Cidade Maravilhosa vista do
camburão
Em 1975, a equipe do
Campinense viajou ao Rio de Janeiro para enfrentar o Vasco da Gama pelo
Campeonato Nacional. A delegação do
rubro-negro de Campina Grande hospedou-se no Hotel Plaza, em Copacabana, que
recebia tudo quanto era time de futebol. Os jogadores tiveram uma tarde de
folga e aproveitaram para dar uma voltinha a fim de conhecer um pouco das
decantadas belezas da Cidade Maravilhosa.
A moda de cabelo black power
estava em plena evidência. Pelo menos no futebol, a maioria dos jogadores negros
a usava. Na turma do time paraibano, um grupo chamou a atenção de uns
policiais, justamente por causa do cabelo. Um trio formado por Pedrinho Cangula
– viria a ser o pai de Marcelinho Paraíba –, Vavá e Erasmo resolveu contemplar
um pouco das belezas da Cidade Maravilhosa, batendo perna ali pelas imediações
do hotel. Como as aparências muitas vezes enganam, os três foram abordados
pelos homens da lei.
Pedrinho Cangula |
Por caiporismo nenhum deles
portava documento. Os três foram algemados e metidos num camburão. Extrema
humilhação para quem na Rainha da Borborema arrancava aplausos e fazia a
multidão vibrar com suas jogadas e seus gols. Por mais argumentos que tenham
apresentado, os três “paraíbas” não conseguiram amolecer os corações dos
soldados. Para os milicos, era tudo malandro.
Outros jogadores do
Campinense estavam espalhados por aquela área, e dois companheiros dos presos,
Leone e Paulinho, interferiram e provaram que os três eram profissionais do
futebol e não maloqueiros, como julgavam os meganhas, naturalmente dando vazão
a um sentimento preconceituoso que existe na parte de baixo do mapa do Brasil
contra negros, gente do Nordeste etc. E o trio que estava engaiolado era preto
e nordestino.
Os argumentos de Leone e
Paulinho terminaram convencendo o pessoal fardado, que chegou à conclusão de
que realmente estava lidando com pessoas de bem. Os três foram soltos, porém
receberam uma advertência: se fossem flagrados novamente sem a cédula de
identidade, iriam em cana pra valer. Aí não haveria apelo.
Uma vez soltos, os
paraibanos, naquela de besta é coco, tem
três olhos e ainda acha pouco mandaram-se para o hotel, trancafiaram-se e
não quiseram mais saber das atrações cariocas. Só saíram para ir ao Maracanã, e
depois para pegar o avião, de volta para casa.
(Fonte:
Vocabulário Popular e Humor do Futebol, de Luisinho Bola Cheia)
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