Depois do empate com o
Internacional, considerado um grande resultado, o chefe da delegação do Sport,
Hiberbon Wanderley, despachou o meia Navamuel, de Porto Alegre para o Rio de
Janeiro, de automóvel, com a missão de acertar mais alguns amistosos. O
argentino já acumulava a função de treinador, com a de jogador, uma vez que embora continuasse
integrando a delegação, o uruguaio Ricardo Diez não mantinha mais diálogo com Hibernon. Era apenas um membro da comitiva, sem exercer qualquer função. Jornais gaúchos noticiavam que o técnico estava de contrato acertado com o
Internacional. O goleiro reserva Ciscador também figurava nos noticiários e
terminou ficando na capital gaúcha para defender o Inter.
Dos Pampas, a equipe
rubro-negra rumou para o Rio, onde encerrou a excursão. A viagem foi no navio
Ruanza. No porto de Ipituba, Florianópolis, o vapor ancorou para se abastecer
de carvão de pedra, prosseguindo no seu roteiro em direção à Capital Federal,
de madrugada. Um falso alarme de “submarino à vista” agitou passageiros e
tripulantes. Era no tempo em que submarinos alemães rondavam as costas
brasileiras, tendo afundado várias embarcações. Jogadores prepararam-se para
cair n’água se preciso fosse, munidos de seus coletes salva-vidas. Felizmente,
tudo não passou de rebate falso.
Ademir, o destaque da excursão, nem participou do último jogo. Já era do Vasco |
Do episódio sobrou uma
história hilariante, tendo como personagem o zagueiro paulista Brás, que havia
sido contratado para o restante da excursão na passagem da delegação por São
Paulo. Na correria dos rubro-negros para pegar os salva-vidas, Brás apanhou o
seu e em vez de deixá-lo pronto para eventual emergência, preferiu guardá-lo na
sua maleta. Superado o momento de pavor
vieram as gozações para cima do sudestino, que quis partir para a briga, mas
não chegou a tanto, pois foi contido pelos companheiros.
LEÕES
AGITAM O RIO
A essa altura, os resultados
do time já repercutiam, e a chegada ao Rio foi agitada, bem diferente do começo
da excursão. Alguns jogadores estavam interessando a clubes sulistas, a exemplo
do goleiro Manuelzinho, que já tinha um pé no Botafogo; Magri, praticamente
certo com o América; Pirombá, pretendido pelo Flamengo; e Ademir, em adiantadas
negociações com o Vasco da Gama, contando, para isso, com a intermediação de
seu pai, Antonio Menezes, o popular Muriçoca.
A imprensa carioca desta vez
abriu espaços para os pernambucanos. O Vasco, interessado em Ademir, que também
era pretendido pelo Fluminense, alojou a delegação em sua concentração, no
Estádio de São Januário.
VIRADA
NA ESTREIA
A estreia na última etapa da
viagem foi na noite de 1º de março, no estádio do Botafogo, contra o Vasco.
Diante de uma pequena plateia, pois chovia muito, o Sport, no começo do jogo,
foi completamente envolvido pelos cariocas, a ponto de estar perdendo por 3 x
0.
Quando achava que a partida estava
ganha, o Vasco foi surpreendido não apenas pelo futebol, mas pela garra
pernambucana. No fim, a virada: o placar de General Severiano indicava uma
épica vitória do Sport por 5 x 4, gols marcados por Ademir (3), Valfredo e
Pirombá para os pernambucanos, Viladôniga e Nino, dois cada, para os cariocas.
Mais uma vez o árbitro foi o pernambucano Palmeira.
Vasco da Gama: Louro; Florindo e Osvaldo; Figliola, Zarzur e
Argemiro; Alfredo, Moacir, Nino, Viladôniga e Orlando.
Sport:
Manuelzinho; Salvador e Zago; Pitota, Furlan e Castanheira; Djalma, Ademir,
Pirombá, Magri e Valfredo.
REVANCHE
CONTRA O FLA
A despedida foi uma revanche
com o Flamengo, time pelo qual o Sport havia sido derrotado no primeiro jogo da
excursão. Como no encontro anterior entre rubro-negros pernambucanos e cariocas,
a partida teve lugar em Campos Sales, estádio do América. O Sport já não tinha
Ademir, que havia sido contratado pelo Vasco.
O Queixada, como era
carinhosamente chamado, por causa do queixo proeminente, foi substituído pelo
argentino Beréssi, que se encontrava no Rio, sem clube. Os leoninos estavam com
o Flamengo atravessado na garganta por causa da derrota no início da temporada no
Centro-Sul e, ao mesmo tempo, queriam fechar seu já vitorioso giro com chave de
ouro. Conseguiram.
O Sport, numa
proeza sensacional, obteve mais uma consagradora vitória, por 3 x 1,
devolvendo, assim, a derrota anterior, com a mesma contagem. Os gols do Sport,
segundo membros da delegação foram todos de Pirombá, mas de acordo com jornais
cariocas, Pirombá marcou dois e o argentino Beréssi completou o placar.
Flamengo:
Yustrich; Newton e Barradas; Biguá, Volante e Artigas; Sá (Lupércio), Zizinho
(Nandinho), Vicente, Perácio e Vevé (Jarbas).
Sport: Manuelzinho;
Salvador e Zago; Pitota, Furlan e Castanheira; Djalma, Beréssi, Pirombá, Magri
e Valfredo.
Arbitragem de Palmeira, o
juiz da delegação.
RETROSPECTO
E assim terminou uma das
mais belas páginas do futebol pernambucano de todos os tempos, quando o Sport
colocou nas alturas o prestígio do Estado no cenário futebolístico nacional. A
partir daí, Pernambuco passou a ser olhado com respeito em todos os quadrantes
do País.
Ao todo foram 17 jogos num
período de três meses, com 11 vitórias, 2 empates e 4 derrotas, 53 gols pró e
33 contra; saldo favorável de 20.
Os goleadores foram: Pirombá
– 16, Magri – 12, Ademir – 10, Valfredo – 5, Navamuel – 5, Djalma – 4 e Furlan
RESULTADOS
Rio
de Janeiro
Sport 1 x 3 Flamengo - D
Sport 5 x 4 Vasco da Gama -
V
Sport 3 x 1 Flamengo - V
Minas
Gerais
Sport 5 x 1 América - V
Sport 4 x 2 Atlético Mineiro
- V
Sport 0 x 0 Palestra Itália,
atual Cruzeiro - E
São
Paulo
Sport 3 x 4 Santos - D
Sport 5 x 8 Juventus - D
Paraná
Sport 1 x 2 Coritiba - D
Sport 4 x 0 Coritiba - V
Sport 1x 0 Britânia - V
Sport 3 x 1 Coritiba - V
Sport 5 x 0 Savóia - V
Santa
Catarina
Sport 5 x 3 Combinado de
Joinville - V
Rio
Grande do Sul
Sport 3 x 2 Força e Luz - V
Sport 3 x 0 Grêmio - V
Sport 2 x 2 Internacional -
E
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