SELEÇÃO CACARECO (8)


 Decepção na Terra de Iracema


Depois de alguns coletivos, no Alçapão do Arruda, a pedido do técnico Gentil Cardoso foram acertados três amistosos contra seleções de outros Estados nordestinos.  O time que representaria o Brasil no exterior precisava ser testado.

O primeiro dos amistosos foi programado para o Estádio Presidente Vargas, o templo do futebol cearense, na época. O jogo Ceará x Pernambuco despertou muito interesse pela curiosidade dos torcedores da Terra de Iracema em conhecer a equipe que representaria o Brasil no Sul-Americano Extra, no Equador. Uma atração especial era a presença, na Cacareco, de dois jogadores da terra, o lateral direito Geroldo e o meia ponta de lança Zé de Melo, ambos do Santa Cruz. 

Zé de Melo, Geroldo, Gentil Cardoso, Bria e Zé Maria, rumo a Fortaleza (Acervo Diario de Pernambuco)


Tanto que, num dos jornais de Fortaleza, o Unitário, a manchete da notícia sobre a chegada dos pernambucanos foi “tem cearense na Seleção”. Era mais uma maneira de chamar o povo para ver o amistoso.

Por cima de tudo havia a rivalidade. No Campeonato Brasileiro de Seleções, Pernambuco levava uma ampla vantagem no confronto entre os dois Estados, com nove vitórias e um empate em 10 jogos disputados. Vejamos os resultados:
1925   Pernambuco 10 x 1 Ceará – Av. Malaquias / Recife
1926   Pernambuco 2 x 1 Ceará – Graças / Salvador
1929   Pernambuco 1 x 0 Ceará – Av. Malaquias / Recife
1931   Pernambuco 5 x 2 Ceará – Jaqueira / Recife
1939   Pernambuco 3 x 2 Ceará – Jaqueira / Recife
1940   Pernambuco 2 x 1 Ceará – Ilha do Retiro / Recife
1942   Pernambuco 1 x 1 Ceará – Presidente Vargas / Fortaleza
1942   Pernambuco 3 x 2 Ceará – Ilha do Retiro / Recife
1956   Pernambuco 1 x 0 Ceará – Aflitos / Recife
1956   Pernambuco 1 x 0 Ceará – Presidente Vargas / Fortaleza


NÃO AGRADOU
Jogo noturno, no meio da semana, o PV lotou. Todavia, torcedores e jornalistas   locais saíram decepcionados. Para a Seleção Pernambucana, ainda jogando com o uniforme nas cores azul e branco de Pernambuco, tratava-se de um jogo preparatório. Só que ninguém queria perder, é claro. Para usar a linguagem das arquibancadas, a equipe comandada por Gentil Cardoso não viu a cor da bola no primeiro tempo, saindo para o intervalo cabisbaixa, amargando uma inesperada derrota por 3x0.

Na segunda fase, os pernambucanos melhoraram, fizeram dois gols e continuaram a pressionar. Porém, o time da casa começou a fazer de tudo para assegurar a vitória. Cometia faltas seguidas e desnecessárias, ao mesmo tempo em que chutava a bola constantemente para as laterais a fim de ver o   tempo se esgotar.  Fim de jogo, Ceará 3, Pernambuco 2.

No Recife, o Diário da Noite de 14/11/1959 afirmava: “Terminado o encontro de ontem, a imprensa alencarina, usando os microfones, verberou contra a Seleção Pernambucana. A Ceará Rádio Clube puxou o cordão: ‘Não tem capacidade alguma. Não tem categoria para representar o   Brasil em Guayaquil.  É como disse há pouco tempo   a própria imprensa pernambucana, que chamou um escrete cacareco.’” 

Gentil e Dodô: abraço depois do jogo


COBRANÇA DA TORCIDA
Noutro amistoso, no Recife, contra a seleção de Alagoas, no primeiro tempo, Gentil Cardoso botou em campo a equipe titular, e no segundo entrou em ação o time B. Depois do jogo, o treinador alagoano   dizia que tinham sido 22 contra 11. Pernambuco aplicou uma goleada de 5x0, mas a torcida não gostou. Havia a opinião generalizada de que a Federação deveria trazer adversários que exigissem mais da Cacareco. Só assim a equipe poderia   ser   devidamente testada.

A fase de jogos-treinos foi encerrada contra o selecionado de Sergipe, na Ilha do Retiro, mesmo local da goleada sobre Alagoas. Pernambuco voltou a vencer por 5x0.

Diante das reclamações sobre a fraqueza dos ‘sparings’, Gentil lembrava que a Seleção Brasileira, na preparação para a Copa do Mundo da Suécia, perdeu para um misto do Flamengo por 1x0, gol de um juvenil, Manuelzinho. Mesmo assim trouxe a taça da Suécia.


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