(Matéria da Folha de Pernambuco. Texto de YURI TEIXEIRA e fotos de JOSÉ BRITTO)
Historicamente dominadas por homens, as artes
marciais vêm moldando o seu perfil com o aumento da representação feminina. O karatê pernambucano, por exemplo, apresenta
mulheres com papel de destaque em meio aos marmanjos. Fundada há três anos e
filiada ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e ao Comitê Olímpico Internacional
(COI), a Federação Pernambucana de Associações de Karatê (FPAK) escolheu Vanessa Araújo Campos, 35, e Haíssa Almeida, 28, para ficarem à frente da comissão
técnica da equipe estadual, que treina no Parque Santos Dumont, na Zona Sul do
Recife. Determinadas e experientes, elas brigam contra o preconceito e treinam
mais de 140 lutadores, das categorias sub-10 a master.
“Quando tive a ideia de colocá-las à frente da comissão técnica me chamaram de doido, mas banquei minha escolha. Conheço elas há anos, vi crescendo e se desenvolvendo neste esporte. Além de atletas fora de série, são pessoas sensacionais. Talvez este seja o diferencial e o motivo do trabalho estar dando frutos. Como mulheres, elas têm um olhar que nós (homens) às vezes não enxergamos”, declarou Ivomar Young, presidente da FPAK.
“Quando tive a ideia de colocá-las à frente da comissão técnica me chamaram de doido, mas banquei minha escolha. Conheço elas há anos, vi crescendo e se desenvolvendo neste esporte. Além de atletas fora de série, são pessoas sensacionais. Talvez este seja o diferencial e o motivo do trabalho estar dando frutos. Como mulheres, elas têm um olhar que nós (homens) às vezes não enxergamos”, declarou Ivomar Young, presidente da FPAK.
Haíssa e Vanessa se impõem diante dos 'marmanjos' |
Por conta de toda desigualdade que ainda existe nos dias atuais contra determinados trabalhos desempenhados por mulheres, Vanessa e Haíssa acreditam que ainda têm muitas barreiras para serem quebradas até que mais caratecas do sexo feminino tenham espaço num esporte historicamente dominado pelos homens. “O fato de sermos duas mulheres à frente de uma comissão técnica de karatê teve um impacto grande. Entretanto, não tenho medo, gosto de desafio e estou aqui pelos atletas. Não ligo para as más informações e julgamentos”, disse Vanessa, que está há 29 anos no mundo da arte marcial. “As pessoas chegam a bombardear esta posição. Mas, não é algo que abala a nossa confiança e motivação de continuarmos desempenhando o nosso papel. Pelo contrário, serve como estímulo. Assim como um homem pode exercer o seu trabalho, uma mulher pode fazer da mesma forma. Somos seres capazes de evoluir e agregar valores. No final, é isso que vai fazer a diferença”, completou Haíssa.
Praticante do karatê desde os
cinco anos de idade, Vanessa é dona
de um currículo invejável. Medalhista pan-americana, atleta olímpica e com
participação em mundial, ela contribui com sua experiência no resgate de jovens
da zona de vulnerabilidade. “Minha maior alegria é poder propor e ensinar a
eles tudo que já vivenciei. O karatê é lindo
pelo Dojo Kun (conjunto de regras a ser seguido pelos praticantes), e toda
sabedoria que nós adquirimos temos que passar. Eles estão curiosos querendo
aprender, dão seu máximo. Isso para nós é uma satisfação que não tem tamanho,
um preço que não se pode pagar.”
No karatê pernambucano, comandar deixou de ser exclusividade masculina |
Assim como sua companheira de comissão técnica, Haíssa está na estrada há um bom tempo. São 17 anos desfilando talento e, agora, compartilhando ensinamento com os mais de 140 atletas que fazem parte da seleção pernambucana, no Santos Dumont, local onde iniciou sua trajetória. Eleita em votação popular na internet a melhor atleta de karatê de Pernambuco em 2018, ela também realiza um trabalho para resgatar jovens de zonas de risco, no Litoral Sul de Pernambuco e Maragogi/AL, pela academia Dojo Família Animal, de São José da Coroa Grande. Grata por tudo que conquistou na carreira, ela dá suporte para que os mais novos tenham o mesmo sucesso. "O caminho até o pódio é muito longo, então estamos sempre dando conselhos, ouvindo. Essa função é uma grande missão. Quando um deles me agradece pelo que faço por eles, isso me deixa satisfeita", afirmou a sensei de 28 anos.
Aos 19 anos, Ângelo Sales é o número um do ranking nacional na categoria sub-21 -67 kg. Recentemente, quando estava participando de uma competição no Rio de Janeiro, foi protagonista de uma situação que lhe custou a vaga no Campeonato Brasileiro. Foi cortado por indisciplina por Vanessa, depois da sensei descobrir que ele havia saído à noite nas vésperas da luta. Passado o episódio, o carateca aprendeu a lição. "Eu não podia ter saído sem permissão. Como punição, acabei ficando de fora de um torneio onde eu era um dos favoritos ao pódio. Agora, não faço mais isso, e agradeço às duas por tudo que venho conquistando nesse meu início de carreira."
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