Troca de sopapos com Djalma Bocão valeu o bilhete azul
Lenivaldo Aragão
Náutico em 1953- em pé, Djalma, Ivanildo, Ivson, Rubinho e Zeca; agachados, Elói, Caiçara, Vicente, Lula, Jaminho e Gilberto. (Reprodução do livro Náutico, Retrospecto de Todos os Jogos) |
Para que os mais antigos possam recordar, aqui
está o grupo do Timbu em 1954, conforme a divisão do elenco, na época: goleiros-Manuelzinho
e Peter; zagueiros-Caiçara, Cuíca, Lula, Genaro e Kleber; médios-Gilberto, Gago
e Jaminho; atacantes-Ivanildo, Wilton, Hamilton, Ivson, Djalma (conhecido como
Djalma Bocão), Rubinho, Marcos, Jorginho e Zeca.
BAIXINHO DE FUTURO
Palmeira gozava de uma grande
estima entre os dirigentes e torcedores. Na concentração criava galinhas para
vender e recolhia cajus de um pequeno sítio, também com objetivo comercial.
O
futebol não exigia tanto dos jogadores, que treinavam só uma vez por dia.
Geralmente, pela manhã havia o que se denominava individual, no qual os atletas
eram preparados fisicamente pelo próprio Palmeira e pelo assistente técnico, com
direito a chutes a gol, cobranças de escanteios etc. Os goleiros eram os últimos
a sair de campo. No dia seguinte, à tarde, realizava-se o coletivo, normalmente
colocando os titulares contra os reservas, que eram chamados de aspirantes.
Foi nesse tipo de treino que
na segunda estada de Palmeira no Alvirrubro – 1958 /1959 – começou a aparecer o
bom futebol de um meia armador, ou meia de ligação, egresso do time juvenil. Tinha
sido descoberto nas peladas das praias de Olinda por Paulo Galego, um auxiliar e
olheiro de Alexandre Borges, o técnico das equipes básicas.
Era Nado, habilidoso e driblador, logo transformado em ponta-direita.
Brilhava nas partidas preliminares, pelo Campeonato de Aspirantes, fazendo a
torcida delirar com suas arrancadas e facilidade com que deixava os marcadores
no meio da rua.
Os irmãos Nado e Bita (Reprodução) |
O Baixinho ou Pequeno Polegar, como não
poderia deixar de ser, ascendeu rapidamente ao time principal do Náutico. Mais
tarde brilhou no Vasco da Gama e na Seleção Brasileira, vestindo a camisa
amarelinha em torneios oficiais ou jogos amistosos. Isso após ter sido um dos 47 jogadores que participaram da
preparação da equipe nacional para o Mundial de 1966, na Inglaterra. Convocado
quando ainda era oficialmente defensor do Alvirrubro, mas já negociado com o
Vasco da Gama por cem mil cruzeiros, uma importância razoável, perdeu a
concorrência na Canarinha para Garrincha e Jairzinho. Irmão do grande goleador
Bita, que também saiu das areias olindenses para os Aflitos, Nado defendeu ainda o Olaria, o Fortaleza e o Ceará.
PIRILO RECEBEU O PRATO FEITO
Voltando a falar dos treinamentos,
aos sábados os times realizavam um ensaio leve pela manhã, às vezes uma pelada
em que os jogadores atuavam fora de sua real posição. Após essa movimentação,
se a equipe jogasse no domingo, os atletas requisitados seguiam para a concentração.
A do Náutico localizava-se no bairro de Beberibe, num local arborizado e saudável.
Se não havia jogo, o resto do fim de semana era de folga.
Em pleno transcorrer do
campeonato de 1954 houve um incidente que mudou o curso da história de Palmeira
no Alvirrubro. Depois de se envolver numa briga tola na concentração por causa de
uns cajus, o treinador foi dispensado às vésperas de um clássico. O capitão do
time, o eclético Ivanildo (Souto da Cunha, Espingardinha, na intimidade)
assumiu o comando da equipe provisoriamente e passou a desempenhar a dupla função
de treinador e jogador.
Palmeira tinha dirigido a
equipe em 10 partidas do estadual, e Ivanildo ocuparia o cargo nos oito
encontros seguintes. Quase no fim da jornada, o posto foi assumido por Sílvio
Pirilo, procedente do Rio, apenas para confirmar a conquista de mais um título.
O Náutico de Ivanildo empatara por 2 x 2
na primeira partida da série melhor de três com o Sport. Pirilo dirigiu o Timbu em mais dois encontros com
o Leão, tendo colocado no peito a faixa de campeão, depois de uma vitória (3 x
2) e um empate (1 x 1), com o velho rival. O Náutico tornou-se campeão no ano
em que se comemoravam os 300 anos da expulsão holandesa de Pernambuco, em 1654,
tendo sido chamado pela mídia de “Campeão
do Tricentenário da Restauração”.
Ivanildo, treinador e jogador (Arquivo do Blog) |
Vejamos a razão da
inesperada saída de Palmeira do Náutico, de acordo com uma notícia publicada em
3 de novembro de 1954 pelo Diario de
Pernambuco sob o título “Técnico
se atraca com jogador e é demitido pelo Náutico”, o que dá uma ideia de como
agia aquele lendário, temperamental e vencedor personagem do futebol
pernambucano:
“Na manhã de domingo, poucas horas antes
do encontro com o Santa Cruz (na realidade, Sport) estavam os
alvirrubros, técnico e jogadores, em sua concentração, em Beberibe. Em dado
momento, o técnico Palmeira divisou os jogadores Manuelzinho, Djalma e Wilton,
que vinham do lado do pomar onde está localizada a concentração. Vinham
alegres, e Djalma trazia alguns cajus nas mãos. Ao vê-los, Palmeira se dirigiu
aos jogadores, dizendo-lhes que eles bem sabiam que aqueles cajus eram dele,
Palmeira, e não podiam ser tirados, pois eram para vender.
Djalma respondeu às palavras do técnico
com uma brincadeira, o que irritou mais ainda Palmeira, que, a essa altura
avançou para Djalma. O jogador revidou a agressão, travando-se um corpo a
corpo, que foi logo encerrado pelos outros jogadores presentes.
Poucos instantes depois, chegava um dos
diretores do Náutico, por sinal, o diretor de futebol, a tempo de ainda
observar qualquer anormalidade. Procurou inteirar-se do ocorrido e, uma vez a
par dos acontecimentos, comunicou-se imediatamente com o presidente Eládio de
Barros Carvalho. Como não poderia deixar de ser, o presidente do alvirrubro
determinou logo o afastamento de Palmeira e Djalma da concentração e afetou o
caso à diretoria do clube, que hoje à noite vai apreciar os acontecimentos”.
O treinador, como já se esperava,
recebeu o bilhete azul. Ele voltou a ser técnico do Timbu no biênio 1958 / 1959.
Nos anos 70 trabalhou como supervisor.
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