BOLA, TRAVE E CANELA-Lenivaldo Aragão

O roupeiro Araponga e a implicância do Cabelo de Fogo  



 Episódio nem um pouco divertido para o roupeiro Araponga, do Náutico, que já não está entre nós, aconteceu na época em que Nunes, o Cabelo de Fogo, defendeu o Alvirrubro. O sergipano – nascido em Cedro de São João (SE), mas registrado em Feira de Santana (BA) – tinha oito pares de chuteira, e sempre que o time jogava fora dos Aflitos, queria que Araponga levasse todo o estoque.

Num clássico com o Santa Cruz, no Arruda, Araponga achou que meia dúzia dava para quebrar o galho e deixou os dois pares restantes na rouparia. Só que na hora de se aprontar para entrar em campo, o tal do João Danado achou de pedir justamente, um dos pares que haviam ficado.

“Isso é implicância”, pensou Araponga, pois o atacante jamais usara tais chuteiras. Nunes insistiu muito, mas terminou, a contragosto, aceitando um dos pares que estavam no saco, isso depois de passar uns dez minutos resmungando.

Bola rolando, Araponga torcia a cada arrancada de Nunes para que o gol saísse e o Náutico vencesse a partida, lembrando-se de um sábio conselho do técnico Orlando Fantoni:

– Tenha muito cuidado porque o jogador nunca tem culpa das coisas. Quando ele escorrega, olha logo para o pé, e com isso está entregando o roupeiro, insinuando que a culpa é da chuteira, mal cuidada, e não dele.

            Nesse dia, porém, Araponga respirou sossegadamente. O Náutico venceu o Santa Cruz, e mesmo com a chuteira indesejada, Nunes balançou a rede duas vezes, com um gol de falta e outro de bola rolando. Mas daí para frente, o experiente roupeiro nunca mais quis correr o risco. Para onde ia, levava a carga completa.

 

 

Comentários