A reação de Rubem Salim contra o tradutor de esporro
Rubem Salim, agachado, com a mão na bola, na equipe do Futebol Cube do Porto (Arquivo do Blog) |
O
paulista Rubem Salim, que fincou raízes em Pernambuco e acaba de partir
para a eternidade, defendeu Santa Cruz, Náutico, Sport, América e Santo Amaro –
deste foi também treinador.
Lá fora jogou pelo Noroeste e São Bento (São
Paulo), Fortaleza e Maguary (Ceará), Campinense (Paraíba), CRB (Alagoas) e Futebol
Clube do Porto (Portugal). Ficou mesmo identificado com a torcida do Tricolor
do Arruda, clube ao qual permaneceu ligado , atuando como treinador nas
divisões de base.
Quando
defendia o Santa Cruz, pelo qual foi campeão estadual em 1969, apaixonou-se por
Betinha, odontóloga. Na época, Betinha
integrava a equipe de basquete do Santinha. Casaram-se e viveram uma maravilhosa união, morando perto da Cobra
Coral. Antes de se tornar profissional no futebol, Salim, nascido em São José
do Rio Preto-SP, fazia parte de um conjunto musical. Mas terminou sendo
seduzido pela bola. Como aconteceu com muitos jogadores de seu tempo, passou
pelo futebol português. Vestiu a camisa do Porto, um dos três grandes de
Portugal.
Houve uma temporada que a equipe tripeira, como é conhecido o Porto, foi
dirigida por Tomi Docki, um irlandês de rosto avermelhado. Tomi era um dos
jogadores da Seleção Irlandesa, quando esta veio ao Recife, em 1972, para
participar da Minicopa ou Torneio Independência, em homenagem ao
sesquicentenário da Independência do Brasil. Na chave sediada na capital
pernambucana e em Natal, além dos irlandeses, figuravam Portugal, Chile, Irã e
Equador. Portanto, Tomi chegou a jogar no Arruda, o futuro palco das ‘criações’
de Salim, com a bola no pé.
Sem
falar patavina de português, o novo técnico do Porto tratou de se garantir,
levando um intérprete a tiracolo. Tratava-se de um irlandês, como ele, mas que
dominava a língua de Camões. Os dois se entendiam, e muito bem. As
instruções eram dadas, portanto, em dois tempos. O técnico conversava com seu
auxiliar, mostrando-lhe como determinado jogador deveria proceder, e o ajudante
dava o recado ao destinatário.
Depois de um jogo em que Rubem Salim não teve
uma boa atuação, o treinador aguardou a primeira oportunidade para procurar
corrigi-lo, a fim de que na partida seguinte os erros não fossem repetidos.
Transmitiu a advertência ao tradutor e este tratou de passar o bizu para
Salim.
Tomi sempre instruía seu auxiliar aos gritos. Era a maneira não muito cortês de
mandar sua mensagem, que chegava aos ouvidos dos jogadores, através do
intérprete e fiel escudeiro, como vimos. Naquele dia, o técnico precisava dizer
alguma coisa a Salim. Falava com uma certa agitação, na voz e nos gestos. O
tradutor escutava e dirigia-se ao jogador, em português bem claro, fazendo
chegar aos seus ouvidos o que acabava de escutar. Cumpria sua missão ao pé da
letra, na base do berro e da gesticulação, pois era assim que Tomi Docki a ele
se dirigia, chamando a atenção até de quem estava longe. Salim não gostou:
–
Vamos devagar, amigo. Não precisa esse carnaval todo, venha com mais calma. É
só explicar calmamente o que o homem está dizendo, que eu entendo. Já levei um
esporro em inglês sem entender nada, e você agora vem me dar outro em
português? Que o técnico grite, tudo bem, mas de você eu não aceito grito não.
. O porta-voz de Tomi
Docki, tomou um susto, talvez por não esperar tamanha ousadia, mas recalibrou o
tom da voz e passou a falar baixinho. Como Salim queria.
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