O FREVO QUE VIROU HINO DO SPORT
As cores e as músicas rubro-negras espalham-se pelo Estado durante o Carnaval (Reprodução)
Lenivaldo Aragão
Entre
as muitas músicas compostas no tradicional ritmo pernambucano, que homenageiam
o Sport Club do Recife, está “Sport, uma razão para viver”. Trata-se de um
frevo-canção criado em 1975, mas que só foi gravado em 1979, num compacto
simples que traz na outra face o frevo-de-rua “Casá, Casá”, do inesquecível Nelson
Ferreira. O autor é o engenheiro aposentado Eunitônio Pereira, um rubro-negro
de berço, pois seu pai, o ex-prefeito do Recife Antônio Pereira também o era. A
música, que obteve grande sucesso junto à massa rubro-negra, terminou recebendo
um novo andamento melódico e foi acrescida de novas estrofes, tendo sido oficializada
pelo Conselho Deliberativo leonino como o hino oficial do clube. Veja a letra:
Com
o Sport
Eternamente
estarei
Pois
rubro-negras
São
as cores que abracei
E
o abraço de tão forte
Não
tem separação
Pra
mim o meu Sport
É
religião
A
vida a gente vive
Pra
vencer
Sport,
Sport
Uma
razão para viver
Casá,
Casá (hei)
Casá,
Casá (hei)
Sport,
Sport, Sport
Segue a complementação efetuada quando da transformação do
frevo-de-rua em hino oficial do Sport:
Treze
de Maio
Mil
novecentos e cinco
Dia
divino em que Guilherme de
Aquino
Reúne
no Recife, ardentes seguidores
Fundando
esta nação de vencedores
Que
encanta, enobrece e dá prazer
Sport,
Sport
Uma
razão para viver
Eterno
símbolo de orgulho
é
o pavilhão
De
listras pretas e vermelhas,
Com
o Leão
Erguendo,
impotente, o imortal
escudo
Mostrando
a gente que o Sport
é
tudo
Que
a vida tem de belo a oferecer
Sport,
Sport
Uma
razão para viver
São
gerações e corações
Fazendo
a história
São
campeões e emoções
Tecendo
a glória
Do
bravo Leão da Ilha, Sport obsessão
Que
faz bater mais forte o coração
Torcida
mais fiel não pode
haver
Sport,
Sport
Uma
razão para viver
Sport,
Sport!
Vale
salientar que o “Casá, Casá”, que ocupou o outro lado do compacto duplo foi
composto por Nelson Ferreira, torcedor do Santa Cruz. Em 1953, o maestro atendeu
a um pedido do mesmo Eunitônio Pereira, então adolescente, depois de ter
homenageado o Náutico através do frevo-de-rua “Come e Dorme”.
Eunitônio,
aproveitando a intimidade com o festejado maestro e compositor, que frequentava
sua casa, exigiu que um frevo idêntico fosse feito para o Sport. Tempos depois
seu pedido foi atendido. O frevo-de-rua “Casá, Casá” foi gravado originalmente
em 1954, pela Orquestra Tamandaré, pertencente à Rádio Tamandaré, segundo o
pesquisador Hugo Martins (Rádios Universitária AM e FM).
O DOMÍNIO DA MORENINHA
Como já foi dito na reportagem anterior, intitulada “Nelson de
todas as cores”, em 1936 a dupla Nelson Ferreira - Sebastião Lopes, lançou o
frevo-canção “Pelo Sport Tudo”, popularizado como “Moreninha”, que ainda hoje
faz sucesso, dentro ou fora do Carnaval. O título é justamente o lema da
torcida rubro-negra. Por causa dessa música, durante muito tempo, o tricolor
Nelson Ferreira foi tido como se fosse torcedor do Sport. Vamos ver a letra:
Moreninha que estás dominando
Desacatando agora pelo entrudo
Chegou a hora de gritares
loucamente
Hip, Hip, hurrah, pelo Sport
tudo
Vejo no batom dos teus lábios
E no teu cabelo ondulado
As cores que dominam
altaneiras, oh morena
O meu glorioso Estado
E passado o Carnaval
Para que não te falte a boa
sorte dirás
Na minha vida hei de fazer
eternamente
Tudo, tudo, pelo Sport.
TIRANDO O ATRASO
Bicampeão pernambucano em 1961/62, o Sport viveu um longo jejum,
pois só voltou a levantar a taça em 1975, quando formou a badalada Seleção do
Nordeste, puxada por Dario, o Peito de Aço. Naquela fase de euforia, após o
Leão ter feito as pazes com o título, o advogado e bancário aposentado Rogério
Andrade, destacou-se fazendo músicas para o time do seu coração.
