Flamengo, primeiro campeão pernambucano


Lenivaldo Aragão

(Os capítulos desta série de reportagens nem sempre seguirão uma ordem cronológica. Não se trata de uma história definitiva, portanto, qualquer nova informação será bem-vinda)

A primeira edição do Campeonato Pernambucano foi em 1915, com a participação de seis clubes: Centro Esportivo Peres, Coligação Recifense, Flamengo (campeão invicto), João de Barros (depois América), Santa Cruz e Torre.

O campeonato só teve o primeiro turno. Foi interrompido por causa da temporada do América do Rio. Decidiu-se, depois da paralisação, realizar um torneio triangular com os três primeiros colocados, para decidir o certame. Não era utilizado ainda o termo, mas tratava-se de um supercampeonato, a exemplo de outros que seriam realizados no decorrer dos tempos. Participaram Flamengo, Santa Cruz e Torre. Os resultados, pela ordem:
Santa Cruz 5 x 0 Torre
Flamengo 6 x 2 Santa Cruz
Flamengo 3 x 1 Torre.

CAMPEÃO INVICTO
O Flamengo, que era alvinegro, levantou, invictamente, o único campeonato de sua existência, ficando o Santa Cruz como vice. O campeão realizou sete jogos, incluindo os dois do triangular, com estes escores:
Flamengo 2x1 Peres
Flamengo 0x0 Santa Cruz
Flamengo 1x1 Torre
Flamengo 0x0 América
Flamengo 6x2 Santa Cruz
Flamengo 3x1 Torre.

No jogo final, vitória sobre o Torre por 3 x 1, no British Club. Os gols do campeão foram de Taylor (2) e Frederico. Para o Torre marcou Barreto.

Time do Flamengo, primeiro campeão pernambucano


O Flamengo alinhou: Cavalcanti; Alves e Albuquerque; Frederico, Rui e Abdon; Waldemar, Gastão,, Taylor, Percy Fellows e Arlindo Lélis.

Torre: Lopes; Antunes e Austragésilo; Barros, Mário Pinto e Luiz; Barreto, Cleto, Álvaro, Gatis e Sideim

Árbitro, José de Arruda.

Os primeiros jogos realizaram-se na Campina do Derby, de portões abertos, mas o triangular teve como local o campo do British Club, onde está hoje situado o Museu do Estado, na Av. Ruy Barbosa, com entrada paga.

UM TIME COM DOIS NOMES
Interessante é que depois dos seus dois primeiros jogos, o João de Barros passou a figurar na tabela, como América.

Fundado em 12/4/1914, o clube surgido na Estrada – hoje Avenida - João de Barros mudou de nome em 8/8/1915 após uma visita do América Carioca ao Recife.

Belfort Duarte


Os dirigentes do João de Barros atenderam a uma sugestão de João Evangelista Belfort Duarte, um maranhense radicado no Rio de Janeiro, de muita influência no futebol brasileiro. Belfort, que também era árbitro, chegou a dirigir um encontro pelo campeonato, entre o Torre e o João de Barros. Como jogador, tinha sido campeão carioca pelo América, em 1913.



SANTA DE TODOS OS CAMPEONATOS

Santa Cruz 1 x 0 Coligação foi o jogo inaugural do Campeonato Pernambucano em todos os tempos, pois abriu o certame de 1915, o primeiro. Assim, o Tricolor do Arruda entrou para a história do futebol estadual, ainda mais porque foi dele o primeiro gol em todos os campeonatos, assinalado por Mário Rodrigues.

A equipe coral tinha esta formação: Ilo Just; Braz e Silva; Carvalho, Anagan e Manuel Pedro; Jorge, Alberto Campos, Pitota, Mário Rodrigues e Dória.

