Está no livro Santa Cruz de Corpo e Alma, que continua à disposição dos
interessados, na sede do Tricolor:
O poeta João Cabral de Melo Neto, como todo
brasileiro que se preza, andou também correndo atrás de uma bola de futebol na
sua adolescência. J. Cabral, que era como os jornais escreviam seu nome nas
escalações, jogava pelo juvenil do América como center-half, o que hoje
corresponde à posição de meio-campista. Era um dos feras do futebol
pernambucano, na sua categoria. Com Ademir Menezes, seu amigo, que era o xodó
da torcida do Sport, dividia o prestígio de um dos melhores jogadores dos
campos recifenses nos anos 30.
Um dia, porém, o destino haveria de ligar a
vida esportiva desse poeta, tido como autor dos mais belos poemas sobre
futebol, da língua portuguesa, à história do Santa Cruz.
De que maneira o veneno da cobra coral foi
injetado nas veias cabralinas, o próprio poeta conta o caso como o caso foi:
“Em 1935, o América (Juvenil) chegou em
último lugar, uma vergonha. A decisão ficou entre o Santa Cruz e o Torre. Foram
para a melhor de três de vida ou morte. Mamãe era da família Carneiro Leão e,
portanto, santacruzense fanática. Quando, em comissão, a diretoria do Santa
Cruz foi pedir a ela que me deixasse jogar no time, resolveu que era de sua
competência salvar a pátria tricolor. ‘Mas Carmem, isto é uma imoralidade’,
tentou bloquear meu pai, Luiz Cabral de Melo, que acaba cedendo. Assim, fui,
nesse ano, o lanterninha pelo América do meu pai e cheguei na ponta com as
cores de minha mãe”.
Jogador, diplomata e escritor (Foto/Divulgação) |
O poeta esqueceu de dizer que a torcida
tricolor comemorou ruidosamente o título de campeão juvenil, conseguido numa
empolgante partida contra o Torre, que era chamado de “Madeira Rubra”, pelo
escore de 3 x 1. O time campeão jogou assim: Marroquim, Cazuca e Pitota;
Dercílio, J.Cabral e Robson; Arlindo, Aylton, Badu, Toinho e Nilton.
João Cabral foi cônsul em Barcelona e em
Sevilha, na Espanha, e em 1985, na cidade de Porto, Portugal.
JOÃO CABRAL DE MELO NETO
A bola não é a
inimiga
como o touro,
numa corrida
e, embora seja
um utensílio
caseiro e que
se usa sem risco,
não é o
utensílio impessoal,
sempre manso,
de gesto usual:
é um utensílio semivivo,
de reações próprias como bicho e que, como bicho, é mister (mais que bicho, como mulher) usar com malícia e atenção dando aos pés astúcias de mão. |
São de João Cabral as estrofes que traduzem o estilo de jogar do craque Ademir da Guia: (do livro: Museu de Tudo, 1975)
Ademir da Guia
Ademir impõe com seu jogo
o ritmo do chumbo (e o peso),
da lesma, da câmara lenta,
do homem dentro do pesadelo.
Ritmo líquido se infiltrando
no adversário, grosso, de dentro,
impondo-lhe o que ele deseja,
mandando nele, apodrecendo-o
Ritmo morno, de andar na areia,
de água doente de alagados,
entorpecendo e então atando
o mais irrequieto adversário.
Poeta e jogador de futebol...
Já nos primeiros versos, o poeta iria transferir a
recordação da bola rolando no gramado para seu companheiro de time, Newton
Cardoso, expressa nos seguintes versos:
(...) Depois saías
no seu encalço
como lembrança
que se persegue.
Depois saltavas
para alcançá-la
como a uma fruta
alta num galho (...)”
(do poema “A Newton Cardoso”, do livro: O Engenheiro)
no seu encalço
como lembrança
que se persegue.
Depois saltavas
para alcançá-la
como a uma fruta
alta num galho (...)”
(do poema “A Newton Cardoso”, do livro: O Engenheiro)
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