Marinho, lateral esquerdo de bola cheia, mas e cabeça nem tanto
Marinho foi homenageado pelo Náutico, seu ex-clube, pouco antes de morrer (Foto: Plínio Menezes/Náutico Net) |
São
muitas as histórias que se contam tendo como personagem o lateral-esquerdo
Marinho, revelado nacionalmente pelo Náutico. Louro, vasta cabeleira, do tipo
desmiolado. Por outro lado, era um craque refinado. Começou profissionalmente no
Riachuelo, clube de Natal, ligado à Marinha, de onde se passou para o ABC e
deste para o Náutico.
VIAGEM DE DOIDO
Recém-chegado
aos Aflitos, Marinho aproveitou o dinheiro das luvas contratuais e comprou um Fusca
novinho em folha. Pegou um fim de semana de folga para ir mostrar a ‘joia’ a
amigos e familiares.
Na
volta, com o carro estacionado na frente da concentração alvirrubra, na Rua
Santo Elias, no bairro do Espinheiro, Marinho foi interpelado pelo técnico
Nelson Lucena, que quis saber só por curiosidade quem tinha ido com ele a Natal,
uma vez que o galego não possuía carteira de habilitação e ainda estava
aprendendo a dirigir. A resposta quase fez o treinador e ao mesmo tempo oficial
da PMPE cair de costas:
–
Ninguém foi comigo não, professor. Eu fui e voltei só.
A
fama de doido varrido começou a se espalhar entre os companheiros, embora no
Rio Grande do Norte, o lateral, que chegaria ao Botafogo, Fluminense, São
Paulo, Cosmos de Nova York, Bangu, Fortaleza, América-RN e Seleção Brasileira, já
fosse visto com alguma desconfiança. Sobre ele existe um sem-número de histórias
e estórias, com as mais diferentes origens.
PRESEPADA NO HOTEL
Em
1971, o Náutico, em dado momento, formou duas equipes. Uma, dirigida pelo
veterano treinador Palmeira (José Mariano Carneiro Pessoa), que no Timbu exercia
a função de supervisor, foi a Goiás disputar o Torneio da Integração, juntamente
com o Goiânia e o Campinas, locais, Fluminense-BA, Botafogo-PB, Fortaleza-CE e
União Bandeirantes-PR. O time base era: Dé; Lúcio Mauro, Eduardo, Fernando e
Marinho; Pedrinho, Moreno e Bita; Gilvan, Zezinho e Carlos César.
A
outra equipe, comandada pelo técnico Nelson Lucena, ficou participando da segunda
divisão do Campeonato Brasileiro, chamada de Divisão Especial, hoje Série B. A
formação da estreia, com vitória por 1 x 0, em Maceió, contra o CRB, gol de
Erasmo, foi Varlindo; Gonçalves (Victor), Ubirajara, Oscar e Carlos; Zezinho
Caicó, Marcos e Lindolfo; Elói, Erasmo e Genival.
O jornalista Amaury Veloso, cobriu a viagem dos alvirrubros ao Planalto Central para o Diario de Pernambuco e foi testemunha de vários episódios, trazendo à tona um que tem Marinho, como protagonista. Vejamos:
“Ficamos no Hotel Ytamarati, em Anápolis.
Os jogadores arretados porque não viam a cor do dinheiro. Mais de 30 dias sem
receber e eu cheguei a emprestar dinheiro do meu bolso para dois atletas
comprarem pasta dental. Isso vinha irritando, até que a federação (goiana) pagou
um dinheiro e Palmeira mandou preparar a folha. Mas tinha jogador que reclamava,
e Marinho Chagas que parecia mais um menino que um
jogador, achou de aprontar. Estava no segundo andar do hotel e quando uma
mulher ia passando, ele com um balde cheio de água, sacudiu o líquido sobre a
mulher. Que rebu. Foi uma confusão, e o gerente do hotel queria expulsar a
delegação do Náutico. Tive que mostrar a ele que tinha sido um jogador, que
sería punido, e não os demais, que nada tinham com o acontecido.
Descobrimos
que foi Marinho porque no seu apartamento, na janela, estava molhado, e o balde
junto a sua cama. Ele fez que estava dormindo e o bolo rolando. Até que
convencí o gerente a nós permanecemos no hotel. Palmeira arretado, só faltou
brigar com Marinho.
No
outro dia, surge outra bronca, desta feita com um goleiro do União Bandeirantes,
do Paraná. O goleiro Mão de Onça, deu um soco no vidro de uma janela que a
quebrou. E lá vai o presidente da delegação pedir desculpa e ter que pagar o
vidro. E o gerente dizia:
– Delegação
de futebol aquí mais nunca!
E
depois do acontecido, Marinho Chagas confirmou que foi ele porque estava sem
dinheiro e com saudades da família.
Há um
verdadeiro manancial de casos com Marinho, como estes que seguem, contados pela
imprensa sudestina.
SELEÇÃO BRASILEIRA Edu, Leivinha, Nelinho, Marinho Chagas, Paulo Cesar Carpegiani, Rivelino, Marinho Peres, Luís Pereira, Leão e Piazza (Reprdução internet) |
EXTRAÇÃO A JATO
No
Cosmos, de Nova York, que tinha vários jogadores de expressão mundial, entre os
quais os geniais Pelé e Beckenbauer, o jogador potiguar sofria de constantes
distensões musculares e passou por um exame clínico rigoroso. Depois de
examiná-lo detalhadamente, o médico deu o veredito:
–
Isso deve ser foco. Você precisa extrair uns dentes.
–
É pra já – respondeu Marinho, ao mesmo tempo em que colocava em cima da mesa do
atônito médico, sua novíssima dentadura.
COMO UMA FLOR
Quando
defendia o Botafogo, o lateral sofreu uma intoxicação que revirou seu estômago
e o intestino. Fazia três dias que não aparecia no clube, deixando os dirigentes
bastante preocupados. O vice-presidente de futebol, Rogério Correia, telefonou
para sua residência, tratando de saber o que estava acontecendo. A explicação
do lateral:
–
Doutor, eu não sou flor, mas faz três dias que estou no vaso.
Givanildo e Marinho, dupla de nordestinos na Seleção |
Terminado
seu compromisso com o Cosmos, Marinho regressou para o Brasil com a mais
espetacular implantação dentária que se conhecia. De longe se via o brilho
intenso dos seus novos dentes, que ao sol chegavam a faiscar, dizia-se, com
exagero e tudo. Mas o craque norte-rio-grandense voltou mudado, garantindo que
tinha amadurecido e estava pronto para se tornar um excelente profissional.
Tanto que, ao responder o questionário do Censo, depois de colocar nome, idade
e profissão, chegou o item “sexo”. Firme e convicto, o louro Marinho respondeu:
–
Sim, faço. Mas nunca na véspera dos jogos.
DIREÇÃO PERIGOSA
Certa
tarde, descendo no ônibus da Seleção pela sinuosa Estrada das Paineiras, no
caminho do Corcovado, cheia de curvas e precipícios, ele baixou o boné do
motorista até o queixo e gritou:
–
Agora pessoal, é voo cego.
Comentários
Postar um comentário