo selecionado de jogadores estava sendo convocado para fazer ressurgir das cinzas – não há como fugir do lugar comum – o futebol para o qual estava o Náutico destinado.

O time vinha sendo formado  bem antes do incêndio. Prosseguir com o projeto era um imperativo ao qual os comandados de Eládio não podiam fugir. O time tinha que ser montado, custe o que custasse¸ com característica de seleção. E assim foi. Já se encontravam nos Aflitos excelentes jogadores. O veterano lateral-direito Sidinho, campeão pelo Santa Cruz em 1940. Jaminho, o lateral pelo outro lado do campo, tinha vindo do futebol do interior, campeão em Limoeiro. Ivanildo, de outra cidade do Agreste, Garanhuns, pronto para ser utilizado tanto na defesa como na linha de frente. No comando do ataque, Amorim, há bem pouco campeão e artilheiro pelo Sport. Na zona de defesa, com jeito de xerife o zagueirão Lula, campeão pelo Tacaruna no futebol do subúrbio, o grande celeiro.

Restava dar ao time na dose certa, a experiência que só o craque viajado tem. E esta veio com o retorno de quatro jogadores fora de série: o goleiro Vicente, o centromédio Gilberto, e a ala-esquerda Alcidésio e Zeca. Todos com passagem brilhante num passado recente pelo Náutico. Estavam vindo do Rio, a capital federal. Onde havia mais requinte no futebol e em tudo mais. Voltaram juntos, ao mesmo tempo, como se tivessem ido fazer um curso de especialização num centro adiantado. Seriam figuras exponenciais na jornada que terminaria com quatro títulos estaduais em cinco anos.

Gilberto e Zeca vão estar presentes em todas as próximas conquistas que terão início naquele ano de 1950. E carregariam uma coisa a mais em comum. Num futuro bem próximo, em 1960, um irmão de Zeca, assim como vai acontecer com o quarto-zagueiro Givaldo, irmão de Gilberto, será campeão com a jaqueta alvirrubra. Seu nome de guerra: China. Posição: comandante do ataque. Profissão: artilheiro.

Indo além de Givaldo, campeão apenas uma vez, China conquistaria o título em duas oportunidades: campeão em 1960 ao lado do próprio Givaldo, será campeão e um dos artilheiros do time em 1963, início da jornada do Hexa.  China continuava a fazer os gols que o mano Zeca fazia na década anterior nas vitórias alvirrubras. Marcou, com a camisa de número 9 nas costas, meia centena de gols pelo Náutico. Um número redondo, 50 gols.

Faz companhia na lista dos artilheiros timbus, a Orlando, Fernandinho e Djalma. O mano Zeca, por sua vez, vestiu sempre a camisa 11. Vem logo atrás, dois gols a menos que o irmão (48 gols). O mesmo número da marca de Ivan Brondi, o capitão do Hexa,

Zeca trazia na carteira de identidade o nome do registro: José Fernandes de Almeida. Nascido em 1927, era treze anos mais velho que o irmão. Este fora registrado Edson Fernandes de Almeida. O apelido China, pelos olhos desde menino rasgados dos orientais.

O elo da sequência não será cortado com Gilberto e Givaldo, Zeca e China.

Náutico, campeão de 1963, no início do Hexa. Em pé, Zequinha Miná, Waldemar, Zé Luís, Evandro,, Gilson Costa e Clóvis; agachados, Nado, Bita, China, Ivan e Rinaldo. (Foto: arquivo do Blog)

Campeão em 1960, China foi logo a seguir tentar de novo a sorte no Sul-Maravilha – já estivera antes, no início da carreira, em São Paulo – mas sem demora estava de volta ao Náutico. Vai participar em 1963 do início da caminhada do Hexa. E encontrar pelo lado direito do ataque que ele terá a honra de comandar, prontinha da silva para arrebentar e encher de alegria a torcida timbu, a ala Nado-Bita.

São os irmãos Lasalvia. Os irmãos com a história mais rica de títulos e glórias a jogarem juntos com a camisa do Náutico.

 Mas isso fica para outro dia. Depois eu conto. 

 


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