Decepção na Terra de Iracema
Depois de alguns coletivos, no Alçapão do Arruda, a
pedido do técnico Gentil Cardoso foram acertados três amistosos contra seleções
de outros Estados nordestinos. O time
que representaria o Brasil no exterior precisava ser testado.
O primeiro dos amistosos foi programado para o
Estádio Presidente Vargas, o templo do futebol cearense, na época. O jogo Ceará
x Pernambuco despertou muito interesse pela curiosidade dos torcedores da Terra
de Iracema em conhecer a equipe que representaria o Brasil no Sul-Americano
Extra, no Equador. Uma atração especial era a presença, na Cacareco, de dois jogadores
da terra, o lateral direito Geroldo e o meia ponta de lança Zé de Melo, ambos
do Santa Cruz.
Zé de Melo, Geroldo, Gentil Cardoso, Bria e Zé Maria, rumo a Fortaleza (Acervo Diario de Pernambuco) |
Tanto que, num dos jornais de Fortaleza, o Unitário, a manchete da notícia sobre a chegada dos pernambucanos
foi “tem cearense na Seleção”. Era mais uma maneira de chamar o povo para ver o
amistoso.
Por cima de tudo havia a rivalidade. No Campeonato
Brasileiro de Seleções, Pernambuco levava uma ampla vantagem no confronto entre
os dois Estados, com nove vitórias e um empate em 10 jogos disputados. Vejamos
os resultados:
1925 Pernambuco 10 x 1 Ceará – Av. Malaquias / Recife
1926 Pernambuco 2 x 1 Ceará – Graças / Salvador
1929 Pernambuco 1 x 0 Ceará – Av. Malaquias / Recife
1931 Pernambuco 5 x 2 Ceará – Jaqueira / Recife
1939 Pernambuco 3 x 2 Ceará – Jaqueira / Recife
1940 Pernambuco 2 x 1 Ceará – Ilha do Retiro / Recife
1942 Pernambuco 1 x 1 Ceará – Presidente Vargas / Fortaleza
1942 Pernambuco 3 x 2 Ceará – Ilha do Retiro / Recife
1956 Pernambuco 1 x 0 Ceará – Aflitos / Recife
1956 Pernambuco 1 x 0 Ceará – Presidente Vargas / Fortaleza
NÃO AGRADOU
Jogo noturno, no meio da semana, o PV lotou. Todavia,
torcedores e jornalistas locais saíram
decepcionados. Para a Seleção Pernambucana, ainda jogando com o uniforme nas
cores azul e branco de Pernambuco, tratava-se de um jogo preparatório. Só que
ninguém queria perder, é claro. Para usar a linguagem das arquibancadas, a
equipe comandada por Gentil Cardoso não viu a cor da bola no primeiro tempo,
saindo para o intervalo cabisbaixa, amargando uma inesperada derrota por 3x0.
Na segunda fase, os pernambucanos melhoraram,
fizeram dois gols e continuaram a pressionar. Porém, o time da casa começou a
fazer de tudo para assegurar a vitória. Cometia faltas seguidas e
desnecessárias, ao mesmo tempo em que chutava a bola constantemente para as
laterais a fim de ver o tempo se
esgotar. Fim de jogo, Ceará 3,
Pernambuco 2.
No Recife, o Diário
da Noite de 14/11/1959 afirmava: “Terminado o encontro de ontem, a imprensa
alencarina, usando os microfones, verberou contra a Seleção Pernambucana. A Ceará Rádio Clube puxou o cordão: ‘Não
tem capacidade alguma. Não tem categoria para representar o Brasil em Guayaquil. É como disse há pouco tempo a própria imprensa pernambucana, que chamou
um escrete cacareco.’”
Gentil e Dodô: abraço depois do jogo |
COBRANÇA DA TORCIDA
Noutro amistoso, no Recife, contra a seleção de
Alagoas, no primeiro tempo, Gentil Cardoso botou em campo a equipe titular, e
no segundo entrou em ação o time B. Depois do jogo, o treinador alagoano dizia que tinham sido 22 contra 11.
Pernambuco aplicou uma goleada de 5x0, mas a torcida não gostou. Havia a
opinião generalizada de que a Federação deveria trazer adversários que
exigissem mais da Cacareco. Só assim a equipe poderia ser
devidamente testada.
A fase de jogos-treinos foi encerrada contra o selecionado
de Sergipe, na Ilha do Retiro, mesmo local da goleada sobre Alagoas. Pernambuco
voltou a vencer por 5x0.
Diante das reclamações sobre a fraqueza dos
‘sparings’, Gentil lembrava que a Seleção Brasileira, na preparação para a Copa
do Mundo da Suécia, perdeu para um misto do Flamengo por 1x0, gol de um
juvenil, Manuelzinho. Mesmo assim trouxe a taça da Suécia.
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