HISTÓRIAS DO MUNDO DA BOLA – Lenivaldo Aragão

 Um craque no mundo da lua


Foto: reprodução

 Houve um tempo em que jogador de futebol saía dos clubes de Pernambuco para jogar nas equipes grandes do Rio e de São Paulo com a maior facilidade. Por isso não era difícil haver um pernambucano, no mínimo como reserva da Seleção Brasileira. O Palmeiras teve um time, nos anos 60, apelidado de “a colônia pernambucana”, tantos eram os jogadores egressos do Recife que vestiam sua camisa.  Mais ou menos na mesma época passaram por lá, Pedrinho, goleiro saído do Santa Cruz (não confundir com Pedro Cruz o carioca que veio do Ceará), Zequinha (Santa Cruz), Zequinha II (Náutico), Clóvis (Santa Cruz), Aldemar – carioca, mas ‘ressuscitado’ pelo Santa Cruz, Gildo (Santa Cruz), Vavá (Sport), Fernando José – o caruaruense Fernando Bidé – (Náutico), Geo (Sport), Minuca (Santa Cruz), China (Náutico), Rinaldo (Náutico), Geraldo (Náutico) e outros mais. Nessa galera, como se vê, só não eram pernambucanos da gema o zagueiro Zequinha II (paraibano) e o centromédio Aldemar. 

O Vasco da Gama, então, sempre se deu bem com pernambucanos, a partir de Ademir, o Queixada. Só de raspão a gente lembra Almir e seu irmão Adilson, Mário Pelé – Mário Tilico para os cariocas –, Valfrido, Nado, o paraibano Salomão, saído dos Aflitos, o cearense Pacoti, que era do Sport,  Zé do Carmo, Juninho Pernambucano, Zada e por aí vai.

Certa vez o Santa Cruz vendeu dois jogadores de uma só tacada ao Botafogo. Um era o volante Abelardo, jogador técnico, que depois esteve no Atlético Mineiro e hoje não se sabe onde anda. O outro era o zagueiro Nagel, irmão do volante Norberto, ambos jogadores feitos no Arruda, como Abelardo. Ainda vejo Nagel com muita frequência, no bairro de Boa Viagem, onde moramos. Logicamente, o então garotão Nagel ficou radiante quando soube que seu passe tinha sido negociado com o clube em que brilhava o célebre Garrincha, o “anjo das pernas tortas”.  E mais Didi, Nilton Santos, Zagalo, Quarentinha etc.

Na época, o Clube da Estrela Solitária desfrutava de imenso prestígio, tendo chegado mesmo, em dado momento, a ser a base da Seleção Brasileira. Nagel encontrou lá um pernambucano que se projetou pelo futebol e pelas histórias pitorescas a ele atribuídas. Era o goleiro Manga, autodenominado “El Fenômeno”.

Ao contrário da música de Dorival Caymmi – “peguei um ita lá no Norte / E vim por Rio morar...” – Nagel viajou de avião. Saiu do Aeroporto Internacional dos Guararapes/Gilberto Freyre certa noite, rumo ao Rio de Janeiro. Não ia sozinho, posto que a diretoria tricolor mandou o dirigente Waldomiro Silva acompanhá-lo, para fazer a devida apresentação e receber a grana. Os dois entraram num Skymaster, quadrimotor a hélice, do Loide Aéreo, que fazia a linha Recife-Rio. Voo noturno, confortável para os padrões da época, Nagel logo caiu em sono profundo, só vindo a acordar quando o avião já estava em trabalho de pouso no Aeroporto Santos Dumont.

 – Nagel, acorda, estamos chegando. Olha o Rio aí embaixo” – cutucou-o Waldomiro.

Ainda sonolento, bocejando e abrindo os braços, meio atarentado, Nagel deu uma olhada pela janelinha e entre espantado e admirado, virou-se para seu ex-técnico no juvenil tricolor, comentando:

 – A  lua daqui é muito grande, não é Waldó?

Agora, o espanto era de Waldomiro Silva, pois que ele soubesse, aquela não era noite de lua. Deu uma espiada e depois de constatar o que se passava, não conseguiu segurar um discreto ar de riso. A lua que Nagel estava vendo, era simplesmente a enorme cabeça muito bem iluminada do Cristo Redentor, mas envolta num nevoeiro, que não permitia divisá-la por completo, deixando o jovem craque verdadeiramente no mundo da lua.

 

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