Um craque no mundo da lua
O Vasco da Gama, então, sempre se deu
bem com pernambucanos, a partir de Ademir, o Queixada. Só de raspão a gente
lembra Almir e seu irmão Adilson, Mário Pelé – Mário Tilico para os cariocas –,
Valfrido, Nado, o paraibano Salomão, saído dos Aflitos, o cearense Pacoti, que
era do Sport, Zé do Carmo, Juninho
Pernambucano, Zada e por aí vai.
Certa vez o Santa Cruz vendeu dois
jogadores de uma só tacada ao Botafogo. Um era o volante Abelardo, jogador
técnico, que depois esteve no Atlético Mineiro e hoje não se sabe onde anda. O
outro era o zagueiro Nagel, irmão do volante Norberto, ambos jogadores feitos
no Arruda, como Abelardo. Ainda vejo Nagel com muita frequência, no bairro de
Boa Viagem, onde moramos. Logicamente, o então garotão Nagel ficou radiante
quando soube que seu passe tinha sido negociado com o clube em que brilhava o
célebre Garrincha, o “anjo das pernas tortas”.
E mais Didi, Nilton Santos, Zagalo, Quarentinha etc.
Na época, o Clube da Estrela Solitária desfrutava
de imenso prestígio, tendo chegado mesmo, em dado momento, a ser a base da
Seleção Brasileira. Nagel encontrou lá um pernambucano que se projetou pelo
futebol e pelas histórias pitorescas a ele atribuídas. Era o goleiro Manga,
autodenominado “El Fenômeno”.
Ao contrário da música de Dorival Caymmi
– “peguei um ita lá no Norte / E vim por Rio morar...” – Nagel viajou de avião.
Saiu do Aeroporto Internacional dos Guararapes/Gilberto Freyre certa noite,
rumo ao Rio de Janeiro. Não ia sozinho, posto que a diretoria tricolor mandou o
dirigente Waldomiro Silva acompanhá-lo, para fazer a devida apresentação e
receber a grana. Os dois entraram num Skymaster, quadrimotor a hélice, do Loide
Aéreo, que fazia a linha Recife-Rio. Voo noturno, confortável para os padrões
da época, Nagel logo caiu em sono profundo, só vindo a acordar quando o avião
já estava em trabalho de pouso no Aeroporto Santos Dumont.
–
Nagel, acorda, estamos chegando. Olha o Rio aí embaixo” – cutucou-o Waldomiro.
Ainda sonolento, bocejando e abrindo os
braços, meio atarentado, Nagel deu uma olhada pela janelinha e entre espantado
e admirado, virou-se para seu ex-técnico no juvenil tricolor, comentando:
–
A lua daqui é muito grande, não é Waldó?
Agora, o espanto era de Waldomiro Silva,
pois que ele soubesse, aquela não era noite de lua. Deu uma espiada e depois de
constatar o que se passava, não conseguiu segurar um discreto ar de riso. A lua
que Nagel estava vendo, era simplesmente a enorme cabeça muito bem iluminada do
Cristo Redentor, mas envolta num nevoeiro, que não permitia divisá-la por completo,
deixando o jovem craque verdadeiramente no mundo da lua.
Comentários
Postar um comentário