Um burro sem identidade e outras histórias
Foto: Divulgação |
Por intermédio do amigo Antonio
Matos, cronista esportivo e delegado e polícia na Bahia, chega às minhas mãos a
bem elaborada primeira edição da MEMÓRIA DA IMPRENSA BAIANA. Trata-se de um
projeto da Associação Baiana de Imprensa (ABI), que em três números, cada um
com 12 personagens, entre proprietários de jornais, jornalistas, repórteres
fotográficos e radialistas relatam histórias desconhecidas do público ou conhecidas
sem o verdadeiro conteúdo. O modelo é tradicional perguntas e respostas.
Um milionário da Boa Terra
fala da aventura em que se meteu ao comprar o primeiro jornal em offset, o
Tribuna da Bahia, que estava no prejuízo e era considerado um reduto comunista,
abrigando até um guerrilheiro na sua equipe. Joaci Fonseca de Góes perdeu muito
dinheiro, mas eleito pela oposição aos governos militares, participou da
Assembleia Nacional Constituinte em 1988. Antes tinha um excelente relacionamento
com ACM (Antônio Carlos Magalhães) político e também dono de jornal, com quem
rompeu.
BURRO NÃO IDENTIFICADO
Na área da crônica esportiva
me deparo com Antonio Matos, editor da Tribuna da Bahia aos 20 anos e depois,
formado em Direito, delegado de polícia, sem que uma coisa atrapalhasse a
outra. Ele conta uma interessante história em que Quintino Carvalho, um monstro
sagrado do jornalismo baiano, tipo Esmaragdo Marroquim, no Recife, preparava os
futuros repórteres que atuariam na Tribuna. A eles era dada uma pauta para a
elaboração de matérias sobre fatos acontecidos na cidade.
– Um repórter de polícia – conta Matos – foi fazer uma matéria
e tinha uma carroça que bateu num ônibus, alguma coisa assim, na Sete Portas. E
ele abriu a matéria: “Um burro não identificado...” Quintino pegou a lauda
dele, colocou no mural e onde tinha o nome dele circulou e botou uma seta:
burro identificado.
O GOL QUE NÃO FOI GOL
O narrador José Athaíde, que
se orgulha de ter sido o primeiro arrendatário de esporte no rádio brasileiro,
tem uma passagem engraçada na sua vitoriosa carreira. Fugido de casa no interior
do Estado, ainda adolescente, em busca de uma oportunidade, estreou com 14
anos, como locutor esportivo no antigo campo da Graça, com iluminação precária,
segundo ele, transmitindo dez minutos de
um jogo Bahia x Rio Grande do Norte pelo Campeonato Brasileiro de Amadores.
“... A seleção baiana estava
empatada quando Marito avança, arremata de fora da área. E eu me abri: gol da
Bahia. Aí, os torcedores estavam assistindo à partida, a cabine da Excelsior
era no povo, olharam para cima assim... e eu tinha me equivocado. Esse foi o
momento mais difícil. Eu não perdi a estribeira. “Senhoras e senhores, me
desculpem. Essa é a primeira vez que estou narrando futebol, nunca entrei no
estádio, principalmente à noite. Houve um equívoco. A bola bateu na rede pelo
lado de fora, me desculpem”. E aí os espectadores bateram palmas.
PERNAMBUCANO ARRETADO
Jorge Sanmartin é outro valor da
velha guarda baiana. Trabalhou em rádios e jornais, tem livro escrito e muito o
que contar. Ele falou, entre outras coisas, da chegada dos radialistas e
jornalistas nordestinos junto aos calcanhares da Seleção Brasileira. A turma do
Centro-Sul, de cronistas a jogadores não via essa ‘intromissão’ com bons olhos,
conforme este episódio contado por Sanmartim:
– Luizinho, zagueiro da
Seleção em 82, foi dar uma entrevista pra um rapaz de uma rádio do Recife. E
Luizinho monossilábico: “Jogo difícil”. “E você como é que está, vai marcar
Paolo Rossi?” “É um grande atacante.” Numa hora ele parou e disse: “Você não é obrigado a dar entrevista. Se
não quiser dar, não dê.” Aí Luizinho falou pra ‘dedéu’ (gíria baiana) e deu a
entrevista.”
Comentários
Postar um comentário