O roupeiro Araponga e a implicância do Cabelo de Fogo
Num clássico com o Santa Cruz, no
Arruda, Araponga achou que meia dúzia dava para quebrar o galho e deixou os
dois pares restantes na rouparia. Só que na hora de se aprontar para entrar em
campo, o tal do João Danado achou de pedir justamente, um dos pares que haviam
ficado.
“Isso é implicância”, pensou Araponga,
pois o atacante jamais usara tais chuteiras. Nunes insistiu muito, mas terminou,
a contragosto, aceitando um dos pares que estavam no saco, isso depois de
passar uns dez minutos resmungando.
Bola rolando, Araponga torcia a cada
arrancada de Nunes para que o gol saísse e o Náutico vencesse a partida,
lembrando-se de um sábio conselho do técnico Orlando Fantoni:
– Tenha muito cuidado porque o jogador
nunca tem culpa das coisas. Quando ele escorrega, olha logo para o pé, e com
isso está entregando o roupeiro, insinuando que a culpa é da chuteira, mal
cuidada, e não dele.
Nesse dia, porém, Araponga respirou
sossegadamente. O Náutico venceu o Santa Cruz, e mesmo com a chuteira
indesejada, Nunes balançou a rede duas vezes, com um gol de falta e outro de
bola rolando. Mas daí para frente, o experiente roupeiro nunca mais quis correr
o risco. Para onde ia, levava a carga completa.
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