REVÓLVER FEZ O JUIZ PIPOCAR
Ilustração de Humberto Araújo |
Há muitos anos, no Estádio Luís Viana Filho, em Itabuna-BA, o Itabuna recebia o Leônico, de Salvador, em jogo do Campeonato Baiano. Era uma noite de sábado. O placar mostrava um empate de 1 x 1, resultado que equivalia ao que as equipes realizavam. O encontro que reunia os grapiúnas, legítimos representantes da região da zona cacaueira tão decantada pelo célebre Jorge Amado, e os soteropolitanos, tornava-se cada vez mais renhido.
A certa altura, apesar de saber que estava mexendo em casa de marimbondos, o árbitro Manuel de Lima Barros marcou um pênalti, por todos considerado inexistente, em favor dos visitantes. Dá para se imaginar o tamanho da confusão que o homem causou dentro e fora de campo.
Os
jogadores do Itabuna protestavam contra a marcação da penalidade máxima,
enquanto o juiz apontava a marca da cal, como dizem os narradores esportivos.
No meio do bafafá apareceu em pleno gramado um dirigente do Itabuna, de
sobrenome Leite. Ao vê-lo caminhando, intrépido e sobranceiro por dentro do
campo, o árbitro pensou: “Estou salvo. Esse aí tem jeito de quem manda por aqui
e vem botar ordem nessa bagunça.”
Acertou
pela metade. O homem que vinha chegando, mandava mesmo. Era um tenente
reformado da Polícia Baiana, que foi logo avisando ao árbitro: “Você roubou
demais e eu não vou deixar bater esse pênalti não.”
Dito
isso, passou da teoria à prática. Pegou a bola, colocou-a debaixo do braço e
encostou-se numa das traves, assumindo uma atitude ao mesmo tempo autoritária e
desafiadora.
Manoel
de Lima Barros olhou para todos os lados e notou que estava sozinho na parada.
Não tinha a quem apelar, sentindo-se incapaz de enfrentar a autoridade.
Suspendeu o jogo por falta de garantias, para gáudio do tenente reformado, que
passou a contar essa bravata em todas as rodas de conversa em que tomava parte.
Sem dúvida, um herói itabunense, embora que às avessas.
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