Rubem em almoço no Sport, em 1975, com Heleno Nunes, presidente da CBF, médico Elias Barbosa, funcionário do futebol Janos Tatrai e o técnico Duque |
No Recife, em 1955, três anos antes de João
Havelange chegar à presidência da CBD, uma figura começara a dar os primeiros
passos na caminhada que o levaria a ocupar um lugar no seleto espaço reservado
à alta cartolagem nacional. Elegia-se presidente da Federação Pernambucana de
Futebol (FPF), o comerciante Rubem Rodrigues Moreira.
Embora sua candidatura tenha sido
lançado pelo Íbis Sport Club, do qual era o representante na Federação, Rubem militava
no América Futebol Clube desde a adolescência. Passou um tempo afastado do
Alviverde por causa de desavenças administrativas.
O presidente e fundador do Íbis, Onildo Ramos (pai de Ozir Ramos, ex-presidente,
e avô de Júnior, o atual comandante do Pássaro Preto) aproveitou a situação para torná-lo o
representante do rubro-negro do bairro de Santo Amaro na FPF. Com seu poder de argumentação
e convencimento, RM logo passou a
ser figura de destaque nas reuniões entre os dirigentes dos clubes e da própria Federação.
Dirigindo reunião da FPF em sede improvisada,enquanto o prédio atual era construído |
ENTRE AMERICANOS
Dos embates em que tomava parte surgiu a
pretensão de Rubem presidir a “casa do futebol”. O Íbis lhe deu a necessária guarida. Logo veio
o apoio de outros paredros, seu termo
preferido ao se referir aos dirigentes. Eleito, substituiu o desportista Evyo
de Abreu e Lima, cujo antecessor havia sido Sigismundo Cabral de Melo – Siza. Por
coincidência, ambos eram americanos, como Rubem.
O novo presidente da Federação
Pernambucana de Futebol – antes, Liga Sportiva Pernambucana, Liga Pernambucana
de Desportos Terrestres e Federação Pernambucana de Desportos –, era recifense
da Torre.
Nasceu em 6 de março de 1909, filho do
casal João Antônio Beltrão Moreira/Maria Amélia Rodrigues, e era irmão de Romildo,
José. João, Conceição, Noêmia e Carminha. Em dado momento, a família mudou-se
para Olinda, onde nasceram vários descendentes dos Moreira.
TUDO PELO TÍTULO Desde jovem, Rubem Moreira fazia parte do América,
tendo jogado pelo juvenil do Campeão do Centenário em 1928.
Ao contrário dos irmãos João e José, que
presidiram o clube, sempre atuou como
diretor. Era ele quem comandava o departamento de futebol, em 1944,
quando o Alviverde sagrou-se campeão pernambucano pela sexta e última vez.
Para encerrar um jejum iniciado após o
título obtido em 1927, o dirigente, segundo depoimento da viúva dona Branca ao
jornalista Givanildo Alves para o livro "85 Anos de Bola Rolando", gastou
até uma reserva financeira mantida para a aquisição de uma casa.
Diretor de futebol, na concentração do América, em 1944, com o jornalista Hélio Pinto |
CANTOR DAS MULTIDÕES
Impetuoso, autoritário e dominador, muitas
vezes chamado de ditador por dirigentes e jornalistas, o novo comandante do
futebol pernambucano tinha se destacado no Periquito ao lado
dos irmãos João e Zezé.
Orlando Silva abrilhantou a festa |
Fora do futebol, o quarteto João,
Romildo, João e Zezé fundou a firma Moreira Irmãos, revendedora de peças de
automóveis da marca Chevrolet. A inauguração, na Rua da Concórdia, em janeiro
de 1945, dentro da mania de grandeza, que era uma marca registrada em Rubem, foi
abrilhantada com a presença do célebre Orlando Silva, um dos maiores astros da
música nacional em todos os tempos, chamado de “O Cantor das Multidões”. Comparando
com os dias atuais, seria como se Roberto Carlos fosse a atração do evento. Posteriormente
surgiram outros negócios, como a fabricação do refrigerante da marca Mirinda.
