AS ÁGUAS DO CAPIBARIBE GERARAM O TIMBU COROADO
No domingo de Carnaval, a timbuzada toma conta do bairro dos Aflitos (Reprodução) |
A primeira música de que se tem notícia, feita para homenagear o
Náutico, é o Timbu Coroado, surgido em fins da década de 30. Originalmente tratava-se
de um maracatu, composto por três remadores alvirrubros, o pianista Edvaldo
Pessoa, Samuel, também conhecido por Turco
ou Carioca, e Jair Barroso. A finalidade era mexer com a turma de remo do Sport.
Durante o Carnaval, a turma do remo rubro-negro enfronhava-se no maracatu Leão
Coroado. Este, com as mesmas cores do Leão da Ilha, é a mais antiga formação do
gênero no País, porquanto foi fundado em 1863.
(Leão Coroado era o apelido de José de Barros por causa dos cabelos
brancos encaracolados, que o faziam parecer um leão. Militar, foi ele que, ao
matar um superior a golpes de espada, precipitou o início da Revolução
Pernambucana de 1817). A turma do Timbu tinha o próprio maracatu.
Em 1942, percorrendo o centro do Recife (Arquivo do Blog) |
Nos primeiros tempos, a timbuzada
saía pelo centro da cidade, arrastando muitos adeptos do Alvirrubro. Com
o passar do tempo, o Timbu Coroado, de maracatu passou a troça, cresceu muito
em volume de foliões e atualmente já é considerado um bloco. Só que perdeu a
originalidade. Continua arrastando uma multidão de “fanáuticos” no domingo de
carnaval, mas agora circulando por algumas ruas adjacentes ao clube, no bairro
dos Aflitos. Edvaldo
Pessoa, um dos três autores da composição, que dá nome ao bloco, e com quem
convivi na antiga PRA-8, Rádio Clube de Pernambuco, disse-me certa vez:
– Eu, Samuel e Jair fizemos a música a toque de caixa, na nossa garagem, que
ficava junto de onde é hoje o Cinema São Luís. Era de lá que o Timbu Coroado
saía. O pessoal decorou logo e saiu cantando. Foi um sucesso. Falamos em
acordar cedinho porque remador treina de madrugada e ainda estava escuro quando
a gente entrava no Capibaribe, ali na frente, para treinar.
Confira a música:
O nosso bloco é mesmo
infezado (sic)
É o timbu, é o Timbu
Coroado
Desde cedinho já está
acordado
É o timbu, é o Timbu Coroado
Entre no passo, que esse
passo é de amargar
Essa turma é mesmo boa e
no frevo quer entrar
Não queira bancar o tatu
Eu conheço seu jeito, você é
timbu
Esse negócio de casá, casá,
casá
É conversa pra maluco
Ninguém quer se amarrar
Timbu sabe isso de cor
Casar pode ser bom
Não casar é melhor.
O
DIA EM QUE A PONTE TREMEU
A
rivalidade com o Sport, na água ou na folia, gerava gracejos e até ofensas de
um lado e de outro, se os dois grupos se encontrassem no périplo carnavalesco.
Mas não passava disso. Houve uma ocasião,
entretanto em que a coisa esquentou. Foi em 1969. O Náutico havia sido
hexacampeão pernambucano no ano anterior, decidindo com o Sport e conquistando
um título que ainda hoje é festejado em verso, prosa, música e lorota por sua torcida.
Conquista essa que foi perseguida infrutiferamente duas vezes pelo Sport, que
só chegou ao Penta (1996-2000 e 2006-2010) e uma pelo Santa Cruz, que também
parou no décimo título: 1969-1973.
Compositores alvirrubros Aldemar Paiva e Edvaldo Pessoa ladeando o tricolor João Valença e o rubro-negro Juvino Falcão (Arquivo do Blog) |
Naquele
Carnaval, a turma do Timbu Coroado aproveitou uma charge publicada pelo extinto
vespertino Diário da Noite, na qual aparecia um leão miando, e levou-a pelas
ruas da cidade, como estandarte. Os dois maracatus se encontraram em plena Ponte
Duarte Coelho, onde nos tempos atuais, durante o período dedicado a Momo,
reina, altaneiro, o gigantesco boneco que
simboliza o Galo da Madrugada. Alguém do Leão Coroado achou de rasgar a folha
do jornal que os rivais carregavam triunfalmente. Começou um tremendo buruçu,
com gente se engalfinhando e gente correndo para sair da confusão. Serenados os
ânimos, cada grupo tomou seu destino. Para usar o chavão popular, entre mortos
e feridos, todos escaparam. Houve um acordo de cavalheiros, mediante o qual, as
duas turmas passaram a fazer sua farra em dias diferentes, para evitar novos
sacolejos.
JOGANDO
POR MÚSICA
Nem só do Timbu
Coroado vive o Náutico. O Alvirrubro tem um incomparável acervo
musical. Muitas das músicas da atualidade, infelizmente desconhecidas porque o
frevo já não é executado como antigamente, e as autoridades pouco esforço fazem
para revigorá-lo, surgiram nos festivais promovidos pelo saudoso Raphael
Gazzaneo. Só no projeto Memória Alvirrubra foram produzidos quatro elepês. Isso
levava Raphael a se vangloriar do fato de, conforme suas pesquisas pessoais, o
clube dos Aflitos ser no Brasil a agremiação a ter o maior número de composições,
cantadas ou musicadas, a ele dedicadas.
Voltando ao passado, vamos encontrar Timbuate, do conhecido radialista
alagoano, de coração pernambucano, Aldemar Paiva. Com música do maestro Luiz
Caetano, o famoso locutor, durante décadas apresentador do programa radiofônico
“Pernambuco, Você é Meu”, compôs Timbuate, nos anos 50. Gravação de Claudionor
Germano, tão alvirrubro quanto Aldemar. Vejamos a letra:
Timbu, no céu, no lar
Timbu, meu sol, meu ar
Ene-a-u-tê-i-cê-o
Sou de verdade teu fã
Mais do que ontem
Menos que amanhã
II
Timbuate é um sonho
Encantamento
Carnaval, delícia de cores
Movimento
Ene-a-u-tê-i-cê-o
Sou nos esportes teu fã
Sou nos esportes teu fã
Mais do que ontem
Menos que amanhã
Timbu no céu no lar
Timbu, meu sol, meu ar
ATÉ PAI EDU
Em 1967, com o Náutico em
pleno apogeu, a dupla Ziul Matos e Nelson Ferreira voltou a produzir um
frevo-canção, feito especialmente para ser gravado pelo pai-de-santo Edu. O
Alvirrubro havia sido pentacampeão, e Edu se dizia responsável pelo feito, pois
estava sendo sempre requisitado pelo técnico Duque para fazer uma ‘limpeza’ no
elenco. Eis a música:
Dei o bi
Dei o tri
Dei o tetra
E o penta chegou
Ene-a-u-tê-i-cê-o, gol
É gol, é gol, é gol
O vermelho é bravura e
destemor
O branco é paz e é amor
Mas as duas cores juntas
Têm uma nova dimensão
Atenção, futebol do Brasil
Ene-a-u-tê-i-cê-o
Náutico, Náutico
Náutico é pentacampeão
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