BOLA, TRAVE E CANELA-Lenivaldo Aragão

A vingança do prefeito perna de pau


 

Reprodução de No Ângulo

A história que segue foi publicada há algum tempo no jornal Folha da Paraíba. Refere-se ao cidadão Zé Vieira, na época prefeito de Marizópolis, município do Sertão paraibano situado nas imediações de Sousa. Lá existe um belo estádio, batizado de Vieirão. Marizópolis, com seis mil e tantos habitantes, dista 450 quilômetros de João Pessoa, a capital do Estado. O burgomestre, como se dizia antigamente, sempre gostou de futebol, controlando o time da cidade, como faz o dono da bola nas peladas da meninada. Não precisou baixar nenhum ato para determinar que só ele usaria a camisa 10 em qualquer jogo.

Essa apropriação forçada não era bem vista pelos demais jogadores, que tinham o pretenso craque na conta de um autêntico perna de pau. Jogava na base do manda quem pode e obedece quem tem juízo. Bater pênalti era com ele mesmo. E ai daquele que fizesse cara feia.

Na Região ainda hoje se fala numa partida entre um time reunindo veteranos do Flamengo e uma equipe sertaneja formada por alguns “caducos”. O prefeito pagou todas as despesas, mas avisou logo que a 10 tinha dono.

Garantia torcida própria lotando dois ônibus com torcedores. Estes, a cada jogada do homem, gritavam seu nome. O prefeito dava uma de artista, parando a bola, botando o pé em cima e distribuindo acenos para a multidão.

Noutro jogo houve um pênalti para o time de Marizópolis bater. Convicto e senhor da situação, Zé encaminhou-se calmamente para a marca da cal. Como araruta tem seu dia de mingau, a equipe toda se juntou e proibiu que ele cobrasse a penalidade máxima.

E ele não cobrou mesmo. Ficou de cara amarrada e foi à forra dois ou três dias depois. Interditou o Vieirão, alegando que o estádio passaria por reformas, que na realidade nunca aconteceram. E a turma ficou um bom tempo sem jogar bola. Foi a vingança do prefeito perna de pau.

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