SELEÇÃO CACARECO (16)



BRASIL NÃO RESISTE À CELESTE OLÍMPICA


Depois de derrotar o Paraguai, na estreia, o Brasil começou a se preparar para enfrentar o Uruguai. Evidentemente, o triunfo sobre os paraguaios criou um clima não de extrema confiança, mas de esperança quanto aos compromissos futuros, não obstante o respeito que os comandados do Velho Marinheiro demonstravam ter pela Argentina e pelo Uruguai, com os quais o Brasil disputa a liderança do futebol sul-americano.

Os jornais de Guayaquil passaram a dar uma cobertura mais   intensa   à   nossa   equipe. As entrevistas na televisão, que já existia por lá, e em Pernambuco ainda estava para chegar, eram uma novidade para nossos atletas, menos para os que já tinham atuado no Rio e em São Paulo.

O pacato e animado ambiente da Cacareco tinha ficado agitado, como se viu, quando o técnico Gentil Cardoso, achando que o bicho de dez dólares pela vitória sobre os paraguaios era irrisório e instigou seus comandados a recusarem o prêmio. Mas a habilidade e a dureza com que Rubem Moreira agiu no episódio fizeram com que a situação fosse contornada.


Edson, Waldemar (goleiro) e Zequinha não resistiram aos uruguios


LEMBRANDO O MARACANAÇO
Passada a tempestade, veio o jogo contra o Uruguai, em 12 de dezembro. Embora já fizesse quase uma década do fracasso brasileiro diante da Celeste Olímpica, na final da Copa do Mundo de 1950, no Maracanã, o maracanaço era lembrado como ainda acontece nos tempos atuais.

Entre os jogadores da Seleção Cacareco havia alguma confiança, mas não deixava de existir um certo nervosismo, só em pensar no nome da “fera” que iriam enfrentar.
O sentimento de responsabilidade tornava-se mais tênue, quando os brasileiros eram confrontados com retrospecto pós-Copa de 1950 entre os dois países.

Depois do trágico 16 de julho de 1950, o Brasil e o Uruguai haviam se enfrentado seis vezes, com quatro vitórias brasileiras, uma uruguaia e um empate. Recordemos os resultados:

Brasil 4 x 2 Uruguai, Santiago/Chile, Campeonato Pan-Americano, 16/08/1952
Brasil 1 x 0 Uruguai, Lima/Peru, Campeonato Sul-Americano, 15/03/1953
Brasil 0 x 0 Uruguai, Montevideo/Uruguai, Campeonato Sul-Americano, 10/02/1956
Brasil 2 x 0 Uruguai, Rio de Janeiro/Brasil, Copa do Atlântico, 24/06/1956
Brasil 2 x 3 Uruguai, Lima/Peru, Campeonato Sul-Americano, 28/03/1957
Brasil 3 x 1 Uruguai, Buenos Aires/Argentina, Campeonato Sul-Americano, 23/03/1959.
Portanto, em seis jogos, quatro vitórias da equipe verde e amarela, uma dos celestes e um empate.

FORÇA TOTAL
Agora, para o Sul-Americano Extra, os uruguaios haviam chegado ao Equador com sua força máxima. A eles pouco interessava que os novos campeões do mundo, vencedores da Copa de 1958, na Suécia, não estivessem sendo representados por seu time principal. Fosse o que fosse, não deixava de ser o Brasil.

Depois da Copa do Mundo de 1950 até então tinha havido quatro edições do Sul-Americano, hoje chamado de Copa América.

Em 1953, em Lima, o Paraguai levantou a taça, tendo o Brasil ficado com o vice-campeonato. O Uruguai foi o terceiro colocado.

Três anos depois, em 1956, o Uruguai bancou a festa, e soube se aproveitar do fato de estar em casa. Deu a volta olímpica, seguido do Chile. Argentinos e brasileiros tiveram que se contentar com o terceiro e o quarto lugar, respectivamente.

Em 1957, a competição foi novamente disputada em Lima. Deu Argentina no alto do pódio, com o Brasil na segunda posição e o Paraguai em terceiro lugar,

A Argentina bisou o feito de Lima ao tornar-se bicampeã em março de 1959 diante de sua torcida, tendo o Brasil como vice e o Paraguai na terceira colocação.

Agora no Equador, a Celeste tinha o propósito de repetir o feito de três anos atrás, no campeonato que havia realizado. Aos companheiros de Sacia, a estrela uruguaia daquele momento, não importava que o campeonato promovido pelo Equador tivesse o caráter extraordinário. Eles haviam sido muito criticados porque em gramados argentinos, no primeiro semestre do mesmo ano, 1959, tinham terminado o certame na penúltima colocação, acima apenas da fraca Bolívia e precisavam dar uma resposta à mídia e à “hinchada”.

RESISTÊNCIA QUEBRADA
O Brasil resistiu no primeiro tempo à volúpia uruguaia, tendo ido para o vestiário no término do primeiro tempo, com o placar do Estádio Modelo, mostrando um 0 x 0 que refletia o que os times haviam apresentado nos primeiro 45 minutos.

Na volta, a verdade é que a Seleção Cacareco não estava preparada psicologicamente para levar um gol, de saída. Isso aconteceu logo aos 4 minutos, através do ponta-esquerda Escalada.

A equipe brasileira ficou desnorteada. Ao longo da partida, o técnico Gentil Cardoso procurou remediar a situação, colocando sangue novo em campo. O ponta-esquerda Elcy substituiu Geraldo no meio-campo, e Tião entrou em lugar de Traçaia. Mas Sacia acabou com a reação que o Brasil parecia ensaiar, balançando a rede de Waldemar aos 22 e 30 minutos. Resultado final, Brasil 0 x 3 Uruguai, com arbitragem do argentino José Luiz Trataldi.

Brasil: Waldemar; Zequinha, Edson, Clóvis e Givaldo; Biu   e   Geraldo (Elcy); Traçaia (Tião), Zé de   Melo, Paulo e Elias.
Uruguai: Sosa; Mendez e Messias; Grouche, Silveira e Gonzalez; Perez, Vergara, Douksas, Sacia e Escalada.

O mesmo Uruguai, dias depois goleou a Argentina, a então campeã sul-americana, por 5x0, aumentando o favoritismo que lhe era atribuído pelos jornalistas.  Favoritismo, aliás, que se confirmaria, uma vez que   a Celeste Olímpica levaria para Montevidéu a taça em disputa no Equador.


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