Seu primeiro sucesso foi “Ninguém Segura o Sport”:
Este ano o nosso time
Vai ser mesmo campeão (bis)
Todo mundo vai cantar e dizer
Ninguém segura o Sport, não
Na Ilha vou ver
A turma pular
De alegria quando o time
entrar
E mostrar a bola no pé
Meu Sport em ação
Casá, casá, casá
Ninguém segura o Leão
Casá, casá, casá
No mesmo embalo, Rogério Andrade produziu “Festa na Ilha”:
Hoje é festa na Ilha
Nosso time vai jogar
O rubro-negro
É bom de bola
E a galera já começa a frevar
Vem cá, vem ver
Nosso time deitar e rolar
(bis)
É muita garra
Quando ele começa a jogar
Em
2008, com a conquista da Copa do Brasil, o que aconteceu pela primeira vez por
parte de um clube do Nordeste, Rogério fez Sport-campeão do Brasil:
Agora a galera
Pode comemorar
Sport é campeão
Valeu a luta
Valeu a garra
Festa na Ilha
Muita emoção
Agora, rubro-negro
Você pode vibrar
A Copa é nossa
O grito saiu
O Sport agora é
O campeão da Copa do Brasil
II
Casá, casá,
O grito da galera
Na Ilha se ouviu
O Sport agora é
O campeão da Copa do Brasil
RUBRO-NEGRAS EM ALTA
As
mulheres rubro-negras sempre receberam um tratamento carinhoso da parte de José
Nunes de Souza, o maestro Nunes. Nascido em Vicência, na Mata Norte de Pernambuco,
Nunes deu uma larga contribuição ao principal ritmo musical pernambucano,
compondo em grande profusão, tanto frevos-de-rua, como frevos-canção, vários
deles homenageando o Sport, do qual era um apaixonado torcedor. São dele:
1-O Mais Querido Sou Eu
(Uma a réplica à marcha-exaltação dedicada por
Capiba ao Santa Cruz, tendo por título O Mais Querido.)
O
mais querido sou eu
Sou
eu o mais querido
Atualmente
há mais mulheres do que homens!
E
as mulheres estão comigo
Vá
se informar por aí
E
tire uma conclusão
Em
cinquenta mulheres
Quarenta
são do Leão
O
Papai da Cidade
Tem
um grande coração
2-Leonina Querida
Oitenta
por cento das mulheres pernambucanas
São
leoninas de coração
Gostam
do frevo, do samba, do baião
Brigam
feito uma leoa
Leonina
querida, vem cá
Vamos
dar um passeio na Ilha
Domingo,
o Sport vai jogar
Vamos
ver o olé que ele vai dar
E
pelo Carnaval, com o Bafo do Leão
Vamos
botar pra quebrar
3-Leoa Linda
Leoa
linda ela é
Linda,
linda de morrer
Parece
feita de marfim
Juro
que nunca vi beleza assim
Quem
a fez, fez com a mão
Tal
a sua perfeição
Já
se vê, já se vê
Só
poderia ser da turma do Leão
Em
1975, baseado no slogan “vinte vezes campeão” criado para o Sport pelo
jornalista e publicitário Celso Rodrigues, Nunes lançou um frevo-canção,
que fez muito sucesso, sob o mesmo título, no qual mexia com os adversários do
Leão:
A cobrinha eu deixo para um lado
O
timbu para outro lado eu vou deixar
Afasto
América, Central e Ferroviário
Com
o leão vou comandar
Quá,
quá, quá
Salve
as barbas do leão
Vinte
vezes campeão
Nunes
também compôs frevos-de-rua, aqueles apenas orquestrados, que sacodem os
foliões, levando-os a fazer o passo rasgado nas suas mais diferentes variações.
O maestro contou que em dado momento a barra estava pesada para o lado do
presidente Jarbas Guimarães, algum tempo depois da conquista do inesquecível
título de 1975. Então, ele produziu “Segura
a Peteca”, doando-o
à tradicional troça carnavalesca Cachorro do Homem do Miúdo, cujo presidente,
Mário Orlando, era um apaixonado rubro-negro. Também são da lavra de Nunes,
“Leão de Ouro” e “Transando com o Leão”. Este foi presenteado à troça Camisa
Velha, cujo nome, segundo Nunes, tem muito a ver com o Sport.
–
Um grupo de rapazes resolveu sair no Carnaval e improvisou um estandarte com
uma velha camisa do Sport – contou o maestro. Estava batizada a nova troça.
O MAIS AMADO
Em
1974, o Sport ganhou, na versão estadual, um concurso promovido pela revista Placar, em parceria com o Diário de Pernambuco para se
saber qual o time de maior torcida. Os rubro-negros cerraram fileiras,
comprando quilos e mais quilos de jornais velhos para colocar os cupons nas
urnas. O falecido Jovino Falcão, um dos fundadores do Bafo do Leão, primeira
torcida organizada do Sport, não deixou a oportunidade passar, fazendo o
frevo-canção “O Mais Querido”
Está
comprovado
Já
foi conferido
Que
o mais amado
O
mais amado é que é, é que é
É
o mais querido
É
ele o maior em nosso Estado
Destaca-se
do remo ao futebol
É
o consagrado campeão do Norte
O
mais querido, o mais querido
É
o nosso Sport
TREME
TERRA
Em
Chegando
lá na Ilha do Retiro
Ô
abre alas que o Sport vai jogar
O
rubro-negro é cor de guerra
E
o Sport estremece a terra
Vivendo
pro Sport esta emoção
A
galera se engrandece muito mais
Quem
não fala do Sport é mudo
Pelo
Sport tudo
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