A torcida do Náutico ainda
reviverá durante muito tempo as diversas cenas que marcaram a reabertura do
Estádio Eládio de Barros Carvalho, a partir do choro de Kuki, homenageado com seu
tardio jogo de despedida, na preliminar. Maior renda registrada no futebol pernambucano até agora. O- o dono da festa venceu o Newel's Old Boys, da Argentina, por 1 x 0. Veja os detalhes deste jogo histórico::
Náutico 1-Bruno (Luiz Carlos); Joazi (Hereda), Camutanga, Diego e Assis; Josa, Rhaldney e Lucas Paraíba (Rafael Assis); Luís Filipe (Allan Patrick), Tiago e Wallace Pernambucano (Tharcysio). Técnico-Márcio Goiano.
Newel's Old Boys 0-Bustos; Manetti, Bagalá, Diego Gonzalez e Dedouret; Requena, Marcioni, Veja e Cisneros. Cabrera e Francisco Gonzalez; Técnico-Hector Bidoglio.
Local, Aflitos
Árbitro:Péricles Bassols; assistentes: Clóvis Amaral e Brno Vieira.
Gol: Tiago, 4 do 1º.
Público: 17.357.
Renda: R$ 1.576.200.
A timbuzada voltou a ocupar o que é seu (Foto Clube Náutico Capibaribe/Cortesia) |
NOVAMENTE DONO
O time dos Aflitos volta a
utilizar o que é seu, para usar uma linguagem bem coloquial. Isso porque na
Arena de Pernambuco, pelo menos no que toca à timbuzada, o clube dos Aflitos
era submisso à administração daquela praça de esportes. Para promover qualquer
evento que não fizesse parte do figurino, um amistoso, por exemplo, ou um
simples treino, o Timbu era obrigado a pedir permissão, posto que não tinha
autonomia para agir.
Esse retorno tem um
significado de alta relevância para o torcedor alvirrubro, que volta a se
orgulhar de seu estádio. As dimensões não são gigantescas, como se sabe, mas é
onde a torcida se sente realmente em casa. Isso não acontecia na Arena, um
estádio notável, mas sem chegar a cativar a turma que estava acostumada com a
magia proporcionada pelos Aflitos. O pessoal se sentia um estranho no ninho.
Não existia mais aquela aproximação entre velhos conhecidos, que só era vivida
nos Aflitos, além das dificuldades de acesso.
RELEMBRANDO CARLOS CELSO
O grande pesquisador do
futebol pernambucano Carlos Celso Cordeiro já não podia cumprir um ritual que
lhe era muito peculiar, com o qual nos divertíamos, eu, Edgar Matos, Lucídio
Oliveira, Roberto Vieira, Junancy Galvão e outros.
Morando perto do estádio, o
amigo que já nos deixou, nem sempre suportava ver o jogo até o fim. Quando o
Náutico estava ganhando por 1 x 0, digamos, correndo o risco de levar o gol de
empate, temendo ser traído pelo coração, Carlos Celso tratava de dar o fora,
faltando 30 ou 25 minutos para o término da partida. Voltava a pé para casa, procurando
mudar sua trajetória, se estivesse na iminência de cruzar com alguém de rádio
ligado no jogo.
Nos Aflitos, os alvirrubros
sentem-se realmente donos e não apenas simples locatários.
Mais de um torcedor não
resistiu à emoção da volta para casa e foi às lágrimas só por estar voltando a
ocupar seu “santuário” e por pensar que aquele recanto sagrado corria o risco
de desaparecer de uma vez por todas, levando com seu ‘encantamento’ décadas de
lembranças, as mais diferentes, vividas por várias gerações de torcedores.
O CAFEZINHO DE CAIÇARA
Pisei nos Aflitos pela
primeira vez no longínquo 1956. Adolescente, recém-chegado do interior, sempre
que tinha tempo, estava na arquibancada ou na geral, admirando os ídolos da
época, a começar pelo célebre trio final composto por Manuelzinho, Caiçara e
Lula. Admirava-os a distância. Algum tempo depois passei, já como iniciante na
prática do jornalismo esportivo, a ter uma convivência direta com aquela pessoal,
que virou amizade.
Vivenciei momentos de
glória, como a conquista do hexacampeonato e fui testemunha de muitas histórias
engraçadas. Quando eu não presenciava, me contavam. Alguns anos antes de
Caiçara morrer, lembrei-me um fato presenciado por mim mais de uma vez. Havia
na Encruzilhada um bar e lanchonete bastante frequentado por atletas
alvirrubros das mais diversas modalidades, saídos dos treinos e jogos.
Caiçara tomava repetidos
cafezinhos. Na verdade tratava-se de cachaça misturada com vermute, sob a
denominação de queimado ou rabo de galo. Só que no caso do lateral, em vez de
copo, a bebida era servida numa chícara pequena. E haja café. Quando falei
nisso, Caiçara deu uma senhora gargalhada.
Felizmente, graças a esse pessoal
que idealizou e cuidou da reestruturação dos Aflitos, uma valiosa parte da
memória alvirrubra não foi sepultada.
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