HERÓI NACIONAL

 Santa Cruz do Capibaribe reverenciará Cabo Otávio



Por Lenivaldo Aragão



Na noite do próximo dia 20, a terceira quarta-feira de outubro de 2021, Santa Cruz do Capibaribe, situada no Agreste Setentrional de Pernambuco, em pleno Polo de Confecções, prestará uma merecida homenagem a um dos seus filhos que, se vivo fosse estaria completando cem anos naquela data. Trata-se do santa-cruzense, Otávio Sinésio Aragão, filho de Tito Sinésio Aragão e Maria Silva Aragão, caçula entre 13 filhos do casal.

Ainda no desabrochar da vida, Otávio foi vítima da insensatez e da cobiça voraz e sanguinária de Adolf Hitler na sua carreira belicosa com o objetivo de dominar o mundo. Amilhares de quilômetros do seu chão, o protagonista desta narrativa tombou subjugado pelas tropas nazistas, quando defendia a sua e a nossa Pátria em solo estrangeiro durante a Segunda Guerra Mundial.

Integrante do contingente da FEB (Força Expedicionária Brasileira), componente do bloco de Países Aliados, que combatia a tirania do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), o cabo do Exército Otávio Aragão, convocado em 1943, embarcou em 21/09/1944, num navio da Marinha do Brasil, para fazer a travessia do Atlântico e participar, com altivez e destemor, da cruenta campanha bélica, cumprindo seu dever perante a Nação. Fazia parte de um grupo de 10.690 combatentes brasileiros.

Ainda na minha tenra idade, entre três e quatro anos, alegrei-me, com o irmão Lenildo e primos, ao receber de nosso tio, uma moeda, talvez de dois tostões, com que todos os seus sobrinhos foram agraciados, na noite de sua despedida, interrompendo nossa brincadeira diante do sobrado de Zé Moraes, meu avô materno, localizado na Rua Grande – hoje Av. Padre Zuzinha – na antiga vila de Santa Cruz, na época pertencente ao município de Taquaritinga do Norte. Em vez de um até breve, tratou-se de um adeus definitivo.

Ouvíamos os adultos falarem da guerra, com seus aviões e navios apropriados, mas não tínhamos condições de aquilatar o verdadeiro sentido do grande e injustificável conflito em que o facínora Adolf Hitler envolvera o globo terrestre. Muitos amigos que o cabo Otávio fez na caserna voltaram a pisar no solo pátrio, porém, ele tombou em 30 de novembro de 1944, numa das investidas pela tomada do célebre Monte Castelo. Entre eles estavam o cabo Tiné, de Caruaru, e Biu Ramos, da vila do Pará, na época, situada nos domínios de Taquaritinga, hoje sob a jurisdição de Santa Cruz.  Erundina, a esposa de Biu Ramos, há pouco tempo falecido, era prima de cabo Otávio.



Neusa Aragão Barros, uma de suas muitas sobrinhas do herói santa-cruzense, descreve assim o triste fato no seu livro “História de um Expedicionário”, em que é mostrada a saga vivenciada por aquele milita. Num dos capítulos, sem dúvida, o mais importante, está relatada a passagem de tio Otávio desta para a outra vida:

“30 DE NOVEMBRO DE 1944 – Os acontecimentos deste dia me foram relatados primeiramente por SIZENANDO LOPES DE BARROS, que testemunhou e viveu a primeira batalha de Monte Castelo, juntamente com Otávio, e viu este triste acontecimento.

Tendo sobrevivido ao nefasto 29 de novembro, a ordem era voltar ao ponto de partida. Quando alvorecia o dia 30, quando retornavam às bases, atendendo a ordens superiores, em condições extremamente difíceis, em consequência da última batalha, da chuva, da lama, que há mais de quatro dias dificultava o deslocamento das tropas naquela frente de combate, os “boches” alemães aproveitando-se daquele quadro sinistro de dificuldades, lançaram implacavelmente granadas de morteiro, atingindo a região lombar esquerda do Cabo OTÁVIO.

Ferido mortalmente foi conduzido ao hospital e faleceu no mesmo dia 30, em consequência destes sofrimentos. Na localidade de Bombiana, no Vale do Rio Reno, tombou o nosso HERÓI em plena frente de batalha.

Doou a sua vida jovem, cheia de entusiasmo e amor à PÁTRIA”.   

Uma solenidade terá lugar na Rua Cabo Otávio Aragão, em Santa Cruz do Capibaribe, com a participação de órgãos públicos, poderes civis, estudantes etc. A centenária Banda Musical Novo Século, que nesta segunda-feira (4) completará 121 anos de fundação, abrilhantará o evento, devendo executar um dobrado composto especialmente para a ocasião pelo maestro Rubinaldo Catanha.

 

 

 

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