O matreiro Duque e o café de Iaúca
Em 1969,
campeão do Torneio Norte-Nordeste, o Sport enfrentou o Grêmio de Maringá-PR,
campeão do Centro-Sul, em disputa da Copa Brasil – não confundir com Taça
Brasil. O time paranaense meteu 3 x 0 no jogo de ida e repetiu o placar na
volta, no Recife. Isso provocou uma gozação dos torcedores do Náutico e do
Santa Cruz para com o clube da Ilha. Sempre que o Leão enfrentava um deles, a
torcida adversária relembrava a célebre música do maestro Joubert de Carvalho
relembrando a fundação da conhecida cidade paranaense, que diz “Maringá,
Maringá”.
Nessa
disputa interregional o Santa Cruz se agradou de três jogadores do Grêmio
Maringá, o zagueiro Zé Carlos, o volante Osvaldo e o ponta-direita Iaúca. Era
no tempo em que dinheiro jorrava no Tricolor do Arruda, saído do bolso do
mecenas James Thorp. Logo o trio estava se mudando de mala e cuia para o
Recife.
Campeão
pernambucano em 1969, sob o comando de Gradim, quando desbancou o hexacampeão
Náutico, o Santinha entrou, em 1970, no Torneio Roberto Gomes Pedrosa,
predecessor do atual Campeonato Brasileiro. O Mais Querido tinha craques do
porte de Givanildo, Luciano, Fernando Santana e Cuíca, vindos de sua base, além
de alguns importados de peso, como Zito (Caruaru), Rubem Salim (São Paulo) e
Facó (Ceará). Acontece que o time começou a dar para trás no Robertão, e Gradim
aceitou ficar preparando a meninada do juvenil, tendo os dirigentes trazido o
ex-alvirrubro Duque para o seu lugar.
Antigamente,
o estádio do Arruda, ao contrário de hoje, tinha uma barra no lado da Av.
Beberibe e outra voltada para a Rua das Moças. A poucos metros do campo existia
uma ampla dependência, onde os jogadores ficavam concentrados para jogar. Os
que eram de fora e não haviam trazido familiares, moravam lá. Era o caso dos
três já citados e do novo treinador, além de outros. O Mundão tinha saído da
prancheta do arquiteto Reginaldo Esteves, e o famoso Alçapão do Arruda começava
a mudar de cara.
Logo
na entrada da concentração havia um amplo dormitório. Bom observador que era,
atento aos mínimos detalhes, Duque notou que enquanto a turma, em momentos de
lazer, estava sempre se divertindo num bilhar que o clube havia instalado, numa
partida de dominó ou noutros passatempos, Iaúca ficava o tempo todo deitado,
garrafa de café ao seu lado, fazendo palavras cruzadas. Coisa de intelectual,
admitiu o treinador, que às vezes chamava-o para participar das outras
distrações, e recebia como resposta um incisivo não. E haja café, deixando
Duque preocupado, pois é de todos sabido que a saborosa rubiácea, consumida em
excesso, faz mal.
Certo
dia, o técnico perguntou a Fernando, cozinheiro e treinador do infantil coral,
quantas garrafas de café ele servia a Iaúca por dia.
– Nenhuma –
respondeu Fernando, secamente.
Aí
tem coisa, pensou Duque, procurando saber, de si para si, de onde vinha aquele
café que Iaúca não parava de tomar. Certo dia, o esperto e desconfiado
comandante tricolor combinou com Pedro, o vigia da concentração, para que
chamasse Iaúca, sob a alegação de que havia duas moças na entrada do estádio,
procurando-o. Foi o jogador sair a fim de atender suas fãs de araque, para o
técnico mais do que depressa ir aos seus aposentos. Lançou mão da garrafa
térmica, que abriu imediatamente. Levou-a ao nariz e constatou aquilo de que
vinha desconfiando. Em vez de café, Iaúca sorvia sofregamente goles e mais
goles do conhecido conhaque Dreher. Daquele dia em diante foi proibido de tomar
seu cafezinho na cama!
Comentários
Postar um comentário