RELEMBRANDO A MINICOPA

 O dia em que o Santa vestiu a seleção do Irã

O "tricolor" Irã contra a Irlanda do Sul, no Arruda (Reprodução)


Por Marcos Velloso



No início da década de 1970, a construção do Estádio José do Rego Maciel, o Arruda, caminhava a passos lentos, dependendo dos próprios recursos do Santa Cruz e doações dos torcedores. Com capacidade para 25.000 pessoas, a casa da Cobra Coral não oferecia a sua torcida, reconhecida, sem quaisquer polêmicas, como a maior do Estado na época, o conforto e a grandeza condizentes. Então, um torneio entre seleções realizado no País impulsiona a construção do futuro Mundão do Arruda.

Oficialmente, o Brasil tornou-se independente de Portugal em 1822. 150 anos depois, em 1972, a CBD (Confederação Brasileira de Desportos) resolveu comemorar o Sesquicentenário brasileiro criando a Taça Independência, mais conhecida por Minicopa. O torneio, que contava com a participação de 20 seleções, servia para demonstrar a capacidade de organização da CBD, comandada por João Havelange, então candidato à presidência da FIFA.

Para não correr o risco de ver o Estado de Pernambuco ficar de fora da Taça Independência, pois os estádios do Sport e Náutico não atendiam às exigências da entidade máxima do futebol brasileiro, o Governo Estadual precisou intervir, principalmente depois do alerta da imprensa. À época, o governador Eraldo Gueiros serviu como avalista, através do Bandepe (Banco de Desenvolvimento do Estado de Pernambuco), para o empréstimo de 4,6 milhões de cruzeiros do Grupo Financeiro Campina Grande ao Santa Cruz.

Curiosamente, o rei Pelé, maior jogador de futebol de todos os tempos, participou indiretamente das negociações para a conclusão das obras do Arruda. Ele era dirigente da entidade financeira, uma espécie de Relações Públicas, e esteve presente com o governador e a diretoria coral na sede da Federação Pernambucana de Futebol para firmar o acordo. “Há muito o Recife merecia um grande estádio, mas esta ocasião é bastante oportuna, uma vez que deste estádio estava dependendo a realização aqui dos jogos da Minicopa”, disse o rei ao Diário de Pernambuco às vésperas do batismo do Mundão.

Obras concluídas, capacidade estimada em 64 mil espectadores – embora haja registros de que na inauguração, contra o Flamengo (0x0), mais de 80.000 pessoas compareceram à partida – gramado perfeito, várias bilheterias, amplo estacionamento e vestiários bem aparelhados. Enfim, um estádio à altura da realização dos jogos da Minicopa e da grandeza da torcida do Santa Cruz.

Três grupos, cada um com cinco seleções, compunham a fase preliminar, de onde apenas os campeões das chaves se juntavam aos países já classificados, entre eles o Brasil, à fase semifinal, dividida em dois grupos com quatro seleções. Recife e Natal receberiam o Chile, Equador, Portugal, Irlanda do Sul e Irã pelo grupo 2 da etapa classificatória.

Logo na primeira rodada, em 11 de junho de 1972, as seleções irlandesa e iraniana se enfrentavam no Arruda, porém, como as duas usavam camisas verdes, houve confusão. A solução para o impasse dos uniformes acabou popularizando um dos times entre os torcedores. O Irã vestiria o uniforme do Santa Cruz e ganharia a simpatia dos tricolores. 9.648 pessoas compareceram ao estádio e viram duas equipes tecnicamente fracas, na vitória suada da Irlanda por 2x1.

Vestindo a camisa do Santa, os iranianos conquistaram, o povão (Foto: reprodução)

Mas o Arruda não sediou apenas esse confronto. Dos dez jogos do Grupo 2, os pernambucanos assistiram a sete. No segundo embate, o Irã, uma seleção amadora, perdeu, por 3x0, para o bom time de Portugal, do craque Eusébio. Na verdade, a Minicopa servia como uma preparação aos iranianos para as Olimpíadas de Munique, em 72. Inclusive, na Alemanha, os asiáticos venceram, por 1x0, o Brasil, eliminado na primeira fase dos Jogos Olímpicos.

Ainda no Arruda, Portugal goleou o Chile (4x1), que por sua vez derrubou a Irlanda (2x1), enquanto o Irã, sempre vestindo o manto coral, conseguiu seu único pontinho ao empatar (1x1) com o Equador.

Na despedida, quando foi registrado o maior público na capital pernambucana – 18.230 -, Portugal confirmou o primeiro lugar vencendo a Irlanda por 2x1, em jogo em que Eusébio foi vaiado pela torcida.

Na preliminar, o Irã, vestindo a camisa do Santa pela última vez, lutou bastante, mas não resistiu a melhor qualidade dos chilenos e perdeu por 2x1.

Portugal terminou na primeira posição do grupo, com oito pontos e classificado para a fase seguinte, Chile, em segundo com seis, em seguida a Irlanda, com quatro, e dividindo o último lugar Irã e Equador, um ponto cada. No final, o Brasil conquistou o título da Minicopa batendo Portugal, 1x0, com um gol de Jairzinho, aos 44 minutos do segundo tempo, no Maracanã.


 

 

 

 

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