O livro Basquetebol do Náutico-História e Estórias, organizado por Gildo Benício e Luciano Azevedo e coordenado por mim, lançado em 2008, aborda a presença de um negro no basquete alvirrubro, quando ainda era muito flagrante o preconceito racial. Na parte que lhe coube, o ex-basquetista, Paulo Montezuma, o famoso Paulo Oião, falou sobre Giba, o atleta em foco. Vejamos:
No
artigo “massificação alvirrubra”, o jornalista Moisés de Holanda, com base em
declarações minhas, afirma o seguinte: “Segundo o economista Paulo Montezuma,
estudioso da história timbu, poucos dos clubes do Brasil tiveram tanta
resistência para admitir a presença de negros em seus times. Talvez, o
Palmeiras e o Náutico, no início dos anos 60, tenham sido os últimos times do
País a aceitar jogadores negros, pois a elite não achava interessante essa
mistura com os negros”.
A
explicação para o artigo sobre o elitismo alvirrubro estava associada aos
primórdios do clube, fundado no período de pós-libertação dos escravos. “O
Náutico foi um produto natural do quadro sócio-econômico da época em que
surgiu. Seus fundadores eram jovens que praticavam esportes da elite e, por
isso, não admitiam a mistura com os ex-escravos e seus descendentes”, afirma
Montezuma.
Montezuma
ainda explica que, além do preconceito racial havia – e ainda persiste – o problema
econômico – esses dois fatores estão muito ligados no Brasil. Sabemos que na
maioria dos casos, os negros são pobres – segundo Montezuma, o fato de o
Náutico ter construído sua sede em um bairro nobre, como os Aflitos, ajudou a
aproximar a elite e a burguesia do Timbu.
Essas
afirmações que confirmo no extenso artigo de Moisés de Holanda – disse Paulo
Montezuma – grande parte citando o meu nome, visam afirmar a importância do
basquetebol alvirrubro para tornar o nosso aristocrático Clube Náutico
Capibaribe, também um clube do povo.
A
transcrição de parte do referido artigo comprova que os alvirrubros, jogadores
de basquete do Náutico na década de sessenta, uma grande maioria colaboradores
para a edição deste livro, dizem ser verdadeiro. Portanto, descrevo parte do
texto que destaca – Giba foi o primeiro atleta amador negro.
Em
1964, o Náutico recebeu seu primeiro jogador negro. Era Gilberto Nascimento, o
Giba, à época com 30 anos. Preciso nos rebotes e na distribuição de bola, o
atleta que antes jogara pelo tradicional Jet e pelo Sport, foi defender as
cores alvirrubras. O sucesso de Giba em Rosa e Silva foi uma espécie de espelho
para outros negros atuarem pelo Náutico, nos mais diversos esportes.
Mesmo
com os amigos aconselhando-o a não assumir a empreitada, ele topou o desafio. “Todo
o mundo me dizia para não ir, pois iam me tratar mal por não gostarem de negros
no Náutico, mas pelo contrário, fui bem recebido”.
Nos
oito anos em que defendeu o clube, sempre como amador, Gilberto revela não ter
sofrido preconceito. “Sempre fui bem tratado”, conta o atleta, homenageado com
o título de sócio-emérito, honraria concedida aos que deram grandes vitórias ao
clube. “Podia ser que houvesse preconceito com relação aos negros na vida
social do clube, mas como desportista nunca senti”, complementa.
Com
a sua entrada, muitos outros atletas negros, inclusive no futebol, tiveram
maior espaço e, assim, o clube ganhou maior simpatia nas camadas populares. “Acho
que o clube ficou mais aberto às pessoas negras e pobres".
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