A vingança do prefeito perna de pau
A história que segue foi
publicada há algum tempo no jornal Folha da Paraíba. Refere-se ao cidadão Zé
Vieira, na época prefeito de Marizópolis, município do Sertão paraibano situado
nas imediações de Sousa. Lá existe um belo estádio, batizado de Vieirão. Marizópolis,
com seis mil e tantos habitantes, dista 450 quilômetros de João Pessoa, a
capital do Estado. O burgomestre, como se dizia antigamente, sempre gostou de futebol,
controlando o time da cidade, como faz o dono da bola nas peladas da meninada. Não
precisou baixar nenhum ato para determinar que só ele usaria a camisa 10 em
qualquer jogo.
Essa apropriação forçada não
era bem vista pelos demais jogadores, que tinham o pretenso craque na conta de
um autêntico perna de pau. Jogava na base do manda quem pode e obedece quem tem
juízo. Bater pênalti era com ele mesmo. E ai daquele que fizesse cara feia.
Na Região ainda hoje se fala
numa partida entre um time reunindo veteranos do Flamengo e uma equipe sertaneja
formada por alguns “caducos”. O prefeito pagou todas as despesas, mas avisou
logo que a 10 tinha dono.
Garantia torcida própria
lotando dois ônibus com torcedores. Estes, a cada jogada do homem, gritavam seu
nome. O prefeito dava uma de artista, parando a bola, botando o pé em cima e distribuindo
acenos para a multidão.
Noutro jogo houve um pênalti
para o time de Marizópolis bater. Convicto e senhor da situação, Zé encaminhou-se
calmamente para a marca da cal. Como araruta tem seu dia de mingau, a equipe
toda se juntou e proibiu que ele cobrasse a penalidade máxima.
E ele não cobrou mesmo. Ficou
de cara amarrada e foi à forra dois ou três dias depois. Interditou o Vieirão,
alegando que o estádio passaria por reformas, que na realidade nunca
aconteceram. E a turma ficou um bom tempo sem jogar bola. Foi a vingança do
prefeito perna de pau.
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