Nos primeiros títulos, América tinha jogadores ‘importados’
No nascedouro do
Campeonato Pernambucano, quando disputava a hegemonia com o Sport, o América
também contratou jogadores no Sul, como era denominada a metade do Brasil que
ia do fim da Bahia ao Rio Grande do Sul. Da Boa Terra para cima era o Norte.
Não se falava em Nordeste nem em Sudeste.
Os dois clubes que
haviam adotado a política de se reforçarem com atletas egressos de outros
Estados e até do Exterior entraram em choque com os demais participantes do
certame estadual, que não aceitavam tal procedimento. Surgiu assim uma grande
polêmica. Porém, a atitude das duas maiores forças do futebol pernambucano
naquele tempo era acatada pela Liga Sportiva Pernambucana – depois Liga
Pernambucana de Desportos Terrestres, Federação Pernambucana de Desportos e
Federação Pernambucana de Futebol.
A primeira ‘importação’
feita pelo América aconteceu em 1918.
Vieram três jogadores ao mesmo tempo: Alex, Bermudes e Perez.
O Sport havia sido
bicampeão (1916 / 17) e não chegou ao tricampeonato. Terminou vendo a marcha
rumo ao Tri ser barrada pelo seu maior adversário.
O presidente do
América, o coronel Seixas, havia entregue o comando do time a Guilherme Aquino
da Fonseca, fundador do Sport, com cuja diretoria se indispusera e por isso
tinha se afastado. Todavia, como gostava imensamente do futebol, esporte que
ele mesmo tinha introduzido em Pernambuco ao regressar da Inglaterra, onde
estudara, Guilherme não contou até dez
para aceitar um convite no sentido de comandar a equipe americana.
Quanto a Alex, Bermudes
e Perez, o trio teve importante participação na conquista do primeiro título alviverde,
levantado com uma vitória por 3 x 1 sobre o Sport, com gols de Zé Tasso, Juju e
Perez. O Rubro-Negro contava com os uruguaios Mazullo I e Mazullo II, irmãos.
O campeão de 1918
alinhou estes jogadores na partida que o consagrou: Jorge Tasso; Ayres e Alex;
Rômulo, Bermudes e Soares; Siza (o mais tarde presidente do clube Sigismundo Cabral de Melo), Perez, Zé Tasso,
Juju e Lapa.
No ano seguinte, quando
o América igualou-se ao Sport, sagrando-se bicampeão, contou com um irmão de
Perez, que tinha o prenome Antônio. Era
o atacante Felipe Perez. Outro contratado foi o meia armador Salerno. Assim, o
clube que reunia as famílias Tasso e Cabral de Melo passou a contar com os
irmãos Perez I e Perez II.
O bicampeonato foi
obtido, portanto, com a presença dos cinco
jogadores egressos do Sul. Vejamos o time: Salgado; Ayres e ‘Alex’; Rômulo,
‘Bermudes’ e Soares;
‘Perez II’, ‘Salerno’,
Zé Tasso, ‘Perez I’ e Lapa.
FORA DO CAMPEONATO
Considerado o melhor
time da cidade, o América poderia ter alcançado o tricampeonato, se não tivesse
abandonado o certame de 1920 por causa de um problema em que se envolveu. A competição
foi caracterizada pelos muitos casos havidos. Existia, ao mesmo tempo, a
polêmica entre os clubes “profissionais” e os “amadores”.
Todavia, o que causou o
afastamento do Periquito foi uma confusão num jogo contra o Santa Cruz, em 27 de junho, com vitória do
Tricolor por 2 x 1.
No primeiro turno, o
time esmeraldino havia vencido os dois primeiros jogos que disputara, contra
Sport (4 x 1) e Náutico (4 x 1). No terceiro, derrota por 2 x 1 para o Santa
Cruz, quando surgiu um incidente está assim narrado por Givanildo Alves no
livro “85 Anos de Bola Rolando”, publicado em 1999: “Ao trilar o apito dando por encerrada a
partida, o juiz João Elias Bernardes foi cercado pelos jogadores Bermudes, Alex
e os irmãos Perez, que foram tomar satisfações pelos dois gols do América que
ele anulou e o da vitória do Santa Cruz. Bastante duvidoso, Bernardes foi
empurrado e agredido verbalmente pelos quatro jogadores, exatamente os
profissionais do time. A Liga puniu Perez I com seis meses e os demais com
três. No dia 25 de julho pelo Diario de Pernambuco, o América fez
publicar um manifesto ‘ao público e ao mundo esportivo do país’, comunicando
sua desfiliação da Liga.
O Sport, que já vinha
perseguindo o então bicampeão, teve facilitada sua caminhada rumo à mais um
título.
Salerno também chegou para o América em 1919 para
reforçar o time na luta pelo bicampeonato. Era jogador de armação e defendeu a
equipe alviverde até quando o América, em desacordo com a mentora, retirou-se
do Campeonato Pernambucano de 1920.
O América, naquela oportunidade era um time muito forte.
Tanto que quando voltou às disputas do campeonato, abiscoitou os títulos de
1921 e de 1922. Este último título, por sinal, é que tornou o América conhecido
como Campeão do Centenário, por ser 1922 o ano do centenário da Independência
do Brasil.
É muito provável que o América tivesse sido o primeiro
pentacampeão pernambucano, caso não tivesse se desentendido com a Liga, a
Federação Pernambucana da época.
Como chegamos ao profissionalismo - A importação de jogadores trouxe consigo um
efeito colateral. Começaram a surgir jogadores da casa que recebiam dinheiro
para jogar. Era o chamado amadorismo marrom. Em
Foi travada uma luta entre os defensores do amadorismo
puro e os que aceitavam e apoiavam o falso amadorismo. Foram criadas regras
para combater o pagamento a jogadores, mas as regras continuaram sendo
burladas.
Em 1933, o profissionalismo foi introduzido no Rio de
Janeiro e, como a então Capital Federal servia de referência para todo o
Brasil, Pernambuco também se rendeu aos fatos. Assim, em 1937, tivemos a
primeira inscrição oficial de um jogador profissional na Federação Pernambucana
de Desportos. O clube que fez a primeira inscrição foi o Central. A data da
inscrição foi 27/06/1937. O jogador foi Luiz Zago.
Zago disputou o campeonato de 1937 pelo Central. Em 1938,
Zago passou a jogar pelo Sport, onde ficou até 1949. Em 1951 iniciou a carreira
de árbitro de futebol.
(Carlos Celso Cordeiro, pesquisador, com vários livros
publicados sobre o futebol pernambucano)
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