Juiz dá aquele drible no dirigente raivoso
O árbitro Arlindo Maciel, há mitos
anos aposentado, sempre se metia numa polêmica. Certa vez, ainda iniciante, foi
convidado para acompanhar a equipe do Real da Mustardinha, para dirigir a
equipe do bairro recifense onde morava, para um amistoso com o Central
Barreiros, na cidade de Barreiros, na Zona Sul de Pernambuco.
Amigo do pessoal do Real, já
integrando o quadro da Federação, como amador, o novo juiz de futebol ficou
alegre com o convite. Era a chance de pegar um dinheirinho extra.
No domingo cedinho, ansioso, Arlindo
Maciel pulou da cama, entrou no banho às pressas, tomou um café reforçado e
dirigiu-se à sede do Real, onde foi recebido com muita alegria. Um árbitro
oficial evitaria que o Real fosse roubado, pensou o pessoal da Mustardinha.
A diretoria havia contratado vários
táxis para levar e trazer a delegação de volta. Chegada festiva a Barreiros,
com o pessoal do time local tratando os visitantes de maneira muito gentil. O
árbitro, então, esse era quase reverenciado.
Chegou a hora do jogo. Orgulhoso no
seu uniforme preto, com o logotipo da FPF, Arlindo Maciel tratou de apitar tudo
o que via. O Central Barreiros vinha realizando amistosos todos os domingos,
até com times de expressão, como seu homônimo Central de Caruaru. Estava
afiado. E começou a fazer gol.
A certa altura houve um pênalti contra
os visitantes que o juiz não titubeou em assinalar, provocando uma revolta
muito grande entre os jogadores do Real, que, por terem levado o árbitro,
achavam que ele devia protegê-los.
O amistoso terminou com a merecida
vitória da equipe da casa por 3 x 1. Arlindo viu a turma do Real com a cara
feia, mas não ligou. Coisa normal, raciocinou. Finalmente, quem é que vai ficar
mostrando os dentes depois de uma derrota?
Cara
feia? Quem ficou mesmo foi Arlindo quando foi informado pelo chefe da delegação
que não havia vaga pare ele voltar.
– Como não há vaga, se houve na vinda?
– É, mas tá muito apertado e não dá
mesmo – respondeu o dirigente, na maior das ignorâncias, dando o papo por
encerrado.
Desesperado, uma vez que àquela altura
não havia mais ônibus para o Recife, Arlindo usou de criatividade e, com a
concordância do motorista de um dos carros, fez a viagem na mala do veículo,
sem muito conforto, é verdade, mas garantindo o regresso são e salvo. Quanto à
taxa de arbitragem não viu nem a cor.
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