É verdade, a seleção de Pernambuco
enfrentou duas vezes o selecionado do Equador, adversário do Brasil, nesta
sexta-feira (4), em Porto Alegre, e se deu bem.
Vamos explicar: em 1959 houve dois
Campeonatos Sul-Americanos, certame hoje denominado Copa América. O primeiro, o
oficial, foi realizado em março, na Argentina. A dona da casa sagrou-se
bicampeã, uma vez que havia levantado a taça dois anos antes, em Lima, no Peru,
e voltou a fazer a festa, desta vez, em casa.
No mesmo ano foi construído em
Guayaquil, no Equador, o moderno Estádio Modelo, hoje chamado de Alberto
Spencer, em homenagem póstuma ao atacante Spencer,
o maior ídolo equatoriano de todos os tempos. Em julho houve a inauguração, com
um quadrangular reunindo Peñarol (URU), Huracan (ARG), e os equatorianos Emelec
e Barcelona.
Os dirigentes locais resolveram dar
maior amplitude ao surgimento do novo estádio, com a realização de um
Campeonato Sul-Americano Extraordinário, em dezembro. Para isso contaram com a
permissão da Conmebol.
O Brasil foi representado por
Pernambuco, cuja equipe, dirigida pelo competente e ao mesmo tempo folclórico
Gentil Cardoso, foi apelidada de Seleção Cacareco. Além do Brasil e do
anfitrião, participaram Uruguai, campeão; Argentina, vice-campeã; e Paraguai.
A seguir, o texto que escrevi para o
tabloide “Jornal Clássico Especial”, que circulou em 2019/20, no 60º
aniversário do Sul-Americano Extra, sobre o jogo Brasil 3 x 0 Equador, disputado
em 19/12/1959:
“A derrota para o Uruguai causou
tristeza, mas não frustração. A Celeste
tinha tradição e impunha respeito. As
atenções da Seleção Brasileira logo se voltaram para o terceiro jogo, contra o
Equador, o dono da festa. Gentil Cardoso decidiu mudar a meia-cancha, escalando
Zé Maria, um volante técnico, de características mais ofensivas, para o lugar
de Biu. Este era um bom jogador, porém, mais capacitado à marcação. E o Brasil
precisava atacar.
Zé Maria, aliás, tinha
trabalhado com Gentil Cardoso em 1955, quando o Sport sagrou-se campeão
pernambucano, no ano de seu cinquentenário. Durante um bom tempo foi o capitão
da equipe rubro-negra.
O goleiro Waldemar, destaque da Cacareco |
Com essa modificação,
Gentil adotava o sistema 4-2-4, utilizado pelo Brasil para levantar o Mundial de
1958, na Suécia, mas ainda pouco utilizado pelos clubes brasileiros. O meio de
campo passava a ser formado por Zé Maria e Geraldo.
SUSTO
O Equador podia não ter
prestígio no futebol sul-americano, mas era uma seleção que merecia ser
respeitada, principalmente porque vinha de um empate por 1 x 1 com a
bicampeã Argentina. E jogava em casa.
O empate que o Equador
havia conseguido diante dos argentinos entusiasmou a torcida local, que lotou o
estádio para ver sua equipe enfrentar o Brasil. A Cacareco dominou o jogo,
poderia ter até aplicado uma goleada. Mas não foi esta a impressão inicial,
posto que, de saída, os brasileiros tiveram um susto. Aos 12 minutos, o
atacante Raffo abriu a contagem para os donos da casa, deixando o time de
Gentil Cardoso um tanto desarrumado por alguns instantes.
Como era superior, a
Seleção Brasileira aos poucos reorganizou-se. Aos 20 minutos, o centroavante
Paulo empatou o jogo. O Brasil continuou atacando e saiu para o intervalo com o
placar favorável: 2 x 1. O gol de desempate foi assinalado de cabeça por
Geraldo, o jogador mais técnico da equipe brasileira.
Na segunda fase, a
Cacareco permaneceu senhora da situação. A Seleção Equatoriana partiu para
cima, mas encontrou uma barreira intransponível. Quando conseguia chutar, tinha
no goleiro Waldemar seu último e imbatível obstáculo.
A partida ia se
aproximando do fim, com os equatorianos lutando brava, mas infrutiferamente, em
busca do empate, quando, num contra-ataque, o cearense Zé de Melo assinalou o
terceiro gol dos brasileiros. Resultado final, Brasil 3 x 1 Equador.
Foi uma festa. A vitória
reabilitadora apagava a mágoa causada pela derrota diante dos uruguaios, e os
brasileiros recebiam muitos elogios pelo bom futebol apresentado. A Rádio Bandeirantes, na voz
de Darcy Reis, se encarregava de espalhar aos quatro cantos o sucesso da
Cacareco diante do dono da casa, além das pernambucanas Clube, Jornal do Commercio e Olinda.
Brasil: Waldemar (Náutico); Zequinha (Náutico), Edson (Santa Cruz) e Givaldo
(Náutico); Zé Maria (Sport) e Clóvis (Santa Cruz); Traçaia (Sport) (Tião-Santa Cruz),
Zé de Melo (Santa Cruz), Paulo (Náutico), Geraldo (Náutico) (Biu-Santa Cruz) e
Elias (Náutico) (Goiano-Santa Cruz).
Obs.: Edson (América-RJ), Paulo (Corinthians)
e Goiano (Palmeiras) vieram reforçar a Cacareco, tendo sido inscritos pelo
Santa e pelo Náutico, apenas por formalidade.
Equador: Bonnari; Arguelo e Gonzabay; Galarza, Gomez e Zaguirre; Balseca,
Palacios, Raffo, Spencer e Canarte,
ÁRBITRO CONHECIDO
A arbitragem foi do uruguaio Esteban
Mariño, conhecido dos pernambucanos. Em 1958, ele era contratado pela Federação
Paulista e foi cedido para apitar os três jogos do supercampeonato de 1957, que
estava atrasado, e foi conquistado pelo Santa Cruz.
REVANCHE
Terminado o campeonato, o Equador
convidou o Brasil para um amistoso, com caráter de revanche, tendo voltado a
perder, agora por 2 x 1.
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