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| Charge: Humberto Araújo |
Chegada do técnico, um aperreio para o craque fumante
O paraguaio Manuel FLEITAS SOLICH
(30-12-1900, Assunção / 19-3-1894, Rio de Janeiro), técnico do Flamengo na
célebre conquista do tricampeonato carioca em 1953-54-55, e que também dirigiu
o Palmeiras e o Atlético Mineiro, embora tivesse um excelente relacionamento com
os jogadores, era bastante austero. Tinha uma verdadeira ojeriza a cigarro.
Fumar na presença do Feiticeiro, como a imprensa o chamava, era contrariar
absurdamente seus princípios, principalmente sendo jogador. Mas, como se sabe,
a turma da bola sempre tem um jeito de dar uma driblada para se contrapor a
certas determinações disciplinares.
No tempo de Dom Fleitas – era assim
que os atletas o tratavam mui respeitosamente – havia no Fla a célebre
intermediária formada por Jadir, Dequinha e Jordan.
Time concentrado às vésperas
de um jogo, Jordan divagava a um canto, quando lhe veio aquela vontade de dar
umas tragadas. Acendeu o cigarro e ficou puxando e soltando fumaça, olhando
para um lado e para outro, naquela de ‘um olho no padre, outro na missa’ a fim
de evitar um flagra.
Só que Solich, que sempre
ficava zanzando para lá e para cá, apareceu de repente, caminhando em direção a
Jordan. Este quis jogar o cigarro fora, mas com esse gesto estaria entregando ‘o
ouro ao bandido’, raciocinou. Objeto do crime entre os dedos, resolveu botar a
mão no bolso e esperar a passagem do treinador.
Deu errado porque o chefe parou
para conversar. Com o cigarro esquentando lá dentro, Jordan começou a se mexer,
no sentido de se aliviar.
– Que passa, hombre? Que
passa, hombre? – perguntou, meio assustado, Dom Fleitas.
Como não teve mexida que
resolvesse a situação, só restou ao agoniado jogador, puxar a mão e jogar o
cigarro fora provocando o espanto do técnico e uma sonora gargalhada de outros
jogadores que acompanharam a cena.
Engraçado, não? Menos para
Jordan, que foi obrigado a arrumar seus apetrechos pessoais e voltar pra casa,
pois estava afastado da concentração e do jogo.
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