ALÔ ALÔ, SAUDADE! – Coluna de Paulo Moraes

 Uma aventura atrás do Santa, no caminho da Série C 


 

Chuva e lama na estrada não impediram a invasão do Almeidão pela massa coral (Reprodução Pernambuco.com)

Vejo em imagens o grande número de torcedores na cidade alagoana de Arapiraca, a 350 quilômetros do Recife, para apoiar o Santa Cruz no jogo contra o ASA. Veio na lembrança, a ida da torcida tricolor a João Pessoa, em 2011, para incentivar  o time contra o Alecrim de Natal, pela Série D daquele ano. Reproduzo a história da nossa aventura, publicada no blog de Tiago Medeiros, no Globoesporte.com, na época. A pequena e longa viagem em três cores foi no dia 17 de julho daquele ano. Vamos a ela:
   Domingo, seis horas da manhã. Acordo, vou à janela, chove. Tempo ameaçador para a torcida do Santa Cruz.
Leio os jornais do dia. Barba feita, tomo uns goles de café, um pão com manteiga. É o antes da curta, mas emocionante viagem a João Pessoa. Rezo, como faço todos os dias. Mochila nas costas, lá vamos nós, eu e um grupo de tricolores rumo ao sonho de todos, de um início feliz contra o Alecrim, de Natal, na caminhada para a Série C. Vou nessa como repórter, para registrar, passo a passo, sonhos e esperança de uma multidão de três cores.
   Onze horas e 21 minutos: o motorista Roberto liga uma doblô. São dois carros levando oito torcedores, cada um mais feliz que o outro. O artista plástico Zequinha, que jura ter jogado no juvenil do Santa Cruz, está ansioso, conta que não dormiu na noite do sábado. Valnei e Marcelo estão tranquilos. Valnei toma cerveja, Marcelo só conversa. E eu, nas anotações. O papo é sobre a chuva, muito intensa, no Grande Recife. E vem a lembrança de Olinda de muitos anos atrás.
   Falam de cobras, de tartarugas, de saguins e de cajueiros, que eram abundantes, na área dos hoje bairros de Rio Doce,  Jardim Atlântico e Casa Caiada. Na outra doblô, os amigos Júlio, Rilson, Fernando e Zé Carlos, eles, auditores da Secretaria da Fazenda de Pernambuco. E mais o procurador do Estado, Alexandre. Da pequena caravana, só Fernando não usa camisa tricolor. E eu também, claro. Valnei tem logo duas, uma no corpo e a outra na mão, no papel de uma bandeira.
   Estamos na BR-101. Carros, ônibus, micro-ônibus, uma alegria. Nas margens da rodovia, moradores da Região contemplam a caravana das três cores. Viagem agradável, centenas de bandeiras, até que... Engarrafamento pesado próximo à ponte de Goiana. É tanta água, que assusta.
   Com os carros parados, as pessoas passeiam pela pista, bebem, se cumprimentam, cantam hinos do clube. É uma manhã de festa. Passamos entre 40 e 50 minutos sem movimentar as doblôs. Enfim, por volta de uma hora da tarde, ultrapassamos a ponte, e aí pudemos seguir tranquilos. No caminho,  alguns carros quebrados ou sem combustível. Um grupo da Inferno Coral se desespera e vai a pé. Fizemos os cálculos e concluímos: só vão chegar a João Pessoa lá para as nove da noite. Na verdade, instantes depois, o ônibus deles iria apanhá-los.
   E chegamos nós, a João Pessoa. Almoço num restaurante na praia de Manaíra. Boa peixada e bom retorno, agora ao estádio Almeidão. Para ter acesso à arquibancada, enfrentamos água, lama e fila. Quando passamos pelo portão de entrada, o jogo já havia começado, três minutos antes. Vamos à procura de um bom lugar. Chove e o chão da arquibancada está escorregadio. Eu tive a infelicidade de ser tocado por alguém, perdi o equilíbrio e caí, levando uma torcedora junto. Nada demais aconteceu, apesar da preocupação dela. Fomos em frente, encontramos o procurado bom lugar, se bem que quando a chuva apertava, os guarda-chuvas atrapalhavam a nossa visão.
   São 16 mil torcedores do Santa e alguns, muito poucos, simpatizantes do Alecrim. O zero a zero do primeiro tempo preocupou e o gramado encharcado, pode justificar o futebol pouco brilhante dos dois times.
   No segundo tempo veio o primeiro gol do Santa, com dúvidas. Gol de Weslley ou Thiago Cunha? "Foi de Weslley", grita um tricolor. Na súmula, se descobriu mais tarde, gol de Thiago Cunha. O gol de empate do Alecrim mexeu com a tranquilidade dos santacruzenses. Veio o segundo gol, de Thiago Matias. Chove um pouco forte, chovem também dúvidas sobre o autor do gol, desfeitas por um atento espectador.
   O gol de pênalti, marcado por Tiago Matias, anima os corações desta apaixonada torcida. Que na volta enfrenta engarrafamentos. E sem ter como seguir viagem ao Recife por Goiana. A água na ponte não deixou que qualquer carro chegasse ao outro lado. Resultado: a volta teve de ser por Campina Grande, via Caruaru, como fizeram a equipe de reportagem da TV Globo (Sabrina Rocha, no comando) e a própria delegação do Santa Cruz. Ou pela cidade pernambucana de Itambé, via Timbaúba e Carpina. Outros pernoitaram em João Pessoa. Nós voltamos por Itambé, oito horas de viagem. Chegamos às 02h17m da madrugada de segunda-feira. Mas, com a missão cumprida. Vitória tricolor e a largada feliz rumo à Série C. Com uma pergunta. Quando veremos, de novo, uma BR-101 tão agitada?
   Foi mesmo um domingo diferente. E que valeu. Foi um dia arretado na história de uma torcida tão fiel e apaixonada.
   Logo, logo, amigos e amigas, traremos outras lembranças da minha saudade! 

 

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