Esfoleiro, bom de bola, mas só até o pôr do sol


O Ferroviário do Recife realizava um amistoso em Nazaré da Mata contra o Veneno, um clube de muita tradição naquela área do Estado de Pernambuco. O técnico era Zé Paulo, que havia sido goleiro do América. O Ferroviário tinha uma equipe em que brilhavam jogadores que deixaram seu nome na história.

Aqui a formação básica da equipe da Rede Ferroviária do Nordeste naquela época: Renato; Zé Carlos, Zeca, Amâncio e Paulinho (Simão e ainda Ananias, o galã das gerais, da torcida do Santa Cruz); Claudinho e Lascinho; Milton Batoré, Neco, Baiaco e Amaro Pipa. Alguns treinadores que passaram por lá: Zé Paulo, José Augusto, Leonildo Vila Nova, Nereu Pinheiro, Nelson Lucena e Cidinho.

O amistoso em Nazaré da Mata gente de toda a Região. O time da Capital era uma grande atração, pois ainda não havia a interiorização do Campeonato Pernambucano. Consequentemente, a ida de uma equipe recifense a qualquer cidade, causava uma sensação sem tamanho.



O Veneno jogou de uma maneira assombrosa. Quando o Ferroviário abriu os olhos, estava perdendo por 3x1. Terminado o primeiro tempo, um diretor de outro clube timbaubense, rival do Veneno, logicamente, sugeriu a Zé Paulo:
 – Bota Esfoleiro que teu time não perde.

O profissionalismo não estava ainda tão incrementado em Pernambuco, fora dos quatro grandes do Recife, América, Náutico, Santa Cruz e Sport. Esfoleiro era um perigoso atacante da terra, que estava zanzando no estádio. O treinador seguiu o conselho do cartola e escalou o ‘craque’, de saltada, sem a menor preparação. Foi só perguntar-lhe se queria entrar, no melhor estilo pelada.

Esfoleiro não se fez de rogado e passou a ser a sensação do amistoso, tornando-se um verdadeiro terror para a defesa do Veneno. Fez dois gols e evitou a derrota do Ferroviário, que parecia iminente, antes de sua entrada em campo. Foi um rebuliço. Ali mesmo, naquele domingo, foi contratado pelo clube da RFN.

Na quarta-feira, à noite, outro amistoso do Ferroviário, desta vez interestadual, no estádio da Graça, no bairro de Cruz das Armas, em João Pessoa, contra o União, time do jornal A União, pertencente ao governo do Estado. Esfoleiro, dessa vez, foi uma tristeza. Não viu a cor da bola. Alegou que não estava acostumado a jogar com iluminação artificial e tinha ficado encandeado com os refletores. No dia seguinte já não era mais jogador do Ferrim. Ou seja, sua passagem pelo clube da Rede Ferroviária não durou uma semana.

Ou seja, o futebol de Esfoleiro não aparecia depois do pôr do sol. A não ser que fosse noite de lua.Fora disso, o atacante ficava vendo estrela dentro de campo.



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