Babalorixá Ivo de Xambá é um apaixonado tricolor
Torcedor notável (Foto: João Caixero de Vasconcelos) |
Um dos dois escolhidos para
serem homenageados no Carnaval de Olinda de 2020 - o outro é o artista plástico já falecido Byll de Olinda, Adeildo Paraíso da Silva, o babalaô
Ivo de Xambá, é um ardoroso torcedor do Santa Cruz. Como um tricolor notável,
ele está no livro “Santa Cruz de Corpo e Alma”, como um dos notáveis adeptos do
Mais Querido. Escrito por Lenivaldo
Aragão, titular deste blog, o artigo reportagem, intitulado “Babalaô Ivo de
Xambá” – A volta ao Arruda, depois de 30 anos”, aqui está o texto:
Em
Xambá, Olinda, na região de Beberibe, Adeildo Paraíso da Silva, além de ser
conhecido como Pai Ivo, babalaô do Terreiro Xambá, é apontado por ser um
indomável torcedor do Santa Cruz. Seu tricolorismo vem de muito tempo, como ele
mesmo explica: “Acho que minha ligação com o Santa Cruz começou por uma questão
até genética porque minha mãe, Severina Paraíso da Silva, Mãe Biu, do Terreiro
Portão do Gelo, nasceu no dia 29 de junho de 1914, ano da fundação do Santa
Cruz.”
Nascido, criado e ainda hoje morando no
bairro, ainda garoto recebeu da mãe uma camisa e um colar nas cores do Santa.
“Assim, essa paixão pelo clube foi
crescendo. Costumo dizer que se eu fosse tricolor poderia ser do Fluminense, do
Bahia, mas sou torcedor do Santa Cruz. É o time que gosto, que vi jogar, com
Ramon. Tinha um dos melhores goleiros que vi atuar, que se chamava Deusdeth
Pereira Coelho, conhecido como Detinho. Teve ainda o zagueiro mais
disciplinado, Birunga. E deu um centroavante, que saiu daqui para a Seleção
Brasileira, Nunes. Givanildo também foi para a Seleção, e Ramon foi indicado. É
o Santa Cruz que eu vi pentacampeão, naquela época, para mim, um dos maiores
orgulhos. É o time que trago no coração. Há mais de 30 anos sem ir a campo fui
em 2015, graças a um convite que recebi do presidente Alírio Moraes. Não fui
feliz na minha ida porque perdemos de 3x0 para o Sport, mas em compensação
fomos campeões. Quando comecei a me dedicar à vida profissional, fui presidente
do Sindicato dos Estivadores de Pernambuco. Era aquele negócio, você tinha que
tocar o realejo e dar um chute no bombo. Em 93 veio o falecimento de minha mãe.
Assumi, tanto o sindicato, como minha casa. E com isso fui perdendo aquela
pontualidade que o torcedor tem, de ir sempre a campo. Passei a fazer parte do
maior grupo de torcedores que existe no Brasil, que são os do pé do rádio e da
televisão.”
Os dois homenageados na folia olindense (Foto: Divulgação) |
Tendo vindo ao mundo em 6 de agosto de 1953, Ivo de Xambá chegou
a tentar uma vaga na Câmara Municipal de Olinda, no tempo em que a deputada
Cristina Tavares atuava. Apesar de ter sido um dos mais votados, sem ter sido
eleito, logo deixou a política partidária pela sindicalista. Mas, sem nunca
esquecer sua paixão futebolística.
“Nasci aqui em Beberibe, onde moro até
hoje, pertinho do Arruda. Lembro que quando havia aquela sirene no Arruda, na época
de James Thorp, escutava-se daqui. Era uma empolgação enorme para os
torcedores”, lembra esse entusiasmado adepto do Mais Querido, frequentador das
festas na antiga sede, na Av. Beberibe,
para ver cantores, como Reginaldo Rossi e Evaldo Braga.