(O
engenheiro e empresário do ramo de construção José Alexandre MIRINDA Moreira,
sobrinho de Rubem e filho de Zezé (José Augusto Moreira), foi apelidado na
escola com o nome do refrigerante fabricado pela família. Levou o apelido para as
quadras de futsal, onde brilhou, defendendo o Náutico e o Santa Cruz, e para a
presidência do Tricolor (biênio
1993/94). Hoje, o Mirinda está por ele oficializado como sobrenome.)
QUASE TRÊS DÉCADAS
Rubem foi o mais longevo de todos os
presidentes da FPF, que comandou durante 27 anos, ininterruptamente, de 1955 a
1982. Substituído pelo dentista Dilson Cavalcanti, por força de uma lei federal
que passou a proibir mais de uma reeleição aos presidentes de federações,
projetava voltar em 1984. Porém, a morte em 2/4/1984, causada por um câncer,
frustrou seus planos, aos 75 anos de idade.
Rubão, como era conhecido entre os
cartolas e jornalistas do Sudeste por causa dos rompantes e do jeito mandão,
que o levavam a ser comparado a um típico ‘coronel’ da zona rural, tornou-se o
maior cabo eleitoral de Havelange, graças à sua penetração nas regiões Norte e
Nordeste.
Em Pernambuco também era chamado de
Comodoro por ter sido o primeiro a exercer a comodoria do Cabanga Iate Clube,
tendo sido ao mesmo tempo o responsável pela construção da sede, localizada à
margem da Bacia do Pina, no bairro da Cabanga.
Visita ao Estádio Cornélio de Barros, quando o Salgueiro atual nem existia |
DRAGÃO NEGRO
Ao contrário do que muitos
desinformados imaginavam no Sudeste, Rubem, embora tivesse estudado apenas até
o segundo ano ginasial era cobra criada. Havia morado dez anos no Rio, a partir
de 1932.
Na então capital do País negociava com
antiguidades, período em que fez muitas
amizades no Flamengo, clube pelo qual torcia. Chegou a fazer parte da poderosa
facção Dragões Negros, de muita força no Conselho Deliberativo do clube mais
popular do Brasil.
Com o tempo passou a ser uma figura
nacional no mundo esportivo. Disso foi testemunha o conceituado radialista
Geraldo Freire, que contou, em 2019, no seu também longevo programa “Super
Manhã”, na Rádio Jornal:
– Certa vez eu estava no Rio para fazer
uma cobertura na CBF. Rubem Moreira, também estava lá. Estávamos no Centro e saímos
para a CBF. Estranhei que em vez de pegar um táxi, ele preferiu ir a pé. Queria
me mostrar como era conhecido e admirado. Você não imagina, como ele era parado
na rua por pessoas que queriam cumprimentá-lo. E naquela época, a televisão não
vivia mostrando a cara dos dirigentes, com tanta frequência, como agora.
VICE-REI
Com a candidatura de João Havelange,
então vice-presidente da antiga CBD, para substituir, em 1958, o presidente
Sylvio Pacheco, que o apoiava, Rubem se tornou uma das figuras mais ligadas ao futuro
cartola-mor. A influência junto aos seus pares da Região levou-o a ser chamado
pela mídia do Centro-Sul de o “vice-rei do Nordeste”. Terminou Havelange criando o cargo de
vice-presidente da CBF para Assuntos do Nordeste, especialmente para ele.
Na inauguração do Rei Pelé |
A cada
eleição, Rubem batalhava acirradamente, viajando aos Estados ou
realizando reuniões no Recife, visando à continuidade no poder do grupo no qual
estava inserido. Aqui, acolá, um cartola nordestino era convidado a acompanhar
JH em viagens ao exterior, integrando a delegação da Seleção Brasileira.
A recompensa veio com a indicação de
Pernambuco para representar o Brasil no Equador.
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