HISTÓRIAS DO MUNDO DA BOLA-Lenivaldo Aragão

 

Gilberto, Samuel, Assis Belém, Marcos, Tovar e Cardoso; agachados, Amilton Rocha, Edson, Mauro, Beijocae Darci


 
O CAFÉ BATIZADO DO TRESLOUCADO BEIJOCA
 


 
 
 
Um dos jogadores mais catimbeiros e criadores de casos do futebol brasileiro foi o baiano Jorge Augusto Ferreira Aragão, o popular Beijoca. Hoje, completamente mudado, vive em paz consigo e com os outros, como um pacato membro da Assembleia de Deus, à qual se converteu,  de Bíblia à mão, pregando a Palavra nas igrejas pelos bairros de Salvador. O apelido vem da infância. Familiares achavam-no parecido com a famosa boneca Beijoca. Soteropolitano do Pelourinho, o ex-atacante se tornou famoso vestindo a camisa do Bahia, clube no qual entrava e saía, mas integrou outros times Brasil afora: São Sport (PE), São Domingos (AL), Fortaleza (CE),  Flamengo (RJ), Catuense, Leônico e Vitória (BA), Londrina (PR), Sergipe (SE), Mogi-Mirim (SP) e Guará (DF).
Boêmio, frequentador das noitadas e arruaceiro, andar relaxado e sorriso fácil, emoldurando o tipo bonachão que despertava paixão e temor quando estava em campo. O dono de todos esses atributos era Beijoca.
Em 1977, quando defendia o Sport, aconteceu um fato que marca o comportamento do atacante Beijoca naquele tempo de irresponsabilidade total.  Estava em plena balada com o ponta-esquerda Darci, seu companheiro no Leão. Muita água que passarinho não bebe, mulheres, música e, certamente, tome xumbregação. A certa altura, Darci deu pela falta de sua carteira. Procura aqui, procura acolá, nada.

O Beijoca brigão resolveu entrar em ação, dando uma de delegado. Fez aquele fuzuê, dirigiu-se à mulherada que cercava a dupla e deu um prazo para que a carteira – uma capanga – do amigo aparecesse. Se isso não acontecesse, ele mesmo tomaria as providências. À sua maneira, claro. Não houve necessidade de o espírito do super homem baixar no pedaço. Não se passou um quarto de hora, e Darci estava novamente com sua carteira no bolso, intocada, com todo o dinheiro dentro.

Todas elas ali conheciam a fama do atacante, que certa vez, num carnaval, na Bahia, em plena Praça Castro Alves, meteu-se num bafafá e, na confusão, provocou a queda de seu contendor, sentado, em pleno tacho de azeite fervente de uma baiana do acarajé. Só não foi enquadrado pela polícia porque, em plena forma, deu aquele pique antes de os homens da lei chegarem.

Em 1976 – na Boa Terra qualquer um sabe essa história, de cor e salteado – jogando pelo Bahia, na final do Campeonato Baiano contra o Vitória, Beijoca chegou às 4 horas da madrugada na concentração, alcoolizado. Deram um banho nele, comida e glicose.
Beijoca acordou no ônibus, a caminho do estádio e ali mesmo pediu para tomar uma cerveja. Foi atendido, pois ninguém era maluco para se contrapor a um pedido seu. Entrou em campo contra a vontade do treinador, Orlando Fantoni, aquele que foi do Náutico e do Sport, e terminou marcando o gol que levou o Esquadrão a mais um título de campeão em cima do arquirrival.
Na época em que defendeu o Sport chegou a ensaiar uma troca de sopapos com um preparador físico do Santa Cruz, Arlindo Albuquerque, um dos irmãos de Almir Pernambuquinho. Era um Clássico das Multidões, na Ilha do Retiro, casa cheia, o público pagando pra ver. Beijoca atuando no time de aspirantes, na preliminar. Mas os dois ficaram só na encenação. Sequer houve o primeiro round. Como sempre acontece, o juiz e a turma do deixa disso entrou em ação.

Da passagem do inquieto atacante pela Ilha do Retiro, aqui, acolá se conta uma história que leva a turma mais nova às gargalhadas. Ele e outros atletas profissionais que não estavam atuando na equipe principal eram aproveitados no time de aspirantes, o chamado time da laranja, jogando nas preliminares.

Num dia de muita chuva e frio, antes da entrada em campo, o pessoal da comissão técnica providenciou um gole de conhaque para cada jogador, misturado a uma xícara de café para dar aquela aquecida na turma. Depois dos exercícios físicos, que na época se faziam no vestiário, quando a equipe se preparava para entrar em campo, Beijoca chegou junto do treinador e disse:

– Professor, o senhor sabe das coisas, a partir de hoje pode contar comigo. Agora, dá pra servir mais um conhaque para eu entrar bem aquecido no jogo?

Foi lá e deu conta do recado, tendo deixado sua marca na rede adversária. Após a partida avisou:

– Domingo tô novamente com a nove. Não esqueçam de trazer o café batizado…

 

 

 

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