A transformação do velho e acanhado
Alçapão do Arruda na grandeza que é o Estádio José do Rego Maciel, levou Rio
Grande, um cantador de coco, a fazer esta louvação ao então governador Marco
Maciel: “Obrigado ao governador / Obrigado ao governador / Que construiu o
Arrudão /O Santa Cruz campeão foi quem ganhou”.
Analisando com simplicidade os altos e
baixos vividos pelo Santa nos últimos tempos, Pai Ivo diz: “É bom a gente estar
no ruim e voltar para o bom. Costumo dizer que os bons administradores são
aqueles que vieram de baixo, como Lula.
O Santa Cruz chegou à Série D, e tem dado uma lição de vida. É um
verdadeiro herói. Existe a gozação de que a gente sabe o analfabeto todo, mas
pra mim é uma questão de ter uma história, uma lapidação, para chegar até o grau
onde o Santa merece estar.”
É impossível não recordar alguns bons
momentos do passado.
“Num jogo, no Arruda, vi Givanildo
marcar Pelé sem dar um pontapé. Era quando o Santos tinha um centroavante
chamado Picolé. O Santa Cruz venceu por 1x0. Teve outro que marcou também Pelé,
foi Zito, que deu um banho nele. Saiu no jornal que Pelé recomendou à diretoria
do Santos contratar Zito. No antigo Robertão, o Cruzeiro tinha um zagueiro
chamado Perfumo. Cuíca fez o que quis com ele. No outro dia, o jornal botou ‘Cuíca
não viu nem o cheiro do Perfumo. Mas o grande duelo que a gente gostava de ver
aqui em Pernambuco era Altair marcando Cuíca. A defesa do Sport era formada por
Miltão, Baixa, Bibiu, Gilson e Altair. Só quem fazia gol nela era Ramon.
Fernando Santana foi artilheiro sem fazer um gol neles. O pau comia, davam no
meio da canela. Moisés, também do Sport, acabou com um grande ídolo que o Santa
Cruz tinha. Era Mirobaldo, que entrou, chutou a trava de Moisés e ficou
contundido. Daquele jogo, o ‘Caboco Miró’, como a gente chamava, não voltou
mais. Passaram a chamar ‘Caboco Miró’ comigo também por causa dele. Tem gente
que jogou no Santa e saiu falando, como Luís Fumanchu. Havia outros jogadores
de qualidade, como Pedro Cruz e Gena, que passou quatro anos no clube. Num
Santa x Sport vi três defesas de Detinho ao mesmo tempo. Pegou chute de
Fernando Lima; deitado, Vanderlei cabeceou e ele defendeu e ainda fez outra
defesa. Ganhamos de 1x0, com o gol saindo de uma bola que Gena cruzou para a área. Houve uma coisa importante,
você nunca viu Luciano levantar nem um
braço quando fazia gol.”
Quis o destino que esse apaixonado
torcedor do Santa se casasse com uma rubro-negra, Rosa. Mais tarde, a filha e a
neta ficaram do lado dela no sentimento clubístico, mas ele puxou os netos para
seu lado. Um que é curumim tricolor, Netinho, quando tinha três anos, botou
fora uma camisa do velho rival, que lhe vestiram, passando a pedir uma do Santa
Cruz. O terreiro era visitado com alguma frequência por Dona Carmen, a esposa
do milionário James Thorp, que presidiu o Santa na época do pentacampeonato.
Um episódio curioso é relembrado:
“Quando era garoto, fui com um cidadão chamado Seu Luís e mais dois meninos,
rubro-negros, para ver o Santa Cruz enfrentar o Sport, pelo Nordestão. Seu Luís
tinha chegado de Paudalho e não sabia
que um dos meninos, chamado Damião,
tinha levado a gente para onde estava o povo do Sport. Eu usava cabelo
‘jaquideme’, com a parte de trás pelada, como os recrutas. No primeiro lance do
Santa Cruz pulamos eu e Seu Luís. O Santa levou de 4x0 e os caras a cada gol
davam lixa na minha cabeça. Saímos antes de terminar o jogo, eu com a cabeça
doendo, de tanto apanhar.”
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