O Santa começou fazendo  história


Um detalhe importante é que o Santa é o único que participou de todas as edições do Estadual até hoje. Apesar de competir desde os primeiros tempos, o clube do Arruda só veio a sagrar-se campeão em 1931, feito que repetiu nos dois anos seguintes, tornando-se tricampeão.

SPORT FAZ A FESTA
Náutico e Sport estrearam no campeonato em 1916, portanto, na segunda edição. O Sport, que ainda não era o Leão da Ilha, foi logo cantando de galo ao sagrar-se campeão. Isso, depois de ter levado um susto ao perder para o Náutico, de as[ída, por 4 x 1.

Sport estreou no campeonato levantando a taça


Como fato digno de registro, houve uma goleada de 8 x 0 dos rubro-negros sobre o Náutico. O campeão também goleou o Casa Forte por 10 x 0. A campanha leonina foi esta:
Sport 1 x 4 Náutico
Sport 5 x 0 Paulista
Sport 5 x 3 Casa Forte
Sport 8 x 0 Náutico
Sport 5 x 0 Paulista
Sport 10 x 0 Casa Forte
Sport 3 x 1 Náutico
Sport 4 x 1 Santa Cruz – decisão.
Obs.: o Tricolor veio de outro grupo.

As equipes do último jogo, realizado no British Club, foram: Sport - Luiz  Cavalcanti; Briant e Paulino; Town, Robson e Smerthurst; Asdrúbal, Labor Motta, Anagan, Vasconcelos e Smith.
Santa Cruz – Ilo; Mangabeira e Reis; Valença, Teófilo – o popular Lacraia – e Manoel Pedro; Silva, Pitota, Zé Tasso, Alberto e Dória.
Árbitro, Mr. Bold.

O Sport repetiu o feito no ano seguinte, desta vez invictamente. O Leão foi o primeiro bicampeão no futebol pernambucano.

AMÉRICA DEITA E ROLA
A maior goleada que o Náutico sofreu em toda a sua história centenária foi em 1918, precisamente no dia 28 de abril, ao ser derrotado pelo América por 10 x 1.Numa época em que as equipes jogavam abertas, praticamente sem sistemas táticos, goleadas eram corriqueiras.

No mesmo campeonato, os americanos repetiram o placar, agora jogando contra o Torre. Posteriormente meteram 6 x 1 no Sport.

Quanto ao Náutico, muito tempo depois, em 1945, o Timbu estabeleceria o mais alto placar num jogo do Campeonato Pernambucano, ao derrotar o decaído Flamengo por 21 x 3.

Voltando a 1918, o América, que tinha quatro anos de fundado e por causa das cores era e ainda hoje é conhecido como o Periquito, obteve seu primeiro título de campeão, tendo derrotado o Sport, na final, por 3 x 1, gols de Zé Tasso, Juju e Perez para o campeão, e Pedro Mazzulo para o vice-campeão.

Os primeiros campeões pelo Alviverde: Jorge Tasso; Ayres e Alexi; Rômulo, Bermudes e Soares; Siza, Perez, Zé Tasso, Juju e Lapa.

O América voltou a fazer a festa em 1919 (bicampeão), 1921 e 1922 (bi), 1927 e 1944.

Jorge Tasso, goleiro do América


CAMPEÃO DO CENTENÁRIO
Como muitos outros que foram campeões estaduais em 1922, quando se comemorou o primeiro centenário da Independência do Brasil, o clube esmeraldino passou a ser conhecido como o Campeão do Centenário.

Igual epígrafe foi dada a outros clubes, como o Corinthians. Este, muitos anos depois, em 1954, levantou o campeonato paulista em plena comemoração do quarto centenário da cidade de São Paulo e passou a ser chamado de “campeão dos centenários”.

Houve outro centenário, considerado de menor relevância pelo futebol. Foi em 1989, quando a Proclamação da República fez cem anos.

Em Pernambuco mesmo, o campeão foi o Náutico, todavia, raramente o Alvirrubro foi tratado como Campeão do Centenário da República.


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