Toco, Travo e Canela


O Central e a caderneta do Comendador


A história que segue foi trazida ao blog pelo conhecido jornalista caruaruense José Torres, há muito tempo ‘aquartelado’ na Praia de Piedade, no Recife. Vamos lá, então:
“Quando se fala em futebol praticado na cidade de Caruaru, é evidente que o nome do Central se sobressai, mesmo porque se trata de uma entidade esportiva centenária.
A conhecida Patativa do Agreste sempre teve altos e baixos. Num dos bons momentos da querida agremiação alvinegra, o jornalista Reinaldo Lessa fazia parte da diretoria centralina.
A equipe de futebol era dona da melhor defesa do Campeonato Pernambucano, liderava a disputa do primeiro turno, mas faltavam-lhe recursos financeiros para manter os jogadores, daí criou-se uma comissão para angariar fundos junto aos comerciantes da cidade.
A referida comissão, tendo à frente o abnegado Reinaldo Lessa, bateu à porta de uma conhecida figura que detinha o título de ‘Comendador’ outorgado pelo Vaticano.
Maneiroso com o trato às pessoas, o Comendador recebeu a comissão de dirigentes do Alvinegro, sentado atrás de uma minúscula mesinha. Fora a cadeira que na qual estava sentado, não tinha onde os integrantes da comissão sentarem naquela imensa sala de visitas, ficando de pé ante o anfitrião.
Com uma voz quase sussurrante, aliás uma das suas caraterísticas, o Comendador perguntou a que devia a honra daquela visita. Lessa, também um gentleman, com detalhes, explicou ao anfitrião que, diga-se de passagem, já fora presidente do tradicional clube, as necessidades para honrar compromissos com jogadores, funcionários e fornecedores.


O Comendador, com uma voz quase inaudível e abrindo uma gavetinha, retirou uma caderneta onde estavam anotadas todas as quantias que ele emprestara ao Central, para pagar taxa de iluminação para os jogos noturnos, carro pipa para regar o gramado, conserto de alambrado e outras coisas mais.
Dirigindo-se ao principal interlocutor, o bom amigo Reinaldo Lessa, informou que era impossível uma nova ajuda ao Central, pois o terreno onde os jogos eram realizados, pertencia à sua família, e o clube nunca pagara um centavo de aluguel. Ato contínuo, pediu para Lessa chegar mais próximo e mostrar-lhe a tal caderneta onde estava anotada com uma letrinha miúda, todas as quantias repassadas, detalhando a finalidade do empréstimo, além da data. Adiantou o Comendador que se o Central lhe pagasse o que lhe devia, haveria a possibilidade de um novo empréstimo.
Encerrada a conversa. A comissão patativa saiu de mãos abanando. O Central foi fragorosamente derrotado pelo Sport na decisão do turno e o nosso Comendador, tempos depois, morreu sem nada levar no seu caixão.”

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