SELEÇÃO CACARECO (10)


De deboche a símbolo do futebol brasileiro


Por ter dirigido várias equipes cariocas e possuir residência fixa no Rio, Gentil Cardoso era muito procurado para entrevistas, no breve período em que a delegação da Cacareco, agora tratada como Seleção Brasileira, permaneceu na Cidade Maravilhosa, aguardando o voo para Guayaquil, no Equador.

 Rubem Moreira mostra a Traçaia, Waldemar e Zé Maria o mascote da Seleção , 


O mesmo acontecia com o extrovertido e vaidoso Rubem Moreira, que não escondia seu contentamento nas idas à CBD para tomar as providências finais a respeito da viagem.
Rubem privava da amizade do presidente João Havelange, deste quando este ainda era vice-presidente da entidade nacional na gestão de Sylvio Pacheco, a quem sucedeu.
Se àquela altura, as portas da entidade da Rua da Quitanda começavam a se abrir para Rubão, agora, com o amigo no comando, o “vice-rei do Nordeste” entrava sem bater.

LEVIANDADE
Num dos bate-papos com a imprensa, diante da pergunta de um repórter sobre como ele respondia “às críticas da crônica esportiva pernambucana, chamando sua equipe de Seleção Cacareco”, Gentil Cardoso mostrou-se leviano ao fazer esta declaração:
– Isso foi coisa de um cronista, despeitado por não ter feito parte da delegação.
Tratava-se de uma referência ao irreverente Aramis Trindade, que criou o apelido, de acordo com seu espírito brincalhão, mas nunca pelo motivo dado pelo técnico.

BODE CHEIROSO E CACARECO
Cacareco era o nome de um rinoceronte que habitava o zoológico do Rio. Foi emprestado para a festa de inauguração, em 1958, do zoo paulista, chamado Parque Zoológico de São Paulo. Caiu nas graças da meninada e sua permanência na Pauliceia foi se esticando. Com a aproximação das eleições gerais, marcadas para 01/10/1959, o dócil Cacareco foi lançado por gozação como ‘candidato’ a uma vaga na câmara de vereadores da   capital   paulista.

O Bode Cheiroso


A exemplo da ‘eleição’, em Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife, do Bode Cheiroso, um caprino que perambulava pelas ruas exalando um odor 

insuportável, o bem tratado Cacareco também foi consagrado pelos eleitores bandeirantes.
Embora às caladas da noite, dois dias antes do pleito tenha   sido repentinamente levado de volta para o Rio, Cacareco acabou recebendo 100 mil votos, segundo os jornais da época. Tornou-se, assim, o campeão na votação para a Câmara Municipal na Terra da Garoa. Superou os 540 candidatos de verdade.



MASCOTE OFICIAL
Para se contrapor ao deboche criado com a sua indicação da Seleção Pernambucana para representar o Brasil, a Seleção Cacareco acolheu o simpático animal africano como seu símbolo. Algo parecido com o que aconteceria décadas mais na frente com o Palmeiras, em relação ao Porco, e com o Flamengo, no que se refere ao Urubu. Ambos adotaram o apelido depreciativo saído da boca de torcedores rivais.

Dessa maneira, na   passagem   pelo Rio, um pequeno rinoceronte de pelúcia, foi entregue à delegação por João Havelange. O fato foi assim noticiado por Jorge Costa, do Jornal do Commercio:
“... Outra coisa interessante é que a CBD vem de oficializar e denominar de ‘Cacareco’ um belíssimo troféu mandado fazer com a figura do famoso rinoceronte.”

A foto de João Havelange passando às mãos de Gentil Cardoso o ‘deboche’ que virou o emblema da equipe foi publicada em vários jornais cariocas.  O Globo deu ênfase ao fato, abrindo esta manchete: “Rinoceronte será símbolo da delegação brasileira.”

Enquanto Rubem Moreira esteve em atividade, o   célebre mascote ocupou um lugar de destaque no seu gabinete, na Federação Pernambucana de Futebol, tão forte passou a ser o seu simbolismo.

Mesmo noutras convocações, a Seleção Pernambucana continuou a ser chamada de Cacareco. Até a equipe juvenil não resistiu, tendo sido denominada de Seleção Cacarequinho.  



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