DA CAPITAL DO AGRESTE PARA O RECIFE
Antigo Palácio do Rádio Oscar Moreira Pinto, que abrigava a Rádio Clube |
Alô, olha eu aqui com novos relatos sobre minha trajetória
no mundo da bola. Em Caruaru, no dia 2 de março de 1964, tenho acesso a um
ônibus da Rodoviária Caruaruense, acho que às oito horas da manhã, em companhia
do irmão Lenivaldo Aragão. Deixava naquele dia, minha querida e linda
cidade, que num dia do começo daquele ano, adotamos como nossa abençoada 'pátria'.
Pela BR-232, rumava para um novo lar, o lar do maravilhoso Recife.
Descemos, horas depois,
na antiga Estação Rodoviária, no Bairro de São José. Fomos, com mala e tudo,
direto para o Palácio do Rádio, que abrigava a Clube de Pernambuco, a fulgurante PRA-8. Tímido, fui me
aproximando das feras do microfone, tão acostumado a ouvi-las nas transmissões
esportivas. Lá estavam o chefão Renato Silva e os brilhantes narradores Vicente
Lemos e Antônio Menezes. Renato, o locutor principal estava de partida, de
volta à sua terra natal, São Paulo, para trabalhar na Rádio Piratininga. Divertido e brincalhão, logo perguntou-me se eu
chegava para substituí-lo no comando da consagrada equipe de esportes da
Avenida Cruz Cabugá. Foi uma risadagem geral.
Quem, de fato e de
direito, ocupou seu lugar foi o extraordinário narrador Luiz Cavalcante, que
trocou a Olinda pela Clube. E que, anos depois, se
transformaria no comentarista da "Palavra Abalizada''. E no maior de todos
os tempos, na análise do futebol.
Fui morar ao lado dos
irmãos Lenivaldo e Lenildo, de Vicente, do radialista Genivaldo De Paci, do
estudante de agronomia Juarez, que me presenteou com um manual de datilografia.
Na pequena Olivetti, de Lenivaldo, logo aprendi direitinho a mexer com as
letras da engenhosa peça de escrever. Ganhei rapidez na nova soberana arte, sem
saber que um dia, tanto me ajudaria na profissão de repórter esportivo. Isso, só
ocorreu perto do fim do ano, depois de ser reprovado num teste no escritório
recifense da Nestlé e de recusar um convite para ingressar na Rádio Capibaribe.
Passava parte do meu
tempo, numa travessa da Rua da Palma, no Bairro de São José, pedaço da
área central da cidade. Lá, ao lado de um lavador de carros, de nome Toinho, e
de outros, fazendo uma coisa que sempre gostei, o de correr atrás de uma bola
de futebol, de couro, diga-se. Era uma pequena rua calçada sem saída, por onde
não transitavam carros. Fiz belos gols naquele campo, duro de doer. Às vezes,
meu rumo era outro. Pela manhã, aqui e acolá, meu endereço era a calçada
famosa do Bar Savoy e do Café Nicola, local povoado por um batalhão de
torcedores durante a semana a discutir futebol. Na segunda-feira, então, o público
era maior, para analisar o jogo do domingo. Sim, não a rodada, era uma
partida, apenas. De quinta até o sábado, este dia com menos gente, se discutia
o jogo do novo domingo. E assim era a rotina do público da "arquibancada
do Savoy/Café Nicola”.
Josa e Paulo, amigos |
De vez em quando, ia
parar no campo do Santa Cruz, no Arruda. Cheguei a caminhar da Rua da Palma até o Arruda, ida
e vinda, para ver os treinos do Tricolor. A arquibancada no Alçapão do Arruda
era em um só lado e de madeira. Naquela época, o campo não era como é hoje. As
barras eram localizadas nas áreas em sentido da rua Rosa Gatorno e da Avenida
Beberibe. Depois, com a construção do estádio, é que o comprimento do gramado
ficou fixado no sentido rua das Moças ao canal do Arruda.
Foi embaixo da antiga arquibancada que
conheci Rodolfo Aguiar, então um simples torcedor, transformado em presidente
nos anos 70 e num dos mais ilustres dirigentes, não só do clube, mas até mesmo
do futebol pernambucano. E no saudoso campinho da Avenida Beberibe, chamado
mais tarde de "O Colosso", de "O Mundão", me aproximei do
repórter Josa Macedo, que viraria um dos meus melhores companheiros do
jornalismo esportivo de Pernambuco. Trabalhamos na Rádio Clube e no Jornal do
Commercio. Fomos amigos, até a morte dele, há uns dez anos.
Entrevistando o árbitro Luís Carlos Félix |
Foi numa conversa simples, que vendo
meu interesse em seguir a mesma carreira, perguntou-me se não queria fazer um
teste de redator na equipe de esportes da Rádio
Capibaribe, comandada por César Brasil, um dos mais valorizados nomes da
crônica esportiva do Estado naquela época. Fui aprovado e substituiria o
repórter Herbert Drumond, que, mesmo ainda bem jovem, era muito talentoso e estava
afastado por motivo de doença. Iria fazer a cobertura dos treinos do Sport. Meu
primeiro dia, seria numa segunda-feira à noite. Tímido e medroso, e na
véspera, na noite de um domingo, é claro, liguei para a rádio informando que
desistira da função. Aleguei que iria passar a festa de São João, dois ou três
dias depois, em Caruaru. Não era verdade, amarelei mesmo e estava dessa forma
adiado meu batismo no jornalismo esportivo, onde o irmão Lenivaldo Aragão já se
destacava na Rádio Clube e no Diário de Pernambuco. Quase no fim
daquele ano, o ano de 1964, comecei naquela que seria minha profissão até os
dias de hoje.
A história continua na nova coluna,
dentro de mais alguns dias. Prometo não demorar tanto em voltar com minhas
escritas. Aguarde meu novo encontro, você amigo, você amiga. Até, então!
·
·
·
·
Amarelinho. Teve medo da ilha do Retiro.
ResponderExcluir