O cearense pernambucano e recifense Francisco José (Reprodução Aaron Tura) |
Merecido o título de Cidadão do Recife concedido ao cearense Francisco José. Cearense do Crato, o consagrado jornalista veio morar na capital pernambucana ainda adolescente. Daqui não saiu mais, a não ser para produzir os monumentais trabalhos que o notabilizaram como um dos maiores nomes, não apenas da Rede Globo, mas do jornalismo brasileiro. Logo estava de volta à cidade que havia escolhido como sua.
No início da carreira foi
cronista esportivo, função jamais deixou de exercer, mesmo esporadicamente,
depois de pender para a reportagem geral. Presidiu a Associação dos Cronistas
Desportivos de Pernambuco (ACDP) e a Associação Brasileira de Cronistas
Esportivos (Abrace), postos para os quais foi eleito, graças ao seu dinamismo e à segurança com que defendia
os interesses da classe.
Lembro-me de uma viagem que
fizemos ao Cariri cearense, seu berço, acompanhando o Central, numa temporada
de dois jogos em Juazeiro do Norte. Era ainda a década de 60. Eu estava de
férias em Caruaru e fui convidado pelo saudoso Alcides Lima para integrar a delegação.
Aceitei o convite, e como “soldado no quartel quer serviço”, terminei fazendo a
cobertura para o DIARIO DEPERNAMBUCO, apesar do recesso em que me encontrava. Francisco
José, repórter do JORNAL DO COMMERCIO, por ser da região recebeu idêntico
convite.
A equipe alvinegra viajou num
ônibus da empresa João Teotônio. Viagem enfadonha, principalmente porque tanto
em Pernambuco, como no Ceará, estrada pavimentada ainda era uma raridade. A chefia
da delegação era exercida por Pelado, um ídolo centralino até uns poucos anos antes,
na época do amadorismo.
Juazeiro, cidade acostumada a
receber romeiros em profusão, na sua maioria gente das classes menos
favorecidas, para o pagamento de promessas ao Padre Cícero, na época não
dispunha de bons hotéis. O Central foi alojado numa hospedaria, na qual as
redes proliferavam. Lembro-me de um episódio em que uma empregada da casa,
cantava insistentemente uma música de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, em parceria
com José Clementino, que satirizava os cabeludos, classe em que a equipe patativa
era muito bem representada pelo centroavante Edvaldo. Era o Xote dos Cabeludos.
Dizia a letra:
“Cabra do cabelo grande
Cinturinha de pilão
Calça justa bem cintada
Costeleta bem fechada
Salto alto, fivelão
Cabra que usa pulseira
No pescoço medalhão
Cabra com esse jeitinho
No sertão de meu padim
Cabra assim não tem vez não
Não tem vez não
Não tem vez não
No sertão de cabra macho
Que brigou com Lampião
Brigou com Antônio Silvino
Que enfrenta um batalhão
Amansa burro brabo
Pega cobra com a mão
Trabalha sol a sol
De noite vai pro sermão
Rezar pra Padre Ciço
Falar com Frei Damião
No sertão de gente assim
No sertão de gente assim
Cabeludo tem vez não”
Parou, depois de uma advertência feita por uma colega, bem à moda sertaneja: “Você cantando
isso, depois leva uma resposta daquelas e fica com a cara no chão”.
Chico já tinha viajado, decidido a ficar junto com os familiares. E me
levou de reboque. “Você não vai ficar aqui não, vai ficar comigo”, sentenciou.
Logo um seguimos para o casarão onde ele havia nascido, numa ampla propriedade
rural, no Crato, que fica a 15 quilômetros de Juazeiro. Mordomia em alto grau. Chico
aproveitou para, nas horas vagas, me mostrar parte da Serra do Araripe, que se
estende altaneira pela área, onde estão situadas várias nascentes.
Ainda me presenteou, na saída, com uma caixa de rapadura, produto da
fazenda. A amizade perdura até hoje. Viva o recifense e pernambucano Francisco
José de Brito!
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