O dia em que Raimundo Bodinho foi herói



Copa Pernambuco de Futsal de 1999. Numa tarde de sábado, dia ensolarado, a seleção de Limoeiro tomou o rumo de Garanhuns, situada a 190 quilômetros da terra do coronel Chico Heráclio. Ia jogar à noite, contra o Tigre, que se destacava na competição. O time viajou desfalcado de Raimundo Bodinho, que ganhava a vida mesmo era no campo, não na quadra. Era zagueiro do Centro Limoeirense.  Este, por coincidência, jogaria à tarde, pelo Campeonato Pernambucano da Segunda Divisão. Jogo programado para 15h30, no Estádio José Vareda. O pessoal do futsal estava se virando para contar com seu maior jogador naquele encontro no Agreste Meridional.

– E aí, Bodinho, vai dar pra jogar as duas? – perguntou-lhe Seráfico Neto, secretário de Esportes de Limoeiro. Resposta mais do que animadora:
 Só se quebrarem minhas duas pernas porque mesmo com uma só, eu viajo e jogo.
Diante dessa firmeza ficou acertado que quando o jogo do Centro terminasse, Bodinho tomaria um banho às pressas para pegar a estrada imediatamente, com Moisés, um desportista da cidade, que se prontificou a conduzi-lo até o Agreste Meridional.

O ônibus que conduzia a seleção salonista de Limoeiro já ia estrada afora. Quando a delegação passava por Gravatá, o goleiro Roberval teve a lembrança de perguntar:
– Quem está com os meiões?

Como ninguém respondeu, o técnico Bruno Ribeiro, que também era o encarregado da lavagem dos uniformes, sugeriu que se ligasse para Moisés, pedindo-lhe para passar em sua casa, antes de partir com Bodinho, para pegar os meiões. Ou seja, o retardamento na ida de Bodinho para Garanhuns, terminou sendo benéfica.

O jogo, na chamada Suíça Pernambucana, estava marcado para as oito e meia da noite. Pertinho de entrar na quadra, a turma de Limoeiro mostrava-se inquieta no vestiário, aguardando a chegada, a qualquer momento, do reforço Bodinho e dos tais meiões.

Em cima da hora chega, apressadíssimo, Bodinho, com a encomenda tão aguardada.
– E então, tem condições? – indagou o treinador da equipe.
– Tô novo, professor – respondeu Bodinho, que, depois de jogar os 90 minutos pelo Centro, havia pegado duas horas de estrada.
– Pois, te troca ligeiro, aquece rápido que tu vais entrar de frente – ordenou o técnico.

Bodinho só não fez chover no jogo. E nem precisava porque chovia de verdade, em Garanhuns. A seleção de Limoeiro derrotou o Tigre por 4 a 0, tendo Bodinho, que era o capitão do time, balançado a rede duas vezes. Ou seja, contribuiu de maneira decisiva para o triunfo limoeirense. E ainda teve fôlego para sair comemorando na viagem de volta.
Na chegada a Limoeiro foi liberado para cair na farra. 

Na verdade, Raimundo Bodinho tinha sido herói duas vezes, levando os meiões do esquecimento e marcando dois gols!   



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