LENIVALDO ARAGÃO
O goleiro de peruca
No Rio Grande do Norte, o
pernambucano Alberi, centroavante do ABC, revelado pelo Santa Cruz, travava um
duelo sensacional com o goleiro Bastos. Sempre que o time da “frasqueira”
enfrentava o Alecrim, o povão se divertia.
Bastos era extremamente
gozador e usava aquela munganga de balançar a bola com as mãos de um lado para
outro. Este era um recurso utilizado por goleiros do tempo do ronca para
humilhar o atacante, dizendo-lhe que a bola estava chocha.
A plateia do Alecrim se
divertia, quando a encenação era feita diante de Alberi, um dos maiores
artilheiros de todos os tempos na antiga “terra do jerimum”.
Bastos reinou no futebol
potiguar entre o fim dos anos 60 e início da década 70. Não havia o rigor de
hoje, da arbitragem. Sendo assim, o goleiro do Alecrim deitava e rolava.
Para completar sua exibição-humilhação,
Bastos costumava a ficar quicando a bola na área, atraindo os adversários. E se
algum jogador se aproximasse, o goleiro do Alecrim esparramava-se no chão,
fingindo uma contusão, no que deixava o time contrário subindo pelas paredes,
de raiva.
Certamente, o goleiro
potiguar espelhava-se em goleiros internacionais, como o colombiano Higuita, o
paraguaio Chilavert e o mexicano Jorge Campos, que gostavam de tirar uma onda
com o juiz e a turma do lado de lá.
Um fato vez Bastos entrar de
uma vez por todas no folclore do futebol potiguar. Já fora do Alecrim,
defendendo o Força e Luz, da companhia de eletricidade estadual, teve a ideia,
certa vez, de jogar de peruca. Precisava aparecer, e como o Força não tinha
essa força toda, tinha que fazer algo que chamasse atenção. Jogar com uma
melancia pendurada no pescoço? Era demais. Assim, Bastos optou pela peruca.
A pretensão de Bastos foi
previamente anunciada. Muita gente pensou que se tratasse de uma jogada de
marketing do goleiro. Logicamente, a iluminada diretoria do Força e Luz não
permitiria tal palhaçada.
Qual nada! No dia do jogo
apareceu Bastos, puxando a equipe elétrica e cumprindo sua promessa, de
cabeleira dourada e crespa, para deleite dos torcedores.
O árbitro Luiz Meireles
ainda procurou um meio de proibir tamanha extravagância, mas não encontrou
qualquer amparo legal. O jeito foi tolerar o deboche de Borges até o fim do
jogo. E o povo gostando, como dizia uma antiga propaganda das Casas José
Araújo.
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