No Clube de Regatas Vasco da Gama, em fins da década 50, conviveram duas
figuras que, à sua época, foram importantes para o futebol brasileiro. Trata-se
do pernambucano do Recife Almir Morais de Albuquerque e do fluminense nascido
em Vassouras Francisco de Souza Ferreira. Na época, Almir Pernambuquinho e Gradim,
como eram conhecidos, exerciam as funções de jogador e treinador,
respectivamente, no Clube da Colina.
Almir nasceu em lar evangélico, em 28/10/1937 na capital pernambucana, e foi
assassinado no Rio de Janeiro em 6/2/1973, aos 35 anos de idade, numa briga de
bar provocada por vizinhos de mesa. Revelado pelo Sport, ainda amador rumou
para a Cidade Maravilhosa, levado para São Januário por Cier Barbosa, um olheiro,
que já tinha atuado como dirigente do Santa Cruz e do Ferroviário. Sua
trajetória foi: Sport, Vasco, Corinthians, Boca Juniors (ARG), Fiorentina e
Genoa (ITA), Santos, Flamengo e América-RJ. Jogou pela Seleção Brasileira cinco
vezes, no biênio 1959/60. Mais chances não teve, certamente por ter ido atuar
no exterior, pois só quem jogava no Brasil tinha vez. Obteve vários títulos de
campeão.
Conhecido por ser um jogador brigão, entre os muitos episódios de que
participou, deixou sua marca na grande final do Mundial de Clubes em 1963, no
Maracanã, envolvendo o Santos e o Milan. Almir chamado pela mídia do Sudeste de
“Pelé Branco” teve a missão de substituir o Rei, que se encontrava machucado.
O Santos, que lutava para tornar-se bicampeão, havia perdido o jogo de
ida para o Milan, dos brasileiros Amarildo e Mazzola, no Estádio San Siro, por
4x2. Marcaram os gols Amarildo (2), Trapattoni e Mora, para o Milan, e Pelé (2) para o Santos.
A GRANDE REAÇÃO
Na partida de volta, com o Maracanã explodindo de gente, e Pelé fora do
time, o Santos foi para o vestiário, no intervalo, perdendo por 2x0, gols de
Mazzola e Mora. No segundo tempo veio a reação, com Pepe (2), Almir e Lima. A
equipe brasileira devolveu aos italianos o placar de 4x2 que tinha sofrido em
Milão.
A finalíssima foi realizada ainda no Maracanã, de acordo com o regulamento.
Num jogo disputadíssimo, a valentia de Almir prevaleceu e ajudou o Santos a
derrotar o Milan por 1x0, gol de Dalmo, de pênalti. O Pernambuquinho
considerava-se vingado. Ele que tinha vestido a camisa 10 de Pelé, nos dois
jogos no Brasil, havia tomado as dores do amigo, diante de declarações de
Amarildo, após o encontro na Itália, pouco condizentes com a ‘realeza.’
Comandado pelo técnico Lula, o Santos alinhou naquela partida memorável:
Gilmar; Ismael, Mauro, Haroldo e Dalmo; Lima e Mengálvio; Dorval, Coutinho,
Almir e Pepe.
Almir, cujo pai Arlindo torcia pelo Santa Cruz, teve dois irmãos também
bons de bola, que jogaram no Vasco, chamados Ayres e Adilson, o popular
Caveirinha, como ainda é tratado na intimidade. Depois do Vasco, Ayres foi
levado pelo cabeça dos irmãos Morais de Albuquerque para o Boca Juniors.
– No Boca, ele fez mais nome do que Almir – garante Adilson, lembrando,
todavia, que a permanência do carro-chefe em La Bombonera não foi longa, posto
que prevaleceu o fascínio financeiro exercido pelos italianos no futebol. Arlindo,
que completava o quarteto de irmãos, andou igualmente jogando, porém, logo cedo
dedicou-se à função de preparador físico, depois de ter sido graduado na
universidade. A carreira também foi abraçada por Ayres ao descalçar as
chuteiras.
Gradim, que se ligou a Pernambuco, já como treinador, abrindo em 1969 o
caminho para o pentacampeonato do Santa Cruz e depois dirigindo o Náutico, de
1970 a 1973, nasceu em 15/6/1908 e faleceu em 12/6/1987, no Rio.
Centroavante, notabilizou-se no Vasco por ter marcado o primeiro gol do clube
na era profissional, numa vitória sobre o América do Rio por 2x1. Defendendo o
Santos, chamava a atenção no elenco pela paciência com que esperava uma brecha
no time, sem forçar a barra para entrar. Quando escalado, embora sendo
centroavante, topava jogar em qualquer posição. Por isso foi apelidado de
Amélia, em alusão à famosa composição de Ataulfo Alves, que enaltecia uma
personagem feminina desprovida desprovida de vaidade. Por jogar nos mais
diversos setores, quando lhe mandavam, passou a ser chamado de “curinga”,
expressão que se espalhou pelos gramados brasileiros.
Na saga santista, ele tem seu nome consagrado, por ter assinalado o gol
de número 2.000 da história da equipe do litoral paulista. Isso aconteceu numa
excursão à Bahia. Em 30/4/1939, o alvinegro da Vila Belmiro derrotou o Ypiranga
por 3x1. O gol de Gradim, o segundo do Santos, de pênalti, provocou uma grande
confusão, que terminou com a morte de um soldado. O comandante de ataque jogou
ainda pelo Bonsucesso-RJ, onde começou, Flamengo e Jabaquara-SP.
SUPER-SUPER
Como técnico, Gradim esteve duas
vezes no Vasco. Numa dessas oportunidades – 1957 a 1959 – conviveu com Almir. A
maneira patriarcal com que tratava os mais novos, conquistou o coração do
‘valentão’ saído da Estrada dos Remédios, no bairro de Afogados, para brilhar pelo
Brasil e pelo mundo. Sob o comando de Gradim, o destemido pernambucano
contribuiu para que o Vasco levantasse em 1958 o Torneio Rio-São Paulo e se
sagrasse super-supercampeão carioca – houve necessidade de dois
supercampeonatos para que surgisse o campeão.
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